Artigos

por Marcelo Teixeira

 

Os rejeitos e os efeitos brumosos


Aprendi com a Doutrina Espírita – e também com o ritmo da vida – que existe algo chamado lei de causa e efeito. Até com os desenhos animados eu aprendi isso. Lembro bem de um episódio da “Caverna do Dragão” em que o Mestre dos Magos diz aos protagonistas que tudo o que fazemos de bom ou ruim acaba voltando para nós, cedo ou tarde.

Também aprendi com o Espiritismo que existe um estado intermediário entre o corpo e o espírito. Chama-se perispírito (o prefixo “peri” vem do latim e significa em torno). O perispírito é uma espécie de indumentária do espírito e serve de ponte para comunicar ao corpo sensações que o Espírito sente. Além disso, no perispírito ficam registradas todas as nossas ações. Se eu prejudico ou beneficio a mim ou a outra pessoa, o perispírito registra. Por isso, quando morremos, somos imediatamente defrontados com nós mesmos por meio do que está carimbado nesse sutil corpo espiritual. Se nossa semeadura foi calcada no respeito, na ética e no bem comum (apesar de nossos altos e baixos), beleza! Se, contudo, me pautei por mau-caratismo, arrogância, egoísmo, ganância, falta de respeito aos semelhantes etc., lá vou eu arcar com as consequências de tanta sujeira.

Falando em sujeira, dá para limpar o perispírito? Claro! Para tanto, seria melhor sabonete, detergente ou um bom removedor? Nenhum deles. Nesses casos, apela-se para a reencarnação. O novo corpo que irá abrigar o espírito a partir da união entre óvulo e espermatozoide irá fazer o download dos arquivos do perispírito. Vai baixar essas marcas todas. As consequências são doenças, limitações, problemas psíquicos e congêneres. E também potencialidades desenvolvidas, realizações materiais e espirituais, no caso de boas semeaduras. Dessa forma, o perispírito vai se livrando das escaras por nós mesmos buscadas e também fazendo as virtudes virem cada vez mais à tona.

Estou dizendo isso tudo porque li no jornal “Folha de São Paulo” uma matéria que diz que a cidade de Brumadinho, recentemente vitimada pelo rompimento de uma barragem de rejeitos minerais, “pode ter surtos de dengue, febre amarela e outras doenças”, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Dias antes, no programa “Encontro com Fátima Bernardes” (TV Globo), o jornalista e ambientalista André Trigueiro chamou atenção para o mesmo problema. Além das doenças já citadas, decerto, segundo André, virão depressão, doenças cardiovasculares, problemas respiratórios devido aos moradores estarem respirando poeira tóxica... Isso sem falar nos danos ambientais à fauna, flora e águas fluviais.

Tragédias como as de Brumadinho e Mariana (2015), ambas em Minas Gerais, não foram acidentes. Foram crimes resultantes de descaso, lobbies financeiros e jurídicos, inépcia etc.. Portanto, há responsáveis que devem arcar com as consequências.

Geralmente, quando falamos em resgate de débitos contraídos em vidas passadas, tendemos a isolar o fato cometido. Ou seja, se eu matei alguém com um tiro no coração, na próxima encarnação terei um problema cardíaco que irá aparecer lá pelos 50 anos, irá me incomodar por um bom tempo e me levará a óbito. Com isso, ao regressar ao plano espiritual, o perispírito estará limpo. Só que, analisando-se as consequências materiais do assassinato, depreende-se que a questão é mais complexa. Se um pai, mãe, cônjuge ou filho da pessoa que eu matei adoeceu, passou necessidade ou até mesmo morreu devido ao assassinato por mim cometido, isso também ficará registrado no meu perispírito e requererá o concurso do tempo (talvez várias encarnações) para que a faxina perispiritual seja completa.

Fico, portanto, imaginando a situação espiritual dos advogados que vivem de jatinho para lá e para cá defendendo os interesses escusos das mineradoras; dos políticos que afrouxam a legislação; das autoridades que fazem vista grossa quando o assunto é fiscalizar e também dos donos das mineradoras, que passam por cima de quesitos básicos de segurança para auferir mais lucros.

E ponho-me a imaginar também na situação dos que desviam verba da saúde, educação e merenda escolar; dos que se locupletam em manter as pessoas ignorantes e mal informadas; dos que financiam o crime, o tráfico, a devastação ambiental e por aí vai. E como vai!

É por essas e outras que muitos seres humanos não saem do círculo vicioso das reencarnações dolorosas.

 

Bibliografia:

1- ESTARQUE, Marina – Brumadinho pode ter surto de dengue, febre amarela e outras doenças, diz Fiocruz. Disponível emhttps://goo.gl/KURjWv

2- Encontro com Fátima Bernardes, TV Globo, 31 de janeiro de 2019.

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita