Brasil
por Ana Teresa Moraes

Ano 12 - N° 607 - 24 de Fevereiro de 2019

 

Joanna de Ângelis e suas diversas passagens pelo nosso globo


Foi em fevereiro de 1822 que faleceu em Salvador (BA), aos 60 anos de idade, a sóror Joana Angélica de Jesus. Religiosa da Ordem da Imaculada Conceição de Maria, Joana morreu defendendo o Convento da Lapa em Salvador contra soldados portugueses contrários à independência do Brasil, proclamada no dia 7 de setembro daquele mesmo ano

Conforme fontes idôneas diversas, ela fora, na época de Jesus, Joana de Cusa, uma das mulheres que acompanhavam o Mestre no dia de sua crucificação, mas no meio espírita é conhecida como a mentora Joanna de Ângelis, orientadora da obra mediúnica de Divaldo Franco.

Segundo Divaldo Franco, em sua primeira manifestação, no dia 5/12/1945, Joanna de Ângelis se apresentou com o epíteto “um Espírito amigo”, que por muitos anos teria sido um pseudônimo utilizado por ela, inclusive no período da codificação da doutrina espírita, de que participou.

A ela são atribuídas, conforme o psicólogo e escritor Cezar Braga Said em seu livro Joanna e Jesus: Uma história de amor, além de sua encarnação como Joana de Cusa, as seguintes personalidades históricas:

1 - Clara de Assis (1194-1253), que viveu no século XIII, seguidora de São Francisco de Assis e fundadora da Ordem das Clarissas.

2 - Juana Inés de la Cruz (1651-1695), pseudônimo religioso da poetisa mexicana Juana de Asbaje.

3 - Joana Angélica de Jesus (1761-1822), sóror e depois abadessa que protagonizou doloroso episódio que culminou sua morte, por ocasião dos acontecimentos pertinentes à independência do Brasil.

Juana Inés de la Cruz

Em março de 2016 foi exibida na TV mexicana a série Juana Inés, criada por Patricia Arriaga Jordán, baseada na vida e obra de Sóror Juana Inés de la Cruz. A série encontra-se disponível na Netflix, em nosso país, desde janeiro de 2017.

Filha de pai basco e mãe indígena, natural de Nepantla, no México, onde nasceu em 1651, Juana Inés de Asbaje y Ramírez de Santillana entrou para a história como Sóror Juana Inés de la Cruz, uma freira da Ordem das Jerônimas, considerada a mente mais brilhante de sua época. Seus poemas, assim como suas peças de teatro e escritos dedicados aos mais variados temas, eram consumidos pela corte espanhola e também pelos vice-reis que governavam a Nova Espanha, como se intitulava o México de então.

Ainda criança, fascinada pelas letras, ao ver sua irmã aprender a ler e escrever, enganou a professora e disse-lhe que sua mãe mandara pedir-lhe que a alfabetizasse. A mestra, acostumada com a precocidade da criança, que já respondia as perguntas que a irmã ignorava, passou então a ensinar-lhe as primeiras letras.

Juana começou a fazer versos aos 5 anos. Aos 6 anos, dominava perfeitamente o idioma pátrio, além de possuir habilidades para costura e outros afazeres comuns às mulheres da época. Aos 12 anos, morando na capital, Juana aprendeu latim em 20 aulas, e português, sozinha. Além disso, falava nahuatl, uma língua indígena.

O Marquês de Mancera, querendo criar uma corte brilhante, na tradição europeia, convidou a menina-prodígio de 13 anos para dama de companhia de sua mulher.

Na corte encantou a todos com sua beleza, inteligência e graciosidade, tornando-se conhecida e admirada por suas poesias, ensaios e peças bem-humoradas. Um dia, o vice-rei resolveu testar os conhecimentos da vivaz menina e reuniu 40 especialistas da Universidade do México para interrogá-la sobre os mais diversos assuntos. A plateia assistiu, pasmada, àquela jovem de 15 anos responder, durante horas, ao bombardeio das perguntas dos professores.

A série exibida pela Netflix inicia-se com Juana adolescente e em busca de um lugar na corte, onde, segundo sua tia, poderia “arranjar um marido”. Pobre e sem apoio, ela tornou-se dama de companhia da vice-rainha da Nova Espanha, Leonor, a Marquesa de Mancera, e sonhou com a universidade, tendo cogitado vestir-se de homem para assistir às aulas. Leu os clássicos gregos e romanos, livros de teologia e estava também inteirada do que a ciência de então produzia.

Algum tempo depois, a fim de se dedicar mais aos estudos e penetrar com profundidade no seu mundo interior, numa busca incessante de união com o divino, ansiosa por compreender Deus através de sua criação, resolveu ingressar no Convento das Carmelitas Descalças, aos 16 anos de idade.

Desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à Corte.

Seguindo orientação de seu confessor, foi para a ordem de São Jerônimo da Conceição, que tinha menos obrigações religiosas, podendo dedicar-se às letras e à ciência. Aí tomou o nome de Sóror  Juana Inés de la Cruz.

Na sua confortável cela, cercada por inúmeros livros, globos terrestres, instrumentos musicais e científicos, Juana estudava, escrevia seus poemas, ensaios, dramas, peças religiosas, cantos de Natal e música sacra. Era frequentemente visitada por intelectuais europeus e do Novo Mundo, intercambiando conhecimentos e experiências.

A linda monja era conhecida e admirada por todos, sendo seus escritos popularizados não só entre os religiosos, como também entre os estudantes e mestres das Universidades de vários lugares. Era conhecida como a “Monja da Biblioteca”, que se imortalizou também por defender o direito da mulher de ser inteligente, capaz de lecionar e pregar livremente.

Em 1695 houve uma epidemia de peste na região. Juana socorreu durante o dia e a noite as suas irmãs religiosas que, juntamente com a maioria da população, estavam enfermas. Com a doença, foram morrendo, aos poucos, uma a uma de suas assistidas, e quando não restava mais ninguém, ela, abatida e doente, tombou vencida, aos 44 anos de idade.

Joana Angélica de Jesus

Passados 66 anos do seu regresso à Pátria Espiritual, Juana Inés retornou, reencarnando na cidade de Salvador, Bahia, em 1761, como Joana Angélica, filha de uma abastada família.

Aos 21 anos de idade ingressou no Convento da Lapa, como franciscana, com o nome de Sóror Joana Angélica de Jesus, fazendo profissão de Irmã das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição.

Foi irmã, escrivã e vigária, quando em 1815 tornou-se abadessa e, no dia 20 de fevereiro de 1822, defendendo corajosamente o Convento, assim como a honra das jovens que ali moravam, foi assassinada por soldados que lutavam contra a Independência do Brasil.

Nos planos divinos, já havia uma programação para esta sua vida no Brasil, desde antes, quando reencarnara no México como Sóror Juana Inés de La Cruz. Daí, sua enorme facilidade para aprender português.

O fato é que nas terras brasileiras estavam reencarnados, e reencarnariam brevemente, Espíritos ligados a ela, almas comprometidas com a Lei Divina, que faziam parte de sua família espiritual e aos quais desejava auxiliar.

Dentre esses afeiçoados a Joanna de Ângelis, destaca-se, entre outros, Amélia Rodrigues, educadora, poetisa, romancista, dramaturga, oradora e contista.

Joanna na espiritualidade

Quando, na metade do século 19, as potências do Céu se abalaram, e um movimento de renovação se alastrou pela América e pela Europa, fazendo soar aos “quatro cantos” a canção da esperança com a revelação da vida imortal, Joanna de Ângelis integrou a equipe do Espírito de Verdade, para o trabalho de implantação do Cristianismo redivivo, do Consolador prometido por Jesus.

No livro Após a Tempestade, em sua última mensagem, referindo-se aos componentes de sua equipe de trabalho, diz ela:

“Quando se preparavam os dias da Codificação Espírita, quando se convocavam trabalhadores dispostos à luta, quando se anunciavam as horas preditas, quando se arregimentavam seareiros para a Terra, escutamos o convite celeste e nos apressamos a oferecer nossas parcas forças, quanto nós mesmos, a fim de servir, na ínfima condição de sulcadores do solo onde deveriam cair as sementes de luz do Evangelho do Reino”.

No livro O Evangelho segundo o Espiritismo encontramos duas mensagens assinadas por “Um Espírito amigo”. A primeira, no cap. IX, item 7, com o título “A paciência”, escrita em Havre, 1862. A segunda, no cap. XVIII, itens 13 e 15, intitulada “Dar-se-á àquele que tem”, psicografada no mesmo ano que a anterior, na cidade de Bordéus.

No mundo espiritual, Joanna estagia numa bonita região, próxima da crosta terrestre.

Segundo Divaldo Franco, quando vários Espíritos ligados a ela, antigos cristãos equivocados, se preparavam para reencarnar, reuniu a todos e planejou construir na Terra, sob o céu da Bahia no Brasil, uma cópia, embora imperfeita, da Comunidade onde estagiava no Plano Espiritual, com o objetivo de, redimindo os antigos cristãos, criar uma experiência educativa que demonstrasse a viabilidade de se viver numa comunidade, realmente cristã, nos dias atuais.

Espíritos gravemente enfermos, não necessariamente vinculados aos seus orientadores encarnados, viriam na condições de órfãos, proporcionando oportunidade de burilamento, ao tempo em que eles próprios se iriam liberando das injunções cármicas mais dolorosas e avançando na direção de Jesus.

Engenheiros capacitados foram convidados para traçarem os contornos gerais dos trabalhos e instruírem os pioneiros da futura Obra. Quando estava tudo esboçado, Joanna procurou entrar em contato com Francisco de Assis, solicitando que examinasse os seus planos e auxiliasse na sua concretização, no plano material.

O “Pobrezinho de Deus” concordou com a Mentora e se prontificou a colaborar com a Obra, desde que “nessa Comunidade jamais fosse olvidado o amor aos infelizes do mundo, ou negada a Caridade aos 'filhos do Calvário', nem se estabelecesse a presunção que é vérmina a destruir as melhores edificações do sentimento moral".

Quase um século se passou quando os obreiros do Senhor iniciaram na Terra, em 1947, a materialização dos planos de Joanna, que inspirava e orientava, secundada por Técnicos Espirituais dedicados, que espalhavam ozônio especial pela psicosfera conturbada da região escolhida, onde seria construída a “Mansão do Caminho”, nome dado em alusão à “Casa do Caminho” dos primeiros cristãos.

Nesse ínterim, os colaboradores foram reencarnando, em lugares diversos, em épocas diferentes, com instrução variada e experiências diversificadas, para, aos poucos e quando necessário, serem “chamados” para atender aos compromissos assumidos na espiritualidade.


 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita