Artigos

por Maria de Lurdes Duarte

 

A ideia de Deus


Parte 2 – Lei de Reencarnação, imprescindível acreditar


Na sequência do artigo publicado anteriormente, intitulado “A ideia de Deus, Parte 1 – Impossível não acreditar”, foram desenvolvidas algumas reflexões conducentes à importância de, livres de dogmas e conceitos estabelecidos por uma fé cega, irmos ao encontro da ideia de Deus, e abrirmos o coração e o entendimento à impossibilidade da sua inexistência.

Posto isto, e fazendo jus à fé raciocinada que se impõe como única válida, importa percebermos que Deus é este em que efetivamente acreditamos. Mais uma vez, vamos apelar aos critérios de análise apresentados n’O Livro dos Espíritos, obra esteio da Codificação Espírita e de toda a crença fundamentada na Doutrina dos Espíritos.

Dizem-nos os Espíritos que os atributos que, por enquanto, estão ao alcance do nosso entendimento são os inerentes a um Deus eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, todos eles em grau supremo, já que, de outro modo, sempre haveria a possibilidade de uma outra entidade os possuir em grau superior e essa, sim, seria Deus.

É nesse Deus de infinita sabedoria, soberanamente justo e bom que acreditamos. Nem de outro modo poderia ser.

Permanecem, entretanto, algumas questões não solucionáveis pelas religiões e filosofias tradicionais. Partindo do princípio de que fomos criados no momento do nosso nascimento ou, quando muito, no momento da concepção, como pode ser entendida a Justiça Divina? São tantas e inumeráveis as situações mais díspares com que nos deparamos ao longo da vida, se lançarmos um olhar medianamente atento em nosso redor! Guerra, fome, dor, sofrimento, mortalidade infantil e juvenil, violência doméstica, toxicodependência, assédio, doença, suicídio, desemprego, emigração ilegal, fuga dos países de origem com riscos da vida, crime, pobreza extrema, discriminação, trabalho e exploração infantil, desrespeito pelos direitos humanos, cataclismos naturais…

Todo este rol de situações desesperantes coabita, às vezes, mesmo ao lado, com a riqueza, a suntuosidade, o luxo, o orgulho racial, a alegria, a saúde, a prosperidade, a realização de sonhos e projetos, a tecnologia, os avanços na saúde que a investigação científica faculta, as facilidades no estudo, os avanços da intelectualidade, as mais belas produções literárias e artísticas a atestar apuramento da sensibilidade humana…

Percebemos facilmente que algumas destas situações têm a mão direta de quem sofre os reveses, ou seja, evidenciam a colheita inerente aos erros cometidos ao longo da vida. Mas nem sempre é assim, como facilmente se constata. Quantas pessoas cuidadosas com a sua saúde, comedidas na alimentação e sem vícios evidentes são as mais doentes… Quantas pessoas bondosas e possuidoras de visível virtude são as mais sofredoras e vítimas das maiores injustiças. Pelo menos, no que nos é dado ver e perceber… E, como dizia o poeta português, Augusto Gil, “Mas as crianças, Senhor, por que lhes dais tanta dor?!”…

Poderemos, de algum modo, sem pôr em causa os reconhecidos atributos de Deus, aceitar que tudo fica exclusivamente dependente do lugar, da família, do meio social, da época, que nos serviu de berço? Por outras palavras, atribuir tudo exclusivamente à sorte/azar?

Por outro lado, perante idênticas dificuldades e reveses, encontramos pessoas que de tudo colhem as maiores lições, amadurecendo diante dos problemas que enfrentam com coragem, fé, resignação, sabedoria, valorizando as pequenas coisas boas e pequenas felicidades que encontram ao longo da vida, evidenciando uma sabedoria de vida que deixa transparecer aprendizagens anteriores. Encontramos, a par dessas, pessoas para quem o mais pequeno entrave às suas intenções e projetos constitui uma tragédia, pessoas que não encontram em si nem na fé que dizem possuir a força necessária ao prosseguimento da caminhada, às vezes diante de pequenos contratempos, e se deixam absorver pelo desespero e até pela desistência da vida.

De onde vêm tão diferentes olhares sobre o mundo e a vida, tão diferentes perspectivas sobre um mesmo problema, forças tão opostas na forma de encarar e resolver? Apenas da educação, do meio em que se vive? E o que define as condições e o meio em que se nasce, se fomos todos criados para uma única vida, com início no nascimento e termo na morte do corpo? À personalidade? Mas como se desenvolveram essas diferenças de personalidade? Por que vemos crianças de tenra idade detentoras de uma força interior que não vemos em certos adultos, sendo quantas vezes, elas mesmas que fortalecem e animam os familiares perante doenças graves que as acometem? Onde vão buscar essa força? Se é Deus quem lhas dá, por que não a dá a todos?

Como poderemos entender um Deus Sábio e Justo que cria as Suas criaturas sabendo de antemão que elas estarão sujeitas a todo o tipo de sofrimentos, de que não têm culpa, e mesmo assim lança-as num mundo, tempo, lugar… que lhes são completamente adversos? E que, ainda mais grave, não dá a todas as mesmas oportunidades de vencer? E mesmo assim, espera que essas mesmas criaturas emanadas do seu Amor creiam Nele incondicionalmente, e depositem nele toda a esperança de um mundo e um tempo em que a felicidade surgirá?

Este tipo de fé cega, em que nada é explicado e que não admite ser questionada, levou a um estado de descrença que está a alastrar pela Terra. A humanidade aflita e sem respostas, não podendo mais continuar a acreditar num Deus que não entende, e que lhe parece parcial, desumano e injusto, lamentavelmente começa a optar pela conclusão de que não existe Deus nem ninguém responsável pela nossa existência ou a quem dar contas. A partir desse pressuposto, é um “salve-se quem puder; estamos aqui é para aproveitar; este mundo são dois dias”.

Não podemos deixar de responsabilizar as religiões tradicionais, com os seus dogmas, mistérios e, principalmente, com a imposição da ideia de uma existência única, após a qual se colhe o castigo ou o prêmio, num céu ou inferno em que, na verdade, também já ninguém acredita.

Apenas uma crença baseada no conhecimento e no perfeito entendimento da Lei de Reencarnação, tal como nos é apresentada em O Livro dos Espíritos, nos incute a verdadeira responsabilidade dos nossos atos, responsabilidade essa que se perpetua muito para além dos anos, mais ou menos longos, desta existência atual. E em que todo o conhecimento e virtude adquiridos numa etapa existencial contribuem para a identidade e personalidade do Ser Espiritual e imortal que somos.

Perante o entendimento desta Lei Divina, a que não podemos fugir jamais, porque não é uma questão de crença (crendo ou não, todos estamos sujeitos a ela, como a todas as Leis Divinas), compreendemos o peso que tem a sementeira que hoje fazemos, pois tudo terá repercussão na colheita futura. Perante isto, esvai-se a ideia de injustiça, sorte, azar, já que todos estamos colhendo o que semeamos. E todos estamos, simultaneamente a semear e a cuidar da plantinha que há de germinar e dar frutos no futuro. Diz o povo que “o futuro a Deus pertence”. Mas, mais apropriadamente, deveremos tomar consciência de que esse futuro, se realmente a Deus pertence,  é também construído por nós a cada passo da caminhada. Caminhada que teve início em eras que só Deus conhece, e que se prolongará pela eternidade, através das várias reencarnações que, no seu todo, constituem a Vida.

Só deste modo é possível acreditar verdadeiramente, de coração e entendimento, nesse Deus de Amor, e evoluir através do cumprimento das Suas Leis Sábias e Justas. Para aceitar e entender Deus é imprescindível aceitar e entender a Lei de Reencarnação.

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita