Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Rever conceitos


A alegria não está nas coisas, está em nós.
 Goethe


Para muitos pais, criança não sofre, não guarda mágoa ou ressentimentos de situações dolorosas vividas. Muita gente pensa que a criança vive num mundo de brincadeiras, fantasia, alienadas dos acontecimentos cotidianos. A realidade de um terapeuta, no entanto, revela o contrário: a criança está articulada ao mundo, ao seu contexto diário, e todo sofrimento percebido nos entes queridos (ou causado por eles) a afeta profundamente, suas emoções, seu comportamento, sua maneira de pensar/sentir a si mesma e ao entorno que a cerca.

Por ter uma forte sensibilidade sensorial e afetiva, a criança é capaz de captar estados emocionais e as alterações de humor das pessoas com quem convive diariamente e, já na infância, toma isso para si como se ela fosse a origem da infelicidade ou dos problemas dos pais.

Uma criança pode, por exemplo, desenvolver medos persistentes como uma forma de enfrentar um pai violento, ou ser muito responsável, assumindo tarefas em casa para proteger os irmãos, solidarizando muitas vezes com uma mãe submissa. 

Nós, adultos, embora nem sempre reflitamos de maneira profunda, carregamos uma história pessoal e ensinamos nossos filhos de acordo com nossa própria biografia, valores e crenças. Se acertamos muitas vezes, de outro lado cometemos também muitas falhas e que podem fazer muito mal às crianças.

Qual é o existir natural de uma criança? É ser a criança alegre, aventureira, cheia de ânimo.  No dia a dia, movida por curiosidade, brincar, sorrir, espantar-se. Também é natural uma criança sentir frustração, colocar-se bastante triste com a perda de seu bicho de estimação, com a mudança de escola, com a morte de um ente querido… No entanto, quando a tristeza perdura em uma criança, guiando seu modo de estar no mundo (atitudes em casa, atividades na escola…), essa criança pode estar a sofrer, no contexto do seu lar,  negligência ou desvalorização, por exemplo.

Por sua vez, uma criança que é compreendida, escutada e valorizada, está fortemente conectada com suas emoções e em consequência contará com uma rotina mais harmônica. Por isso, pais, é necessário avaliarmos sempre nossas emoções, nossas ações, ou seja, refletir com cuidado sobre nosso comportamento doméstico e rever conceitos, atitudes, sempre que isso for necessário. Se os adultos sabem como cuidar uns dos outros, as crianças crescem nesse ambiente e, de maneira espontânea, aprendem a amar, entender e fazer uns aos outros felizes… 

Não há perfeição, sabemos disso, e não há uma receita. Além disso, generalizar implica dar espaço para injustiças, pequenos ou grandes sofrimentos. Contudo, com disposição e atenção, sempre podemos refletir a eficácia de nossos métodos ou nossa forma de educar as crianças, buscando ajuda se for útil à harmonia da própria dinâmica familiar. Afinal, já dizia Maria Montessori, “a prova de sucesso da nossa ação educativa é a felicidade da criança”.

 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita