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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 
Por que temer a morte?


Há poucos dias atrás uma famosa septuagenária atriz “global”, em entrevista em rede nacional, na qual admitia estar padecendo de leucemia linfocítica crônica, desabafou:

- "Eu tenho pavor de morrer. Acho que se a morte chegar eu vou esbofeteá-la".

A pobre mulher ainda manifestou o seu receio de precisar trocar fraldas, de ficar dependente, desempregada, de enfrentar a solidão, e, finalmente, da sua vergonha de ficar doente (sic). Cumpre inicialmente mencionar que o seu problema de saúde é passível de tratamento quimioterápico ou até mesmo transplante de células-tronco. Aliás, a medicina hodierna tem dado passos largos no tratamento de tais moléstias. Assim sendo, é provável que, num futuro não muito distante, o câncer venha a ser completamente curável nas suas mais variadas e letais modalidades.

No entanto, morrer é um imperativo, assim como nascer. Já dizia Allan Kardec, com muita propriedade: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. Não há como fugir disso! A nossa hora de partir rumo à dimensão espiritual chega dia mais, dia menos. A finitude da vida corpórea é facilmente constatável. Mas, paradoxalmente, ainda existem pessoas nesse mundo – provavelmente em grande número – que relutam em aceitar esse fato. Sofrem absurdamente com a simples perspectiva da morte... Certamente, é o caso dessa celebridade. A sua longa existência para os padrões atuais não foi suficiente – pelo que se depreende da sua declaração – para aparelhá-la para o virtual retorno à verdadeira vida.

Pode-se inferir que o seu conhecimento acerca da imortalidade da alma é, na melhor das hipóteses, mínimo. Mas como temer a morte se ela é inexorável? Como “esbofeteá-la” se ela é invencível? Como se apavorar diante de algo absolutamente lógico dentro das leis naturais? Tais receios, convenhamos, soam pueris.

Ademais, já que não se pode alterar o inevitável, então, é melhor encará-lo com discernimento e sabedoria. No estágio atual da humanidade, o tema da espiritualidade – felizmente – está sendo amplamente descortinado por várias áreas do saber. Em outras palavras, todos nós estamos tendo acesso a conteúdos reveladores sobre a continuidade da vida. No que concerne à doutrina espírita, o Espírito Emmanuel esclarece, na obra Coragem (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que “Se crês em Deus, caminharás sem aflição e sem medo, nas trilhas do mundo, por maiores surjam perigos e riscos a te obscurecerem a estrada, porquanto, ainda mesmo à frente da morte, reconhecerás que permaneces com Deus, tanto quanto Deus está sempre contigo, além de provações e sombras, limitações e mudanças, em plenitude de vida eterna”.

Eis aí a questão-chave: crer em Deus. Desse modo, urge introduzi-lo em nossas vidas a fim de que sejam mais ricas e proveitosas. Viver uma existência relativamente longa sem cogitá-lo é desperdiçar a oportunidade de conhecer a própria essência. Assim sendo, buscar Deus em nós é tarefa impostergável. 

Observa ainda Emmanuel que “Muitos nascem e renascem no corpo físico, transitando da infância para a velhice e do túmulo para o berço, à maneira de almas entorpecidas no egoísmo e na rebelião, na ociosidade ou na delinquência, a que irrefletidamente se acolhem”.

Desse modo, quando chega à velhice é preciso estar em paz consigo mesmo, ciente de que a escola da vida foi bem aproveitada em termos de aprendizados e entendimentos para que a morte seja encarada com suavidade e serenidade. Em vez de repudiá-la, é melhor assimilá-la para que ela não nos machuque por causa da nossa rebeldia e ignorância. Ficar atado a um corpo combalido e/ou inerme sem necessidade não constitui uma decisão inteligente.

Por isso, recomenda Emmanuel com precisão: “Lembra os talentos com que Deus te enobrece o sentimento e o raciocínio, o cérebro e o coração e, fazendo verter o brilho do bem, através de teu verbo e de tuas mãos, desperta e vive, para que, das experiências fragmentárias do aprendizado humano, possas, um dia, alçar voo firme em direção da vida imperecível”.

Não chegaremos a tal condição se não nos curvarmos perante a morte com humildade e sentimento de dever cumprido tantas vezes quantas forem necessárias. Por fim, a rigor, só deve realmente temer a morte quem desfruta de uma vida vazia, superficial, errática ou desligada das coisas sérias.
 

  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita