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por Claudio Viana Silveira

 

Moeda expectativa


“O desapontamento recebido com fervorosa coragem é trabalho de seleção do Senhor em nosso benefício.”
 (Emmanuel)


Escrevemos, também, para aproveitamento dos outros. É comum, entretanto, e porque nossos ouvidos são os mais próximos, dirigirmo-nos a nós próprios.

Hoje, de forma especial, quando estudamos expectativas, que Emmanuel aborda em forma inversa, como desapontamento, dirijo-me, exclusivamente (e perdoem-me o entrevero pronominal), aos “meus ouvidos...”

Possuímos a disfarçada mania de nos preocuparmos com “deus e todo mundo”. Na verdade, interpomos, aos outros, nossas interferências – o que é diferente de colaboração – para que deles possamos vir a cobrar algo; é a “moeda expectativa”, relacionada aos nossos mais diversos círculos:

Daquele amigo que julgamos haver nos traído a confiança: confiança essa por nós superestimada.

Dos que ombreiam conosco em trabalhos diversos e dos quais desejamos a perfeição.

De nosso cônjuge, que talvez mantenhamos uma expectativa máxima. Aproveitando-nos do dia dos namorados hoje comemorado, e muitas vezes o consideramos nossa propriedade: num primeiro instante ele é “a nossa namorada, ou o nosso namorado”. Mais tarde, “a nossa noiva, ou o nosso noivo”. E, finalmente, num extremismo, ela é “a nossa esposa”, ou “o nosso esposo”. Esquecemo-nos, por inteiro, da individualidade do Espírito; e que ele e ela são, e tão somente, nossos parceiros, auxiliares e instrumentos de caminhada.

Quanto aos filhos, atingimos o exagero, expressando-nos: “filho é sempre filho, não importa a idade!”. Apegados a tal chavão, ignoramos que eles se tornaram adultos e possuem suas próprias expectativas. Quando deveríamos considerar-nos felizes por nos presentearem com os netos, “indolores, gratuitos”, tal qual um combustível, gracioso em tempos de gasolina, álcool e diesel caros.

Mantemos expectativas até sobre nossos feitos; e aqui talvez a moeda mais vil que possa se nos apresentar: a do reconhecimento.

Quando o melhor dos amigos, dos trabalhadores, do cônjuge, dos filhos nos decepciona – desaponta-nos –, quando não reconhecem nosso esforço, vem-nos à mente logo a traição e, não, um trabalho de seleção do Senhor em nosso benefício.

Se nos decepcionam, ou se não satisfazem nossas expectativas, é possível que não se constituam, ainda, nosso melhor amigo, trabalhador, parceiro, cônjuge, filho. Ou que nosso “dever tenha deixado a dever!”.

Porque há muita disparidade entre o patamar evolucional dos Espíritos, alguns afinarão conosco; outros nem tanto! Afinal, somos 7,6 bi de almas diferentes nesta Escola chamada Planeta Terra.

Precisamos, então, de uma fervorosa coragem para entender tais desapontamentos aqui estudados como expectativas.

E essa fervorosa compreensão - e coragem - é o entendimento do livre-arbítrio daqueles que nos cercam; mesmo se constituindo eles em amigos, trabalhadores, cônjuges, filhos... e mesmo que no cumprimento de nossas obrigações estejamos, apenas, saldando débitos.

Tais criaturas, porque muito próximas a nós, passam-nos ainda despercebidas como “indivíduos individuais”.

* * *


“Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? (Lucas, 11, 11). Também no sentido das expectativas, nosso Pai que está nos Céus estará realizando a nosso favor esse trabalho de seleção.

Se a moeda expectativa nos cega, quem dela não for um escravo, que veja!

(Sintonia: Xavier, Francisco Cândido, Fonte Viva, ditado por Emmanuel, Cap. 141,Renova-te sempre, 1ª edição da FEB.)



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita