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por Rogério Coelho

 
Pluralidade das existências


Em diversas ocasiões Jesus proclamou a sucessão dos nascimentos


"Se a reencarnação não existisse, fora mister inventá-la para a felicidade do gênero humano.-  O Livro dos Espíritos, q. 222.


Por mais paradoxal que possa parecer, existe verdade que é aparentemente inverossímil... Lemos na questão 480 de O Livro dos Espíritos"As maiores verdades estão sujeitas a parecer absurdos uma vez que se atenda à forma, ou se considere como realidade a alegoria. Compreendamos bem isto e não o esqueçamos nunca, pois que se presta a uma aplicação geral”.

Se Jesus afirmou[1] que nos emanciparíamos a partir do conhecimento da Verdade, com toda razão Allan Kardec pergunta aos Espíritos Amigos[2]"por que a Verdade não foi posta ao alcance de toda gente?" 

E a resposta não se fez esperar: - "importa que cada coisa venha a seu tempo. A Verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, ele ficaria deslumbrado.

Deus jamais permitiu que o homem recebesse comunicações tão completas e instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia na antiguidade alguns indivíduos possuidores do que eles próprios consideravam uma Ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que, aos seus olhos, eram tidos por profanos. Pelo que conhecemos das leis que regem esses fenômenos, devemos compreender que esses indivíduos apenas recebiam algumas verdades esparsas, dentro de um conjunto equívoco e, na maioria dos casos, emblemático.   Entretanto, para os estudiosos, não há nenhum sistema antigo de filosofia, nenhuma tradição, nenhuma religião que seja desprezível, pois em tudo há germens de grandes verdades que, se bem pareçam  contraditórias entre si, dispersas que se acham em meio de  acessórios  sem fundamento, facilmente coordenáveis se nos apresentam, graças  à explicação que o Espiritismo dá de uma imensidade de coisas que até  agora se nos afiguravam sem razão alguma e cuja realidade está   hoje irrecusavelmente demonstrada.

Um sorriso zombeteiro escapa dos lábios daqueles que ainda não teceram mais profundas ilações acerca da palingenesia, quando tal assunto vem à baila.

Malgrado as objeções dos adversários da insofismável realidade [reencarnação], reencarnaremos sempre, até atingirmos o nível no qual esse processo evolutivo será dispensado. Isto é simples questão de lógica, deduzida até mesmo das próprias palavras do Cristo que em muitas ocasiões proclamou a sucessão dos nascimentos, quer no célebre diálogo com Nicodemos[3], quer na constatação que João Batista era Elias reencarnado[4], quer no Sermão da Montanha[5] quando afirma o Mestre que da "prisão" não nos será lícito sair enquanto não resgatarmos o último ceitil, isto é, da condição de Espíritos sujeitos à reencarnação até que todos os débitos sejam quitados.

Outrossim, podem partir nossos raciocínios das premissas de que Deus é infinitamente bom e Justo e que os desníveis e desigualdades verificados hoje entre Suas criaturas sendo tão variados e imensos, nos levam a concluir que só mesmo a reencarnação poderá equacionar e conciliar situações tão [aparentemente] discrepantes. Ante todas essas circunstâncias não há como - fatalmente - não desembocar na reencarnação, único meio de explicar e clarear os múltiplos problemas de ordem moral, filosófica e material à nossa volta.

Mesmo fazendo abstração de tudo que até aqui foi mencionado, vamos a outra linha de raciocínio para ver aonde levam as conclusões: Inicialmente, consideremos as coisas do ponto de vista de quem não tem noção da existência dos Espíritos. Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, perguntamos:

        1º. - Por que a alma mostra aptidões tão diversas e independentes das ideias que a educação lhe fez adquirir?

        2º. - Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida toda?

        3º. - Donde, em uns, as ideias inatas ou intuitivas que noutros não existem?

        4º. - Donde, em certas crianças o instinto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?

        5º. - Por que, abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados do que outros?

        6º.   - Por que há selvagens e homens civilizados?  

Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas?   É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por que, entre elas, tão grande diversidade de aptidões? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas, então, achamo-nos em presença da mais monstruosa e imoral das doutrinas:    O homem seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria de ter   a responsabilidade de seus atos, pois que poderia atribuir tudo às imperfeições físicas. Se as almas são desiguais, é que Deus as criou assim.  Nesse caso, porém, por que a inata superioridade concedida a algumas? Corresponderá essa parcialidade à justiça de Deus e ao amor que Ele consagra igualmente a todas as criaturas?

Admitamos, ao contrário, uma série progressiva de existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: são mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida.  

Deus, em Sua justiça, não pode ter criado almas desigualmente perfeitas. Com a pluralidade das existências, a desigualdade que notamos nada mais apresenta em oposição à mais rigorosa equidade: é que apenas vemos o presente e não o passado.

Segundo o Espiritismo - cuja amplitude excede a tudo que se conhece – “não há muitas espécies de homens, há tão somente homens cujos Espíritos estão mais ou menos atrasados, porém, todos suscetíveis de progredir. Não é este princípio mais conforme à justiça de Deus?"

Basta compulsarmos a Bíblia com "olhos de ver" para tropeçarmos, a todo momento, com a reencarnação:  - A Parábola do Filho Pródigo, por exemplo, nos revela a porta sempre aberta a qualquer um que queira retornar de seus caminhos equivocados.

O final do Velho Testamento faz conexão com o início do Novo Testamento respectivamente com uma profecia e sua constatação a respeito da reencarnação de Elias/João Batista. Diz Malaquias (4:5): "Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor”.

Registra Lucas o diálogo do Anjo Gabriel com Zacarias, Pai de João Batista, anunciando-lhe o nascimento do filho, fazendo menção a Elias (Lc., 1:17): "E irá adiante dele no Espírito e virtude de Elias, para converter os corações...".

Sobre a reencarnação, ensina Joanna de Ângelis: 

"(...) A reencarnação constitui bênção para o Espírito calceta, facultando-lhe ensejo nobre para reerguer-se e avançar, considerando-se que a perfeição não tem limite; dádiva do amor divino para a felicidade de todos os Espíritos na fatalidade de atingir a glória estelar que nos aguarda”.        

 

[1] - João 8:32.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 628.

[3] - João, 3:3.

[4] - Mt., 17:12 e 13.

[5] - Mt., 5:26 .


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita