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por Marcos Paulo de Oliveira Santos

 

Processo eleitoral e a Paz


O processo eleitoral no Brasil deveria ter sido pautado pela serenidade e o discernimento. Isto, se cumprido, permitiria analisar de modo acurado os programas de governo dos candidatos e escolher com sabedoria aquele (ou aquela) melhor qualificado e com projetos exequíveis para o bem coletivo.

Entretanto, durante o pleito, observaram-se condutas reprocháveis; o analfabetismo político acachapante; as ofensas por meio das redes sociais; os xingamentos; os escárnios e deboches; o acentuado índice de notícias falsas. E na esteira desse processo turbulento havia muitos espiritistas, lamentavelmente.

Dominadas por discursos violentos, por promessas absurdas e audaciosas, a turba se deixa levar, facilmente, pela irreflexão e pela paixão. E a gênese desse problema está em grande medida no enciclopedismo superficial da educação formal, além, claro, da precária educação moral; com as exceções compreensíveis.

Agora, passada a azáfama das eleições, respeita-se a escolha democrática e deseja-se que o país seja guiado da melhor maneira possível.

Mas há um aprendizado a ser retirado dessa balbúrdia: a urgência em se atuar com coragem e pela paz de espírito, tendo por bandeira o bem comum.

No seu tríplice aspecto, o Espiritismo possui uma vertente filosófica que pode muito contribuir para a Teoria Política, no sentido de sermos uma sociedade mais justa, igualitária, amorosa, pacífica. Posicionar-se, portanto, no bojo da sociedade é demonstrar compromissos com os objetivos abraçados.

Kardec perguntou aos imortais: Por que, neste mundo, os maus exercem geralmente maior influência sobre os bons?

E eles responderam: "Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Estes, quando o quiserem, assumirão a preponderância”.(Questão 932, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.)

Ora, não é demais se questionar: Onde os espíritas diante dos absurdos cometidos no decurso do processo eleitoral brasileiro?

Estavam a trocar ofensas em redes sociais ou estavam a contribuir para que tivéssemos um pleito justo e pacífico?

Numa análise perfunctória, pode-se notar a timidez de muitos em se posicionar politicamente, como se houvesse qualquer erro nesse sentido.

Há que se separar o Espiritismo, enquanto doutrina, que é apolítica, do espírita que é um ser social, inserido em determinado país e que, conhecedor das leis, tem o direito de se manifestar politicamente.

Mas observou-se também que muitos não quiseram ser um porta-voz da paz no campo da violência; da união no território da desunião; em esperança no cenário de desolação, enfim.

Sem qualquer laivo de ser a “verdade” sobre os demais cidadãos, o espírita, pelo conhecimento adquirido na magna Doutrina, pode convidar os irmãos e irmãs ao bom senso, por meio de exemplos e palavras amorosas, reflexivas e profundas para que se tenha um pleito democrático, pacífico, o mais cordial possível. É preciso convidar as pessoas a agirem mais racionalmente e não de modo apaixonado. E a entenderem a gravidade do momento político (do direito de votar e ser votado e dos impactos das leis em nossas vidas). Esperamos que nos próximos pleitos tenhamos discussões/debates mais elevados e calcados na caridade.

Não se pode compactuar com o erro, tampouco silenciar diante das injustiças e violências.

Estes apontamentos singelos não pretendem ser dicas jactanciosas, mas lembretes que devem pautar a prática de todos os espíritas.

Não se pode ignorar também as preciosíssimas lições do Espírito André Luiz, em Conduta Espírita, no que tange à Política, tampouco os ensinamentos do Cristo.

Por fim, devemos ter mais coragem de nos posicionarmos criticamente sobre a realidade social. E entendermos a política como um poderoso instrumento de transformação social. Não podemos esquecer figuras importantes como José de Freitas Nobre, Bezerra de Menezes, Cairbar Schutel, todas espíritas, mas que tiveram contatos e deram suas contribuições ao mundo político. 

 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita