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por Ricardo Orestes Forni

 
O real sentido


Estava um amigo com meio milheiro de tijolos para transportar da calçada para dentro do terreno da sua casa onde realizava uma reforma do prédio.

Vendo o esforço que despendia revelado pelo intenso suor e a respiração ofegante, propus-me a aliviar o seu trabalho colaborando na tarefa.

Assim que iniciei meu trabalho, ele se recostou sobre uma árvore com sombra frondosa e ficou olhando o meu esforço.

Parei o auxílio e indaguei a ele se não ia continuar com o serviço. Ele me respondeu que não, já que eu estava transportando os tijolos para ele. Imediatamente cessei a minha colaboração esclarecendo-lhe que havia me proposto a aliviar o serviço que cabia a ele realizar. Já que não continuaria a trabalhar, eu também encerrava minha cota de colaboração.

Outro dia o mau entendimento ocorreu em casa onde minha esposa estava muito atarefada cuidando dos deveres do lar, que eram muitos. Preocupava-se com a roupa que necessitava de ser lavada e depois passada, com a preparação do almoço já que receberíamos visita, com a limpeza dos banheiros e me propus a aliviar o serviço colaborando com ela.

Evidentemente que aceitou com grande satisfação e, para meu espanto, assim que comecei a ajudá-la, sentou-se numa confortável poltrona enquanto contemplava o meu trabalho com as coisas da casa.

Parei o que estava fazendo para aliviá-la e perguntei-lhe se não ia continuar trabalhando também. Ela me respondeu calmamente que não, porque eu estava fazendo o serviço por ela.

São duas situações hipotéticas que descrevi para raciocinarmos sobre uma passagem do Evangelho de Jesus.

O verbo aliviar, que pode ser transitivo direto e/ou indireto, possui o sentido de atenuarreduzir o pesotornar mais leve.

Foi exatamente isso que Jesus quis nos dizer na passagem do Evangelho no capítulo VI, quando nos fala no jugo leve.

“Vinde a mim, todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei.”

Sabemos muito bem que a caminhada evolutiva é obra intransferível de cada Espírito individualmente. Assim como a mãe não pode transmitir o ensinamento para o filho que começa a aprender a andar, andando por ele, Jesus, por mais que nos ame como já provou isso sobejamente, pode nos proporcionar alívio, mas não realizar a obra da nossa redenção.

No livro Vinde A Mim, de Irmão José, capítulo 20, psicografia de Carlos Baccelli, ele nos esclarece alguns pontos interessantes dessa passagem do Evangelho.

“Com tais palavras, Jesus não está nos prometendo o que Ele não pode cumprir, em substituição ao nosso esforço pessoal.

Eximir alguém da prova indispensável ao seu progresso seria o mesmo que negar ao aprendiz acesso aos bancos escolares, condenando-o à eterna ignorância.

Revivendo a Mensagem Cristã, o Espiritismo não nos acena com as teorias ilusórias que, com a finalidade de ganhar adeptos, outras crenças religiosas formulam a quem não possui suficiente maturidade para entender que o Espírito é o construtor do próprio destino.

Não esperemos, portanto, que o Senhor ou os seus Prepostos descruzem os braços por nós e nos poupem do trabalho intransferível que, a fim de obter o que desejamos, cada um de nós somos chamados a executar.”

Sem nenhuma dúvida quanto a esses ensinamentos. Enquanto no plano espiritual e, portanto, desencarnados, nos é apresentado todo um programa de trabalho que temos condições de realizar, a Justiça Divina, que nos conhece de maneira total, jamais colocaria sobre nossos ombros a tarefa que não temos condições de dar cumprimento. Jamais depositaria em nossos ombros uma cruz cujo peso fôssemos incapazes de carregar.

O grande problema é que, mergulhando na carne, somos convidados a gozar a vida porque, como dizem, ela é muito curta, o tempo passa muito rápido.

Na posse desse raciocínio imediatista, buscamos uma religião que se transforme em um hotel cinco estrelas onde os Espíritos desencarnados mais evoluídos realizem o trabalho que assumimos na dimensão espiritual, realizando a tarefa aceita por nós, em nosso lugar, ou, como somos muito benevolentes, livrando-nos das provas e expiações programadas, para nos encontrar com a devida lição de que necessitamos.

Ledo engano! Tudo em vão! Se pensamos que assim acontece, podemos arrumar uma rede para esperar deitados pela desencarnação que nos apresentará uma pesada conta assumida perante o banco da consciência e que não recebeu a devida quitação enquanto jornadeávamos pela escola da Terra.
 
 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita