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por Bruno Abreu

 
É assim que eu sou!


Podemos verificar em nós, como um termômetro medidor de sofrimento, através de alguns parâmetros de nosso ser, o que nos reserva o futuro em termos de felicidade.

A árvore mais forte, na verdade, não é a árvore grande, porque mesmo esta tem um limite de resistência e acima dele o vento arranca-a, mas é a árvore que se verga, que é maleável e consegue juntar-se ao chão, abrigando-se neste quando a necessidade o exige.

Conosco acontece o mesmo, o homem mais forte não é o intransigente, mas aquele que tenta entender o ponto de vista dos outros, que consegue sair de seus parâmetros mentais e tem a humildade de construir um raciocínio em conjunto com o outro, mesmo que a partida já lhe pareça errada. Este homem está em constante aprendizado, evoluindo com o movimento da vida, e como não permanece agarrado a parâmetros mentais, não corre o risco de estagnar.

A intransigência está ligada à indignação, quanto maior a intransigência mais rápida e forte aparece a indignação.

A intransigência é uma forma de falta de tolerância perante as situações da vida, falta de tolerância ao que é diferente daquilo que ele idealiza ou aos parâmetros de sua forma de estar. Estas pessoas são chamadas de forte caráter, porque normalmente isto está associado a uma forma de ação de parâmetros reduzidos segundo os seus princípios ou vontades perante a vida. Quando falo de parâmetros reduzidos, não me refiro ao ser certo ou errado, mas a uma forma de ação limitada a um ponto de vista individual que, para aquele indivíduo, lhe parece certo, como é óbvio.

O que é o certo e o errado?

O certo e o errado estão sempre ligados a determinados parâmetros medidores. Podem ser os de uma sociedade, de um grupo ou de uma pessoa.

No caso de uma pessoa, o que acontece com todos nós, o certo e o errado são o final de um raciocínio lógico trabalhado por determinada pessoa, ou seja, o final da medição mental de determinado raciocínio, através de parâmetros próprios, que foi trabalhado numa equação que nos parece a correta. Como poderemos explicar a uma pessoa um ponto de vista diferente do dela se, cada vez que explicamos, ela automaticamente volta às suas imagens mentais que a levam à sua razão?

Não estou a falar de determinadas pessoas mas de um determinado ser, o ser humano, todos nós.

“Por isso lhes falo por meio de parábolas; porque, vendo, não enxergam; e escutando, não ouvem, muito menos compreendem.”  (Mateus 13)

Jesus alertou-nos disso há dois mil anos. Passado este tempo, ainda não conseguimos descobrir o embuste causado pelo Ego nos seus parâmetros de construção da realidade em nossa mente, chocando com os outros que pensam de forma diferente de nós, ou seja, chocando com todos porque não há duas pessoas que pensem de forma igual, e as que pensam de forma idêntica, muitas das vezes, também entram em confronto de conhecimento porque, como animais territoriais no campo da razão, não permitimos que esta taça seja entregue a outra pessoa se não a nós.

A razão é extremamente saborosa ao nosso Ego, ele apega-se desde pequeno porque nos traz uma sensação de “quem sabe”, que se torna uma forma de poder, aumentando nosso orgulho que, por sua vez, dá-nos uma segurança ilusória na vida. Aqui jaz o gosto pela discussão que se dá no ser humano.

Eu diria que é como convencermo-nos a atravessar o oceano Atlântico num barco a remos criando a ideia, sentados lá dentro em terra firme, que vai ser fácil.

O nosso termômetro da felicidade é a intransigência ou as ideias fixas perante a vida, quanto maiores, mais fortes forem, maior será a indignação, maior e mais constante será o sofrimento.

Como poderemos ver o nosso grau de intransigência, falta de tolerância ou teimosia?

Será que o poderemos ver por nós próprios?

Será que seguindo o raciocínio que nos leva à intransigência, que nos dá a ideia de que é a melhor forma de lidar com a vida, chegaremos à visão de que somos intransigentes? Penso que por isso continuamos sem nos apercebermos da trave no nosso olho, um jogo difícil e vicioso.

Se queremos uma resposta honesta perguntemos a quem nos rodeia, mas é necessário termos a humildade de receber a resposta sem maltratarmos ninguém, senão, mais vale seguirmos o nosso próprio raciocínio porque esse já nos tem levado à saborosa “razão”.
 

  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita