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por Vladimir Alexei

 
A mediunidade e a má-fé: um conto paranormal


No dia em que os espíritas comemoram o nascimento de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, em Riacho do Sangue, agreste do Ceará, evoco a lembrança desse Espírito do bem, para contar-lhes um caso.1

A Groenlândia, região pertencente à Dinamarca, situada ao Norte, considerada a maior ilha do mundo, possui um grupo de médiuns, trabalhadores da paranormalidade, desejosos de trazer esclarecimentos a todos os povos.

Seus médiuns sentiam-se como se fossem emissários do próprio Criador. Cocriadores da mais alta estirpe espiritual. E levavam esse trabalho a sério. Os trabalhos transcorriam dentro da normalidade habitual de um lugar gelado, triste, aparentemente sem fatos relevantes no cotidiano da cidade. Algo bem diferente da ebulição espiritual existente no lugar. Se houvesse, no mundo espiritual, um “centro de convenções” para reunir Espíritos manipuladores, irônicos, perversos, ali seria o lugar em que todos estariam. Talvez fosse por isso que os médiuns se sentiam importantes: eles percebiam, espiritualmente, a oportunidade de ajudar aquelas “almas” – doutrinariamente “alma”, é expressão usada quando o Espírito está encarnado, mas esse é um conto paranormal, baseado em fatos reais, se é possível classificá-lo assim...

Por não terem estudos aprofundados e não conhecerem os lastros espirituais que envolvem suas conexões e trabalhos mediúnicos, aos poucos alguns desses trabalhadores começaram a demonstrar fragilidades. Trabalhadores em diversas profissões, pais de família, pessoas comuns. Entretanto, se usássemos algum instrumento que pudesse revelar a essência espiritual (algo que medisse a intensidade de suas vibrações, semelhante aos instrumentos de termografia a laser que captam o calor, por exemplo), perceberíamos que os médiuns viviam uma dupla jornada. Uma verdadeira usina de forças, emitindo e recebendo vibrações das mais diversas. Algumas dessas energias eram familiares, mesmo que eles ignorassem. Isso ocorre com todos: desconhece-se, muito, das tendências e aptidões, que mascaram pensamentos e sentimentos e depois não aceitam as companhias espirituais.

A fragilidade dos seus trabalhos alcançou limites extremos. Os médiuns da Groenlândia não sabiam que, mesmo que o telefone tocasse de lá para cá, é papel do médium estabelecer limites para que a qualidade do trabalho seja sustentada. A mediunidade na Groenlândia era usada, da forma mais absurda possível. Os médiuns não se dedicavam a uma vida serena, equilibrada. Isso não quer dizer contemplativa. Quem vive de contemplação é planta. Viviam os arroubos da fama, narrando “quadros”, sensibilizando pessoas, como se estivessem em contato com os Espíritos daqueles entes queridos e sofredores. Em uma boate, altas horas da noite, em meio a bebidas, drogas lícitas e ilícitas, os médiuns ligavam suas antenas psíquicas e começavam a falar sobre apocalipses, trevas, dores e privações de todos que estavam no local.

Sem estudo, julgando-se cocriadores, os médiuns mantinham jornadas intensas de intercâmbio. A situação piorou como nunca antes havia sido registrado. As casas em que os médiuns trabalhavam começaram a ser assediadas por toda parte. Uma guerra espiritual. Cooperadores dos médiuns, voluntários e outros que trabalhavam no marketing pessoal dos médiuns começaram a se afastar e, como em uma cena de seriado da Netflix, sempre que isso acontecia, algo de ruim também acontecia com esses ex-cooperadores. As infiltrações, que antes gotejavam, passaram a apresentar rupturas ainda maiores. Uma orquestração de infiltrações se instaurou na Groenlândia, lugar pródigo na produção de médiuns.

O que os Espíritos manipuladores não perceberam, engolfados na vaidade e no orgulho de manipularem, a bel-prazer, aqueles médiuns que se permitiram a esse papel – não há como culpar os Espíritos, somos responsáveis por nossos atos –, era que os Espíritos superiores estavam presentes, observando toda movimentação.

Os médiuns até questionavam, em seus poucos momentos de lucidez: - por que os Espíritos superiores permitem que essas mazelas aconteçam? Porque existe o livre-arbítrio, a liberdade que temos para agir de acordo com as tendências e intenções que nos dirigem a alma. Faz parte da natureza humana, novamente, que exista o intercâmbio! Não há motivos para suspender uma faculdade cujo benefício primeiro e maior é a de auxiliar no reequilíbrio do próprio médium.

Movimento orquestrado significa movimento organizado, onde várias ações ocorrem ao mesmo tempo. Articulando do mundo espiritual, Espíritos orgulhosos e vaidosos estimulavam, de forma sutil, os médiuns a se sentirem importantes, já que, do ponto de vista material, possuíam as mesmas virtudes dos demais, eram pessoas comuns, sem destaque e nem projeções. Destacar-se, seja no mundo material ou espiritual, o princípio é o mesmo: muito esforço, resignação, renúncia, renúncia e mais renúncia a muito daquilo que desperta o prazer momentâneo.

Essa ideia de renúncia não era muito a praia dos médiuns da Groenlândia. Se fosse no Brasil diríamos que “enquanto existir cavalo, São Jorge não anda a pé”. Assim viviam os médiuns, até que esse grupo de médiuns que mais se destacavam começou a apresentar sérios problemas. Não deram conta do destaque que eles mesmos provocaram. Se iludiram radicalmente. Foram privados de sanidade mental. Viviam vegetando em meio a orquestrações de pensamentos perigosos de dor e sofrimento, colocando-se, inclusive, como vítimas, perseguidos e pobres coitados. Não eram todos. Alguns possuíam escola doutrinária. Mas esse grupo, em particular, deu trabalho. A situação ficou insustentável, em uma dimensão inimaginável, a ponto de um dos Espíritos superiores presentes manifestar-se, por intermédio de um médium de pouca credibilidade social.

No início da mediunidade, muitos até questionam receber ou não mensagens de Espíritos superiores. Outros só recebem mensagens de Espíritos superiores... enfim... o Espírito superior disse: - que a Luz Divina do Bom Senso e da Gratidão se faça presente nesse recinto.

O pronunciamento da entidade assemelhava-se a uma narrativa bíblica do antigo Testamento: recheada de simbolismos e metáforas para que os seres ignotos ali presentes pudessem perceber, de acordo com sua bagagem, a mensagem do Espírito que desejava apenas colocar a bola no chão dos médiuns que se achavam a última bolacha do pacote.

Continuou o Espírito: - à medida em que o Espírito progride, em sucessivas reencarnações de aprendizado, suas experiências, provações e expiações tornam-se tão refinadas quanto tem sido a maledicência armazenada no próprio ser.

O esquecimento do passado ocorre, como proposta educativa a iluminar os corações naqueles pontos em que é necessário rever conceitos. Manifesta-se, invariavelmente, por tendências que são articuladas e construídas no decorrer do tempo, sejam em diversas vidas ou na própria existência terrena.

Por tudo que o ser já viveu, ainda que não consiga perceber por que não exercita o autoconhecimento, a sofisticação das ações ditas das trevas não passa da manifestação e exaltação do próprio ego.

O que adianta perceber quadros do mundo espiritual, se não aplica as benesses da mediunidade para iluminar o próprio ser? Para que construir impérios materiais, que a traça e a ferrugem destruirão com o tempo, quando o convite da vida é para o fortalecimento do Ser, tornando-nos melhores, principalmente para nós mesmos?! Por que escusar-se em obras assistencialistas e com isso cobrar por aquilo que recebestes de graça? Um sábio (Léon Denis) já disse que o médium não tem motivo algum para envaidecer-se, já que seu papel é ser apenas intermediário na comunicação.

Ser missionário, meus caros, é tarefa que todos almejam, por um dia terem, na esteira do tempo, convivido, ainda que apenas em uma existência, sem contato direto, com seres missionários. A presença deles é marcante em nossas vidas. Sejam missionários cuja missão maior envolva o despertar do próprio coração.

Essa comunicação, que vos deixo, não vem carregada do cheiro da sacristia porque, quando encarnado, não era a minha forma de agir. E pela autenticidade que sempre tive, e paguei preço alto por ela, compartilho com vocês, no desejo sincero apenas que vocês reflitam, sem querer mudar a ninguém, que todo esse circo que vocês construíram não passa de manifestação do orgulho. Orgulho ferido, meus queridos. Orgulho por ser humilhado por não ter nada material, por ser pobre, ignorado, apagado ante as luzes do mundo. As luzes do mundo são da ilusão e o que vocês estão fazendo com suas mediunidades é isso: iludirem-se.

Como que em um passe de mágicas, após a comunicação do Espírito superior, os médiuns conseguiram perceber que tudo que estavam fazendo, todos os contatos espirituais de quadros mais coloridos e inspiradores não passavam de projeções, com requintes de sofisticação, da própria mente, em um animismo nefasto, projetado exponencialmente pela própria mente a demonstrar que estavam em fuga da vida social irresponsável que construíram, cheia de compromissos assumidos a partir da mediunidade, obrigando-os a sustentarem uma pose e um status que não condizem com a faculdade que lhes foi concedida. 

Pergunte se aprenderam a lição? 

Claro que ainda não! A Groenlândia continua pródiga em produzir médiuns que acreditam na própria desfaçatez de suas ilusões e ainda continuam abocanhando recursos materiais dos menos avisados que não estudam as obras doutrinárias (existem obras de Kardec traduzidas para o inglês e eles têm facilidade com esse idioma naquela Ilha).

A tarefa de aprender chegou para alguns daqueles médiuns. Mas outros insistem em ensinar... ensinar o que ainda não aprenderam...

 

Este artigo foi escrito no dia 29 de agosto de 2018; daí a referência feita a Adolfo Bezerra de Menezes.


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita