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por Wellington Balbo

 
O que devemos, nós, esperar diante da vida?


É muito comum considerarmos que por ocuparmos esta ou aquela posição, fazer parte desta ou daquela família, religião, país, ou estar nesta ou naquela condição devemos experimentar algum “privilégio” na passagem por este mundo.

Um favor dos “céus” aqui, uma “facilitada” “acolá” ou, quem sabe, uma “carteirada” da espiritualidade para que sejamos beneficiados de alguma forma. Afinal, merecemos, praticamos o bem, passamos um tempo na igreja, centro, templo e, segundo nossa visão, ficamos quites com o Pai do Céu, o que nos possibilitaria alguns benefícios extraordinários.

Quando não somos atendidos, frequentemente exclamamos: Nossa! Mas eu fiz tanta coisa, ajudei tanta gente e recebo isto da vida?

E fulano, então? Ótima pessoa, vejam o que ocorreu com ele! Ah, dizem alguns, vida ingrata!

A questão 625 de O Livro dos Espíritos, em que os invisíveis apontam ser Jesus o modelo de comportamento a que o homem deve aspirar na Terra é das mais interessantes. E esta questão é, também, por uma série de razões, reveladora do que o homem pode esperar em sua passagem pela Terra. Vou me ater apenas a um ponto.

Sendo Jesus o ser mais evoluído que aqui esteve, o que lhe ocorreu? Teve, por acaso, uma estrada repleta de alegrias e gente grata por tudo quanto ele fez pela humanidade? Acaso Jesus teve tranquilidade para ministrar sua mensagem? Estenderam-lhe o tapete vermelho dando-lhe boas-vindas? Certamente você, leitor e leitora, conhecem bem a saga de Jesus, o que lhe fizeram. Creio ser, portanto, desnecessário trazer aqui detalhes da traição, negação por parte dos amigos, crucificação, calvário etc. Como se costuma dizer: a vida de Jesus não foi bolinho. Alguns poderão discordar dizendo que Jesus veio dar o exemplo, por isso passou por todos aqueles constrangimentos. Esqueçamos, então, Jesus. Vamos para os grandes missionários, mas que estão, numa escala, abaixo do Galileu.

Como morreu Mahatma Ghandi? Ironia do destino, pereceu seu corpo físico justamente da forma contrária a que devotou sua vida. Pregou a paz, desencarnou pela violência, assassinado. O que dizer, então, de Chico Xavier, o brasileiro do século? Não obstante sua bondade e dedicação ao próximo, teve a existência marcada pela ingratidão de alguns familiares, amigos próximos, limitações físicas e financeiras. Ao invés de tecer reclamações, informava ser grato às dificuldades, pois graças a elas conseguiu avançar.

Basta uma pálida observação na vida de grandes figuras da humanidade para constatar que, apesar da enorme missão, não contaram com nenhum tipo de privilégio ou regalia. Ao contrário, tiveram de “ralar” um bocado para atingir seus objetivos, ultrapassar barreiras quase intransponíveis, testar a capacidade de resignação, ressignificar suas vidas diante dos percalços, enfim, trabalhar o Espírito para que pudessem sair vitoriosos.

Até porque é sabido que as facilidades acabam por distrair as pessoas dos objetivos que vieram desempenhar no mundo. Quando estamos ali, imersos em alguns desafios, não nos sobra tempo para desvio, perda de focos sempre tão prejudiciais. Claro que poderia ser diferente, ou seja, facilidades deixarem as coisas ainda mais fáceis. Contudo, em boa parte dos casos não é assim, e as facilidades tornam-se caminhos para dificuldades no porvir.

Como diz o jargão popular: mar calmo não faz um bom marinheiro.

Pois sim, se não teve privilégio para o maior de todos, Jesus, o que devemos, nós, ainda distantes da qualidade moral de Jesus, esperar diante da vida e seus desafios?

Fica a indagação para refletirmos.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita