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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Autoridade legítima


Um confrade muito estimado em nosso movimento espírita foi alçado a um cargo de alta posição hierárquica em uma Universidade pública federal. Ao ser indagado por que aceitara tal tarefa administrativa, na medida em que era um cidadão plenamente realizado do ponto de vista pessoal, familiar, profissional e religioso, ele respondeu:

– Estou cansado de ser mandado por quem é pior do que eu!

O fato nos leva a refletir sobre a grave questão da autoridade humana, e Kardec não se omitiu, dando o seu parecer. Ao examinar, n’O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, a passagem evangélica da mulher adúltera, colocou que autoridade legítima é a que se apoia no exemplo que dá do bem. E acrescentou que a consciência íntima nega respeito e submissão voluntária àquele que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios que está encarregado de aplicar.

Todos temos nos submetido (involuntariamente e a contragosto) a dirigentes de conduta ética pouco recomendável, e não poderíamos agir de outra forma. A insubmissão civil levaria a sociedade para a anarquia, à balbúrdia e à violência. Mas, intimamente, sonhamos com o fim de todos esses desmandos.

Obviamente, que a convivência obrigatória com a perversidade humana faz parte das experiências de crescimento em um orbe de provas e expiações, mas sempre podemos reduzir a influência do mal agindo de forma elevada. Mostra André Luiz (Entre a terra e o céu, cap. I) que o mal é sempre um círculo fechado sobre si mesmo, guardando temporariamente aqueles que o criaram, qual se fora um quisto a dissolver-se à medida que se reeducam as almas que a ele se aglutinam e afeiçoam. Deus tolera a desarmonia a fim de que, por intermédio dela mesma, se efetue o reajustamento moral dos Espíritos que a sustentam.

Kardec aborda ainda o tema, no cap. VII do E.S.E., ao afirmar que, estando em expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo contato de seus vícios, mas acrescenta, de forma consoladora, que quando estiverem cansados de sofrer devido ao mal, buscarão o remédio no bem.

Para dissolvermos, portanto, o “quisto” da autoridade nefasta, nos compete pautar nossas atitudes em uma ética universal da criatura humana, respeitando os princípios da honestidade, justiça e fraternidade. Não inserirmos em nossa vida as práticas perniciosas que condenamos nos dirigentes e não nos negarmos a participar dos processos de escolha, fazendo-o de forma altruísta e abnegada.

Quando solicitaram ao filósofo grego Tales de Mileto uma regra de bem agir, ele disse:

– Nunca faças o que te desagrada ver os outros fazerem.

Atuando sempre assim, amealharemos créditos para um dia – oxalá seja breve – possamos ser mandados por quem é melhor do que nós.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita