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por Bruno Abreu

  

Vivências, emoções e outras coisas


As emoções quando movimentam nosso ser e nos fazem agir já são uma onda que nos eleva e obriga a tirar os pés do chão.

Nesta imagem o chão é a vontade própria que nos dá a capacidade de agir perante a razão, a água é a vida em si e a onda a emoção; quando ela passa, consoante o seu volume, movimenta-nos, obrigando-nos a levantar os pés do chão abandonando a razoabilidade,  abanando-nos.

Toda a onda começa em um pequeno movimento que vai aumentando de volume e velocidade conforme avança, e esta é a semelhança com a emoção que vai aumentando até se aproximar do ponto de percepção e ser descoberta.

Quanto mais distraídos estivermos maior será o seu volume envolvente na altura da percepção. A dimensão da emoção ou a surpresa na hora de nos apercebermos faz com que sejamos enrolados com maior ou menor intensidade.

Muitas das vezes só nos apercebemos deste envolvimento quando já estamos na ação, não conseguimos dar conta através dos pensamentos ou das sensações que despertam no corpo, e perguntamo-nos como chegamos àquela situação, que já é um efeito à minha ação.

Não estranhem por mencionar que poderíamos dar conta do crescente movimento através das sensações, a ciência hoje explica-nos que as células do corpo muitas vezes já deram conta de determinada emoção sem que tenhamos essa percepção consciente em nossa mente.

Alguns dias levantamo-nos e nossos familiares ou amigos percebem que estamos a ter um dia mau muito antes de nós, através das nossas ações que demonstram claramente uma irritação ou ansiedade. Nós não damos conta de nosso estado interior, passa-nos de tal forma despercebido que entramos em pântanos doentios mentais, como depressões, sem nos apercebermos, e mantemo-nos nesse estado psíquico por inconsciência da situação, ajudando a aumentar os números de estatísticas que elevaram a depressão para a doença do século.

Estes dias demonstram claramente a dificuldade que temos em adquirir consciência do nosso estado mental, que muitas das vezes estamos enrolados nas ondas emocionais e nem nos apercebemos, por isso ser necessário “batermos no fundo” para que o choque nos possa chamar a atenção e aí se inicia o período de ascensão; essa é a vantagem do “fundo”, não temos mais para onde descer, naquela situação ou naquela altura da vida porque a vida é de ondas, nada nos imuniza totalmente de voltar a ir abaixo em outras situações ou noutras alturas, por ser tão rica em vicissitudes.

Como poderemos dar conta de nosso estado mental ou emocional se temos tanta dificuldade em nos apercebermos? Como poderemos ver-nos a nós próprios?

Na minha opinião são a mesma pergunta e a resposta não é assim tão difícil. Se temos dificuldade em seguir o conselho de Jesus “…vigiai e orai…” porque quem vigia é quem está a vivenciar, então poderemos nos ver ao espelho. Não é o que fazemos quando queremos ver o nosso aspecto biológico? Olhamos num espelho onde reflete a nossa imagem.

Como poderemos nós nos vermos no espelho mental ou psíquico?

O espelho tem que estar fora de mim, do outro lado, e apresenta um reflexo de minha imagem, neste caso, meu estado psíquico.

A dificuldade não é encontrarmos o espelho, mas ela nasce por não querermos ver. Imaginem eu chegar ao pé de um espelho normal, olhar para minha imagem refletida e ver uma nódoa na camisa e afirmar “esta nódoa está no espelho e não em mim”.

Onde poderei encontrar tal espelho?

O espelho do nosso estado emocional são os outros, a vida. Tudo o que nós fazemos regressa a nós. Se maltrato alguém, esse alguém demonstra-me maus sentimentos, se acarinho alguém recebo carinho, se estou nervoso acabo por deixar os outros nervosos, se sou agressivo recebo agressividade; se sou egoísta, que é dividir-me dos outros, acabo por ficar sozinho.

Neste espelho a vida reflete, através do que vivencio, o que sai de dentro de mim.

Este é o primeiro espelho mental no qual nos poderemos ver mas a dificuldade é que nós vemos o cisco no olho do outro e não conseguimos ver a trave em nosso e acabamos por culpar os outros.  Temos muita dificuldade em perceber que o que a vida nos traz, através dos outros e das diversas vivências, ocorre como reposta à nossa forma de viver, por isso o homem agressivo está sempre envolvido em agressividade, e, o homem calmo, pela paz.

O segundo espelho que poderemos utilizar, que é uma extensão do primeiro ou o seu complemento, é a forma como vemos as coisas. Se eu vejo muita agressividade é porque o foco de minha visão está na agressividade, ou seja, a pessoa agressiva passa o dia a pensar que os outros a desafiam, o simples erro do outro foi feito propositadamente para o irritar, no entanto, a pessoa calma é paciente e não vê de propósito os erros dos outros. A forma como vemos a vida informa-nos o nosso interior.

Por que temos tanta dificuldade em usar estes “espelhos mentais”?

Para usarmos estes “espelhos” é necessária a coragem para que nos queiramos ver sem fugir. Olharmo-nos de frente de forma nítida, aceitando como somos na realidade, aproximando a forma como nos vemos àquilo que somos.

Será que estamos dispostos a olhar?

  

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita