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por Rogério Coelho

 

habitação e o habitante


Prescindindo da espiritualidade, o homem esbarra em dificuldades insuperáveis


“Na Casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse

assim, eu vo-lo teria dito, vou preparar-vos lugar.” - Jesus. (Jo., 14:2.)


Afirma Léon Denis[1] que “o segredo do destino é a construção do próprio ‘eu’, sua individualidade através dos milhares de vidas passadas em centenas de mundos e sob a direção de nossos irmãos mais velhos, de nossos amigos do Espaço, escalar os caminhos do Céu, arrojando-nos cada vez mais para cima, abrir um campo de ação cada vez mais largo, proporcionado à obra feita ou sonhada, tornamo-nos um dos atores do drama divino, um dos agentes de Deus na obra eterna. Trabalhar para o Universo como o Universo trabalha para nós”.

Os Espíritos apontam[2] entre outros fins para a reencarnação, “(...) o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhes toca na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. E assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Vislumbramos, portanto, à nossa frente, um vasto horizonte, uma imensa estrada evolutiva a trilhar. Vem a Doutrina Espírita nos conscientizar de nossa responsabilidade individual nesse infinito processo como copartícipes da Criação. Assim, é da Lei que a habitação guarde uma certa identidade com o habitante. Tal habitante, tal Orbe!

Também[3], “do ensino dado pelos Espíritos, resulta que muito diferentes umas das outras são as condições dos mundos quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes. Nos mundos inferiores, a existência é toda material, reinam, soberanas, as paixões, sendo quase nula a vida moral. À medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual.

Embora se não possa fazer dos diversos mundos uma classificação absoluta, pode-se, contudo, em virtude do estado em que se acham e da destinação que trazem, tomando por base os matizes mais adiantados, dividi-los, de modo geral, como se segue:

Mundos Primitivos – destinados às primeiras encarnações da alma humana;

Mundos de Provas e Expiações – onde domina o mal;

Mundos de Regeneração – onde as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta;

Mundos Ditosos – onde o bem sobrepuja o mal;

Mundos Celestes ou Divinos – habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem.

Estamos, agora, em condições de traçar um paralelo entre o corpo perecível e o Espírito imortal onde este é o habitante e aquele a morada. Da mesma forma, a “habitação” (corpo físico) guarda relação como o “habitante” (Espírito imortal).

Aprendemos com Kardec[4]“a considerar-se senão a matéria, abstraindo do Espírito, o homem nada tem que o distinga do animal. Tudo, porém, muda de aspecto, logo que se estabelece distinção entre a habitação e o habitante”.

O Espírito é tudo; o corpo é simples veste que apodrece.[5]

Ensina, ainda, o Mestre Lionês[6]:“(...) quando, em um mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado, onde adquiram novos conhecimentos e assim por diante, até que, não lhes sendo mais de proveito algum a encarnação em corpos materiais, passam a viver exclusivamente da vida espiritual, na qual continuam a progredir, mas noutro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade. Admitidos nos Conselhos do Onipotente, conhecem-Lhe o pensamento e se tornam Seus mensageiros, Seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob as suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.

A coletividade dos Espíritos constitui, de certo modo, a Alma do Universo. Por toda parte, o elemento espiritual é que atua em tudo, sob o influxo do pensamento divino. Sem esse elemento, só há matéria inerte, carente de finalidade, de inteligência, tendo por único motor as forças materiais, cuja exclusividade deixa insolúveis uma imensidade de problemas. Com a ação do elemento espiritual individualizado, tudo tem uma finalidade, uma razão de ser, tudo se explica. Prescindindo da espiritualidade, o homem esbarra em dificuldades insuperáveis”.

Quando a “habitação”, (planeta e corpo físico), já não estiver em correspondência com o progresso que haja alcançado o Espírito (habitante), ele, (o Espírito),emigrará daquele meio, para encarnar noutro mais elevado e assim por diante, até atingir a perfeição máxima que pode atingir. Por esse motivo é que Jesus afirmou[7]“necessário vos é nascer de novo”. E em outra ocasião afirmaria:[8] “na Casa do meu Pai há muitas moradas”. 
 

 

[1] - DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. 23. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2000.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, q. 132

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. Rio [de Janeiro[: FEB, 2003, cap. III, itens 3 e 4.

[4] - KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap.  XI, item 14.

[5] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, q. 196ª.

[6] - KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap.  XI, item 28.

[7] - João, 3:7.

[8] - João, 14:2.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita