Entrevista

por Orson Peter Carrara

O personalismo tem atrapalhado demais o movimento espírita

A frase acima expressa o pensamento de nosso confrade Allan Kardec Pitta Veloso (foto). Natural de Piracicaba e residente em Itanhaém, ambas localizadas no estado de São Paulo, nosso entrevistado trabalha na CESP, na capital paulista, é economista e jornalista, com especialização em ciências políticas. Ex-vice-presidente da USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, órgão unificador do movimento espírita no estado, é neto de João Leão Pitta e Francisco Velloso, que foram expressivos vultos do movimento espírita em São Paulo.

A seguir, a entrevista que ele gentilmente nos concedeu:

Fale-nos de seu avô materno.

Só tenho notícias do meu avô materno através das minhas tias, irmãs e de pessoas que conviveram e contam histórias curiosas dele. Sei que ele era pessoa de personalidade austera, mas carinhoso. Ele desencarnou antes de eu nascer, não tive a oportunidade de conviver com ele, mas dizem que ele voltou como meu filho Jean Gabriel Mautone Pitta Veloso, mas isso não podemos provar, não é? Que foi um pregador da doutrina espírita que viajava muito por São Paulo, norte do Paraná e outros estados, usando todas as formas possíveis de locomoção, inclusive lombo de burro, e era amigo pessoal de Vinícius (Pedro de Camargo) e Cairbar Schutel.

E sobre seu avô paterno?

Também não tenho lembranças, embora tenha ele desencarnado depois de eu nascer, mas eu sou o neto caçula do João Leão Pitta e penúltimo de meu avô paterno, Francisco Velloso. Então as histórias também são dos tios, primos mais velhos e irmãos.

Quais as marcas mais expressivas que a vida de ambos, e de cada um, deixou em sua personalidade?

Compromisso e vínculo com o movimento e o trabalho espírita. Eram pessoas obstinadas no trabalho espírita e isso marcou muito a mim e alguns familiares.

O que cada um deles relatava da convivência com Cairbar Schutel?

Não tenho como responder a essa pergunta por falta de convivência, mas tenho um primo neto do Pitta e filho do tio Urubatão Pitta, de Piracicaba, que se chama Cairbar por conta dessa relação.

O que mais se destacou em cada um da vivência espírita?

Ambos enfrentaram problemas de perseguição por serem espíritas declarados e engajados na divulgação da doutrina espírita e em atividades de assistência social e promoção humana. A Igreja Católica na época não dava descanso para os espíritas, principalmente os divulgadores.

Sobre sua experiência na diretoria da USE estadual, o que tem a dizer?

Foi muito boa e agradeço a Júlia Nezu por ter-me convidado a ser um dos vice-presidentes, pois essa vivência na Diretoria Estadual da USE, com tantos amigos, me fez compreender melhor como funcionam os trabalhos de organização, tanto no estado de São Paulo como no Conselho Federativo e na FEB. Fez-me ver também quais são os maiores problemas, que o movimento estadual e nacional é heterogêneo e precisamos ter muita habilidade para trabalhar, sem provocar choques.

Como está a USE atualmente em termos de lutas, dificuldades, perspectivas, anseios, conquistas?

Vejo todos os amigos trabalhando muito, mas as dificuldades são as de sempre. Nem todos os que podem ajudar esses companheiros se empenham em trazer os melhores resultados participando ativamente. Mas as perspectivas são boas, pois o movimento espírita em geral está amadurecendo e se aproximando a cada vez mais do codificador. Uma grande dificuldade que percebo no movimento espírita, já apontada por Allan Kardec, é o personalismo. O personalismo tem atrapalhado demais o movimento espírita no Brasil. Há espíritas que, apesar de estudiosos e bons oradores, são muito narcisistas e muitas vezes acabam como ele (Narciso), morrendo afogado admirando sua própria imagem.

De suas lembranças como espírita, o que sobressai de sua história?

Em um trabalho mediúnico em que conversávamos com um espírito que se identificava como irmã Enedina, que tinha sido uma trabalhadora espírita incansável e dedicadíssima em Nova Friburgo–RJ, perguntei a ela qual a primeira impressão que ela teve ao voltar para a pátria espiritual. Ela respondeu que foi decepção. Sem entender o que disse, perguntei o porquê daquela resposta e ela me disse que só fez 5% do que poderia ter feito. Eu pensei comigo mesmo: “Estou perdido”.

Algo mais que gostaria de destacar ou acrescentar?

Sim. Apesar das dificuldades naturais de qualquer trabalho, o movimento espírita está andando para a frente, tem valorosos companheiros que sem maiores destaques fazem um trabalho brilhante na divulgação da doutrina. Vejo muitas casas fazendo muita coisa; o que precisamos fazer é aprendermos a unir forças para fazermos mais e melhor e buscar a unidade na diversidade.

Suas palavras finais.

As minhas palavras finais são as do querido Léon Denis: “o movimento espírita será o que dele os espíritas fizerem”; portanto, cabe a cada um de nós fazer bem feito a nossa parte neste processo. Que, se há esperança por um mundo melhor e nós a temos, precisamos trabalhar firme para que isso se torne realidade.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita