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por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

 

Crianças: a sustentabilidade do Cosmos


O futuro do mundo só será assegurado pelas crianças, (adolescentes e jovens), porque é incompreensível aceitar a extinção da humanidade, aliás, uma das poucas espécies, se não mesmo a única que, globalmente considerada, ainda não estará em extinção, pese, embora: a redução demográfica em muitos países; a desertificação de diversas regiões; e uma crescente aglomeração junto dos litorais, grandes centros urbanos e respetivas periferias.

No sentido de um certo equilíbrio, outros países continuam a assistir (até com o patrocínio dos governos) ao aumento das suas populações, não só através da melhoria da taxa de natalidade, redução na percentagem da mortalidade e uma crescente chegada de imigrantes a esses países. Portugal é um bom exemplo nestas estatísticas.

E a redução da população de outros países só não é maior graças ao contributo da ciência, especialmente da medicina, da biologia, da genética e outras disciplinas que se preocupam com o bem-estar das populações e longevidade dos indivíduos. Recursos financeiros são canalizados para a investigação, em quantidades crescentes nalguns países, porém, ainda insuficientemente na maioria de outros. É necessário fazer opções firmes: entre a vida e as armas, prefira-se a vida, através do bem-estar, da paz e da felicidade.

O que parece não deixar nenhuma dúvida é que o futuro da humanidade está nas crianças de hoje, e que sem elas será difícil (ou mesmo impossível) manter-se esta caminhada triunfante da humanidade, apesar dos muitos obstáculos.

As crianças são como o diamante puro, que precisam ser lapidadas (educadas, formadas, sensibilizadas para a paz e a felicidade), mas, antes disso, é necessário descobri-las, pelo único processo viável ao homem – fecundidade, reprodução, nascimento, cuidados, formação, trabalho e velhice condigna.

Os incentivos ao aumento das taxas de natalidade são, indiscutivelmente, as primeiras medidas que qualquer governante responsável, e com uma visão para um futuro melhor, para uma humanidade envelhecida, deve tomar. Não se pode aplicar receitas de austeridade, justamente e desde logo, aos “elos” mais fracos da cadeia humana: as crianças e os idosos, mas para isso é necessário que aqueles de quem dependem estas duas pontas, também tenham condições para as “segurar”.

Pode-se e deve-se cortar em tudo quanto é supérfluo, suntuoso e ofensivo à dignidade dos mais pobres, onde existem as camadas de crianças e idosos em maior número. Não se deve retirar recursos que, na maioria, são canalizados pelas famílias, para a saúde, alimentação e educação dos seus “elos” mais fracos. Não se podem retirar direitos adquiridos que ajudavam a colmatar as já imensas dificuldades que se somam ao longo do ano.

É inaceitável “jogar-se” para o “espaço da indiferença” e do “ostracismo”: quer o passado coletivo, representado nos idosos, quer o futuro promissor configurado nas crianças, adolescentes, jovens e adultos em idade ativa. Os recursos humanos são o “capital” mais valioso de qualquer instituição: família, empresa ou país.

O sintoma mais evidente e preocupante da degradação da sociedade está presente em muitos países e, dentro destes, em regiões geográficas bem determinadas. Na primeira “ponta da vida”, onde estão as crianças, o fecho de escolas tem sido a “solução” adotada; na outra extremidade da linha, também, a comprovar o envelhecimento da humanidade e as dificuldades das famílias, outro indicador incontornável: o aumento do número de lares de terceira idade.

Refletir sobre o patrimônio insubstituível que as crianças significam, e como aumentá-lo e melhorá-lo, será o objeto desta abordagem que, ainda assim, não pretende fornecer a fórmula mágica para resolver o problema. Pretende-se, tão só, expor as preocupações de um cidadão que vive inquieto com toda esta situação.

É conhecido que as famílias contemporâneas atravessam graves crises, de vária ordem, com diversas causas, consequências mais ou menos previsíveis e realidades que passam a fazer parte do quotidiano: famílias monoparentais, desestruturadas, sem valores, perdidas; crianças sem regras, maltratadas, abandonadas, vendidas e prostituídas.

Não é uma descrição utópica, nem pretende ser alarmista, nem significa uma análise pessimista e derrotista, é a realidade que a humanidade vem construindo, com egoísmo, sem ideais supremos e atingíveis, tudo relativizando (claro que não haverá valores absolutos em todas as culturas), ao ponto dos valores absolutos, como a: justiça, paz, amor, educação, tolerância, solidariedade, lealdade, verdade, felicidade e Deus, enfim, tantos outros se poderiam acrescentar, poderem integrar um novo livro da “Relatividade Absoluta”. É incompreensível para a racionalidade contemporânea que, sendo o ser humano superiormente inteligente, não seja capaz de construir outra sociedade melhor.

Neste mundo instável, onde muito pouco se considera verdadeiro ou falso, onde os interesses mais inconfessáveis e mesquinhos vêm triunfando, as crianças (e também os idosos) que são, de fato, o elo mais fraco desta corrente humana, continuam a sofrer, a ser utilizadas como objetos de prazer, de negócio, de aproveitamento em atividades condenáveis, enfim, multiplamente exploradas, vilipendiadas e mortas, quantas vezes, em circunstâncias horrendas, por processos repugnantes.

Por cada criança assim destruída, o mundo deveria ficar de luto para toda a vida. Mas por cada criança nascida e tratada com dignidade, o mundo deve rejubilar, tudo fazer para que este novo ser humano comporte em si mesmo uma nova esperança, um novo relacionamento, um novo mundo, onde todos possam viver com felicidade, com dignidade e com um futuro positivamente previsível.

Com efeito: «A verdadeira e plena proteção das crianças significa que elas podem desfrutar amplamente de todos os seus direitos, entre eles os econômicos, sociais e culturais, que lhes são garantidos por diversos instrumentos internacionais. Os Estados partes nos tratados internacionais de direitos humanos têm a obrigação de adotar medidas positivas para assegurarem a proteção de todos os direitos da criança». (Tribunal Internacional dos Direitos Humanos, através do Parecer Consultivo OC-17/2002 “Condição Jurídica e Direitos Humanos da Criança”, 28 de agosto de 2002, ponto 8 da parte dispositiva, in: BERGOGLIO, 2013: 156.)

 

Bibliografia:

BERGOGLIO, Jorge, Papa Francisco (2013). O Verdadeiro Poder é Servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de fé e de renovação social. Tradução de Maria João Vieira /Coord.), Ângelo Santana, Margarida Mata Pereira. Braga: Publito.
 

 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita