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por Rogério Coelho

 

Malabaristas do imediatismo


A consequência a que todo suicida não pode escapar é o desapontamento


"Nada deve justificar o autocídio, porquanto a sucessão das

 ocorrências muda a cada instante o quadro em que se vive."   - Manoel Philomeno de Miranda[1]


Teóricos das filosofias pessimistas, sofrendo apoucamento mental propiciado pelo materialismo, têm indicado o suicídio como “solução” para os dissabores e sofrimentos defrontados pelo homem...  Existe até literatura especializada explicando -  pormenorizadamente - vários métodos incruentos e indolores de autocídio, induzindo as criaturas desnorteadas para o mergulho da consciência no grande sono. Tal comportamento, pelo insólito de que se reveste, demonstra a utopia em que foi transformada a vida e a ausência da finalidade a que foi reduzida.

Tecendo comentários sobre este tema, Allan Kardec[2], com sua habitual eloquência e tirocínio, afirma: "a religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às Leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito?   Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos?! 

Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram por essa porta enganosa, que o suicídio não é uma falta somente por constituir infração de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas, também, um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes, o contrário é o que se dá, como no-lo ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas”.

"Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?[3]

-  "Efeito da ociosidade, da falta de fé, e, também, da saciedade.  Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais   paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera”.

"Quais, em geral, com relação ao estado de Espírito, as consequências do suicídio?" 2

"Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam”.

"O suicídio1 é remanescente do primitivismo humano, que permanece arrebanhando as vítimas indefesas, que lhe tombam nas intricadas urdiduras. Decorrência da revolta espiritual do ser ante as circunstâncias, os acontecimentos e estados da Alma que lhe parecem adversos, é a solução enganosa a que se deixam conduzir todos aqueles que preservam os seus conflitos e os fixam na área mental da insatisfação e do desespero sistemático.

A ignorância propositada ou a reação consciente aos Estatutos Divinos, que pessoa alguma, na chamada civilização hodierna pode ignorar, produzem a indiferença pelos valores sublimes da vida, liberando o homem da responsabilidade e do dever de lutar, obstando-lhe a perseverança nos objetivos relevantes a que se deve entregar.

Os instintos agressivos, não disciplinados, explodem-lhe em indômita rebelião, em face do menor desgosto real ou imaginário, diante de qualquer insucesso natural em todos os empreendimentos, fazendo que seja estabelecida uma neurose depressiva de culpa ou de transferência, acusando-se e punindo-se, ou responsabilizando os outros, a sociedade, assim se arrojando no poço sem fundo da autodestruição, que apenas atinge o corpo.   

Os comportamentos materialistas em modernas escolas da psicologia pretendem relacionar o suicídio com baixas cargas de serotonina no cérebro, facilitando a compreensão do episódio autocida graças a um neurotransmissor da natureza química. Ignoram, porém, esses especialistas, que embora os distúrbios serotônicos respondam pelo ato alucinado, eles, por sua vez, são o efeito e não causa, pois são provocados por agentes psicológicos mais sutis e graves, como a angústia, a insegurança, os conturbadores fenômenos psicossociais e  econômicos, as enfermidades crucificadoras, o sentimento de  desamparo e de perda, todos com sede na Alma imatura  e  ingrata,  fraca de recursos morais para sobrepô-los às contingências  transitórias desses propelentes ao ato extremo.

"(...) Uma análise mais íntima do fenômeno autodestruidor leva também a sutis ou violentas obsessões que o amor enlouquecido e o ódio devastador fomentam, além da cortina carnal. (...) O suicídio, mais grosseiro vestígio da fragilidade humana, que ata o homem ao primarismo de que deve libertar-se, será banido da face da Terra quando o imediatismo ceder lugar às perspectivas do futuro espiritual lecionado por Jesus.

O homem é, na verdade, a mais alta realização do Pensamento Divino na Terra, caminhando para a glória total, mediante as lutas e sacrifícios do dia a dia”.

Esclarece Joanna de Angelis que: "semelhante à loucura - loucura que é o suicídio - pode-se, entre outros conhecidos fatores, encontrar a sua causa nas perturbações de ordem espiritual, por vinganças do além-túmulo, daqueles que saíram do corpo através da morte, sem que hajam fugido da vida.

Loucura suicídio, portanto, são termos da mesma equação humana, desafiando os estudiosos e esperando a coragem para vencê-los, por parte daqueles que tombam nas intrincadas malhas da sua rede infeliz. É de todos nós o trabalho de erradicar da Terra esses dois terríveis inimigos do homem.   

Vigia as nascentes do teu coração e da tua mente, evitando a queda nas sutilezas cruéis de tais tormentosos inimigos do homem.  Diante das dificuldades, reflexiona a fim de agires com acerto. Sob injunções perigosas, medita antes da precipitada reação que consome a esperança da paz. Ao encontro do infortúnio, considera a bênção do tempo como grande solucionador de todas as vicissitudes; submetido a testemunhos violentos, que te façam temer, levando-te quase à queda ou ao desencanto, renova-te com a certeza de melhores dias que virão, sem dúvida.

Seja qual for a estrada que percorras, defrontarás o sofrimento como ocorrência inevitável da existência humana. Nesse sentido, ninguém que se apresente em critério de exceção. Cada criatura conduz, com maior ou menor dignidade, a sua carga de dores.  É certo que pessoas há que experimentam mais angustiantes aflições, todavia, essas estão em processo de reparação inevitável das conjunturas antigas procedentes de existências anteriores.

Nos passos de Jesus em cada circunstância e diante de todas as pessoas, o otimismo e a confiança irrestrita em Deus constituíram a tônica dos Seus ensinos, ratificados na Sua vivência cotidiana. Assim, assume o amor fraternal e a tranquilidade no Pai Criador renovando-te e servindo o teu próximo como sendo uma profilaxia liberativa para a loucura e o suicídio, ou na condição de terapia curadora, caso as síndromes desses flagelos já estejam a manifestar-se no teu dia a dia, levando-te à rampa do desequilíbrio”.

 


[1] - FRANCO, Divaldo. Temas da vida e da morte. 3. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1981, p. 97-104.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 957.

[3] - Idem, ibidem, q. 943.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita