Clássicos 
do Espiritismo

por Angélica Reis

 
Deus na Natureza

Camille Flammarion

(Parte 63 e final)

 

Concluímos o estudo metódico e sequencial do livro Deus na Natureza, de autoria de Camille Flammarion.


Questões preliminares


A. Flammarion afirma que dois grandes erros relativamente à concepção exata da Natureza eram visíveis em seu tempo. A que erros ele se refere?

Esses dois erros, segundo ele, eram, de um lado, o ateísmo, que negava a existência do espírito; e do outro, a superstição religiosa, que concebeu um "deus" semelhante a ela e fez do Universo uma lanterna mágica, para uso e gozo da Humanidade. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

B. É a matéria que rege a força ou, ao invés disso, é a força que rege a matéria?

Essa questão foi examinada exaustivamente na obra em estudo. As afirmativas materialistas, decalcadas na ideia de que a matéria rege a força, pareceram a Flammarion puramente arbitrárias, como simples petições de princípios, fáceis de desmascarar. Para ele, não existe dúvida: é a força que rege a matéria. Na imensidade do Espaço os mundos obedecem a uma lei matemática e é à execução dessa lei que devemos a harmonia dos movimentos celestes, a fecundidade dos astros, a manutenência dos seres em cada mundo, a vida e a beleza do Universo, em suma. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

C. À vista dos fatos examinados nesta obra, podemos dizer que a ideia de Deus sai fortalecida?

Sem dúvida. Diz Flammarion, na conclusão do seu estudo, que a ideia de Deus se apresentou a seus olhos maior e mais pura que toda e qualquer imagem simbólica e dogmática, e que a criação universal, misteriosa filha do mesmo pensamento, lhe surgiu mais ampla e mais bela. O Universo desdobra-se na sua realidade, como a manifestação de uma ideia una, de um plano único e de uma só vontade. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)


Texto para leitura


1119. Acercando-nos do fim deste livro, detenhamo-nos um instante por bem nos compenetrar das verdades adquiridas em nossa argumentação, guardando a legítima impressão deste arrazoado científico. Vigem hoje no mundo dois grandes erros, tão vivazes e profundos como nos tempos mais obscuros da História, isto é, nas épocas recuadas em que a inteligência humana ainda não podia formular nenhuma concepção exata da Natureza. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1120. Esses dois erros, por nós combatidos paralelamente, são: de um lado o ateísmo, que nega a existência do espírito; e do outro a superstição religiosa, que concebeu um “Deusinho” semelhante a ela e fez do Universo uma lanterna mágica, para uso e gozo da Humanidade. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1121. Como esses dois erros igualmente funestos – posto que à primeira vista pareçam inócuos e seja o segundo essencialmente orgulhoso – procuram agora apoiar-se em princípios sólidos da Ciência contemporânea, impusemo-nos o dever de mostrar que eles não podem reivindicar tais princípios em seu favor; que jazem fatalmente isolados da ciência positiva e desarticulam-se ao primeiro embate, qual castelo de cartas, enquanto – ideia central – continua em linha reta o espiritualismo científico.(Deus na Natureza – Quinta Parte.Deus.)

1122. Resumamos nossa argumentação. Constatamos, de começo, locando o problema, que o essencial consiste em distinguir força e matéria, e examinar se é a matéria que rege a força ou, ao invés, se é esta que governa aquela. As afirmativas materialistas, decalcadas na primeira das premissas, pareceram-nos desde logo puramente arbitrárias, como simples petições de princípios, fáceis de desmascarar. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1123. Nosso exame do papel da força começou pela perspectiva das grandezas celestes. Vimos que na imensidade do Espaço os mundos obedecem a uma lei matemática e que é à execução dessa lei que devemos a harmonia dos movimentos celestes, a fecundidade dos astros, a manutenência dos seres em cada mundo, a vida e a beleza do Universo, em suma. A matéria inerte não se nos figurou capaz de compreender e aplicar o cálculo infinitesimal, e então concluímos que a ordem numérica da organização astronômica é devida a um Espírito, indubitavelmente superior ao dos astrônomos que descobriram a fórmula dessas leis. As contraditas que nos opõem refutam-se de si mesmas, por suas respectivas puerilidades. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1124. O exame das leis que presidem às combinações químicas, do papel da álgebra e da geometria no microcosmo, das forças que regem os fenômenos do mundo inorgânico e ordenam as viagens atômicas, das harmonias reveladas nas vibrações luminosas, como nas cônicas, e do primeiro surto da força orgânica no reino vegetal, nos demonstrou que na Terra, como no céu, uma inteligência desconhecida tudo ordena e se traduz em beleza e grandeza máximas. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1125. O estabelecimento da verdadeira teoria das relações entre a força e a matéria tem, por epígrafe, a velha divisa dos pitagóricos – Os números regem o mundo. Penetrando, então, nos domínios da vida, a primeira perspectiva que nos dominou foi a da unidade que abrange todos os seres. Sua substância pareceu-nos, muita vez, não lhes pertencer como propriamente deles e transitar, constante, de uns a outros, sendo o ar o veículo da organização vital do planeta. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1126. Os processos de respiração e alimentação nos demonstraram a solidariedade existente entre os animais e as plantas. O corpo humano apresenta-se-nos em transformação constante. O grande fenômeno da circulação da matéria estabeleceu que a existência de uma força central, constituindo a vida em cada ser, faz-se absolutamente necessária para explicar a permanência do organismo, o equilíbrio das funções vitais, a própria existência, enfim. Essa força orgânica só é transmissível pela geração. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1127. O quadro das últimas conquistas da Química orgânica continuou afirmando a força, qual a estabelecera a Fisiologia. Remontando, então, para além da vida atual, para a origem dos seres, a causa espiritualista revelou num crescendo a sua necessidade e veridicidade. Comparamos com a nova a velha hipótese materialista e achamos que não são mais que uma e única hipótese, aliás, insuficientes.(Deus na Natureza – Quinta Parte.Deus.)

1128. A mesma perquirição nos levou ao problema, não resolvido, das gerações espontâneas. O ponto essencial da questão está no havermos constatado que, mesmo na hipótese da organização autônoma da matéria, a teologia natural não é atingida e a força diretiva continua a impor-se como absolutamente necessária. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1129. Vimos, ao demais, que não são os mestres que opõem teorias contrárias à admissão de um Deus, e sim os discípulos inexperientes, de vez que a lei tanto impera na transformação e progressão das espécies, como na sua criação separada. E quanto ao homem em si mesmo, vemos que o seu posto característico na criação afirma-se, menos pelos índices anatômicos que por seu valor intelectual, tendo-se em vista a sua racionalidade e os progressos que é capaz de realizar.(Deus na Natureza – Quinta Parte.Deus.)

1130. Esse estudo geral da vida terrestre tem por epígrafe a proposição fundamental da obra de Arístoto: A alma é a causa eficiente e o princípio organizador dos corpos vivos. Mas é sobretudo no próprio homem que temos reconhecido mais evidente e inatacável soberania da força. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1131. Nosso exame do cérebro revelou, desde logo, a ilusão dos metafísicos que desdenham o laboratório e a dissecação, pretendendo limitar a Natureza a uma simples definição. Esse exame serviu para estabelecer as relações do cérebro com o pensamento, e mostrou que a sua composição, forma, volume e peso estão longe de ser estranhos à alma. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1132. A ação do espírito sobre o cérebro ressaltou, íntegra, da fisiologia para afirmar-se no seu real valor. As hipóteses que resultaram na conceituação do pensamento como secreção de substância cerebral, ou como dinamismo nervoso, só conseguiram notabilizar-se pela sua inanidade. A presença da alma evidenciou-se até nos fenômenos de loucura. O gênio apareceu-nos como a faculdade máxima de pensar. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1133. Depois, a personalidade humana veio afirmar-se no seu valor. Temos visto que existimos, realmente, que não somos apenas a qualidade variável da substância cerebral. A alma afirmou sua unidade e personalidade. A contradição entre essa unidade e a multiplicidade dos movimentos cerebrais, sobretudo entre a identidade permanente da alma e a troca incessante das partes constitutivas do cérebro, mostrou a fragilidade da hipótese materialista.(Deus na Natureza – Quinta Parte.Deus.)

1134. Por fim, para aniquilar, até os fundamentos, a singular e triste pretensão de ser o homem governado pela matéria, discutimos, socorrendo-nos de fatos e exemplos, se poderia admitir-se não fossem a vontade e a individualidade mais que ilusão, e que a consciência e o julgamento dependessem da alimentação. Os exemplos históricos de homens enérgicos, dotados de grande força de vontade, de fortes expressões de caráter, de perseverança e de virtudes, desmentiram essas últimas objeções do materialismo contemporâneo e mostraram que as faculdades intelectuais e morais nada têm a ver com a Química, e que o espírito reside num mundo distinto do material, superior às vicissitudes e movimentos transitórios do mundo físico. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1135. Nossa alma não permitiu que a dignidade humana, a liberdade, os sagrados princípios do belo, do bom, do verdadeiro, fossem envolvidos no caos da hipótese materialista. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1136. As três grandes divisões que vimos de resumir tiveram por complemento natural as nossas considerações sobre a destinação dos seres e das coisas. Comentamos o erro e o ridículo dos que tudo ligam ao homem, bem como o seu oposto, que nega a existência de um plano na Natureza. As leis organizadoras da vida, a maravilhosa construção dos órgãos e dos sentidos, nos revelam uma causa inteligente na instalação da vida planetária. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1137. A hipótese da formação dos seres vivos sob a ação de uma força universal instintiva, e da transformação das espécies, longe de anularem a ideia do Criador, deixaram intactas a sua onipotência e sabedoria. E assim, o plano da Natureza foi anunciado pela construção dos seres vivos. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1138. Mais eloquentemente ainda, foi esse plano afirmado pelas provas do instinto no reino animal. A criação, aí, nos surgiu magnificamente completada por leis assecuratórias da sua duração e grandeza. Mas, ao mesmo tempo que a presença de Deus se manifestava mais imponente aos nossos olhos, o problema geral da finalidade do mundo surgia mais vasto e temeroso. Sentimos, então, a insignificância comparativa e assim fomos levados, naturalmente, pela diretriz do arrazoado, a retomar a ideia dominante do nosso ponto de partida, isto é, demonstrar conjuntamente o erro do ateísmo e da superstição religiosa. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1139. Este exame da causalidade final teve por epígrafe o título da obra do grande físico e filósofo Ested – O Espírito na Natureza. A força espiritual que vive na essência das coisas e governa o Universo em suas partículas infinitesimais revelou-se assim, sucessivamente, nos mundos sideral, inorgânico, vegetal, animal, pensante. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1140. Esperamos que o observador de boa fé, desprevenido do espírito de sistema, se contentará com esta exposição dos últimos resultados da Ciência contemporânea, confirmativos da soberania da força e da passividade da matéria. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1141. Temos íntima convicção de que a ideia de Deus se apresentou a seus olhos maior e mais pura que toda e qualquer imagem simbólica e dogmática, e que a criação universal, misteriosa filha do mesmo pensamento, lhe surgiu mais ampla e mais bela. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1142. O Universo desdobra-se na sua realidade, como a manifestação de uma ideia una, de um plano único e de uma só vontade. (Deus na Natureza – Quinta Parte. Deus.)

1143. Possa este quadro da vida eterna da natureza de Deus afastar o leitor dos erros grosseiros que o materialismo espalha por toda parte, robustecendo-lhe o intelecto no culto puro da Verdade. Possam os nossos espíritos se compenetrarem, cada vez mais, do Belo manifestado na Natureza e santificarem-se no Bem, com o apreciarem mais completamente a unidade da obra divina, fazendo uma ideia mais justa do nosso destino espiritual, conhecendo a nossa categoria na Terra em relação ao conjunto dos mundos e sabendo, finalmente, que a nossa grandeza está em nos elevarmos constantemente na posse e pela posse dos bens imperecíveis, que são apanágio da inteligência.(Deus na Natureza – Quinta Parte.Deus.)
 

Fim

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita