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por Bruno Abreu

 

Onde está a diferença?


Há dias, deparei-me com a notícia televisiva de que na Rússia davam-se conselhos à população de como agir no caso da terceira Guerra Mundial. Os Estados Unidos e alguns aliados bombardearam “alvos estratégicos” na Síria alguns dias antes, não sei se terá sido por isso ou outra situação qualquer, tal como a Coreia do Norte, a despontar os conselhos transmitidos pela televisão.

Recordo-me das nobres palavras de Jesus, em sua misericórdia, nos seus instantes finais a pedir a Deus: “perdoa-lhes Pai que não sabem o que fazem”.

Dois mil anos passaram, e continuamos a destruir o planeta maravilhoso onde nos é permitido reencarnar, mantemos o afastamento pelas diferenças dos outros e agredimos quem achamos que  temos que o fazer. Por que será que não conseguimos Amar?

Há milênios que criamos as Religiões/Igrejas e elas próprias  têm feito guerras a outras religiões, porque na “nossa” está o movimento certo que nos liberta das penas terrestres, levando-nos a um paraíso, mas para tal tenho que maltratar meu irmão. O quanto nos é difícil ver o embuste que existe nisto porque a nossa mente não nos permite cair em falta de autoconfiança.

A religião/igreja deveria ser a primeira a ensinar que só temos um Deus, como tal, somos todos irmãos, mas o que acontece é que olhamos para os outros e dizemos: eles estão errados, são burros. Isto acontece porque se os outros estiverem certos nós estaremos errados e não o podemos permitir.

Dei como exemplo o das religiões, um dos mais claros que existe, mas poderia falar dos países, dos bairros, das empresas, da raça, do poder econômico, da profissão, de quase tudo no mundo, uns de uma forma menos intensa e outros de forma mais visível. Tudo isto nos cria separação do próximo.

Por que não conseguimos fugir desta forma de funcionamento humano divisório?

Na verdade, isto é natural na humanidade, não o deveria ser, mas a forma como vivemos e, principalmente, a forma como a máquina funciona leva-nos a este caminho.

O Ego é o ser que criamos através das imagens sugestivas, onde incluímos a parte biológica ou corpo. Ao princípio da reencarnação, na infância tenra, somos incentivados por nossos pais através das expressões “é o Bruno”, “é o bebê” que nos leva a perceber que somos seres isolados diferentes das outras pessoas.

Ao crescermos, percebemos que temos que ter uma vida de acumulação, seja de forma de estar ou de bens materiais, para que nos possamos enquadrar na sociedade e sermos individualidades ou Egos estabilizados e funcionais para a sociedade.

Isto parece-nos inevitável e impossível de ser doutra forma, de certa forma é correto, mas será que não poderia ser de uma outra maneira? Na verdade o eu e o outro, no conceito que o conhecemos, só acontece quando o pensamento se dá. Este cria a separação através da ideia. Como a nossa forma de viver acontece em dualidade, então acontecem as diferenças nos seres dentro de nossa mente, na realidade elas não existem fora do estado mental.

Nós reencarnamos milhares de vezes, pelo menos é esse o princípio da reencarnação, e cada vez que nascemos para a carne vimos em famílias diferentes, em diversos pontos do Globo, tornamo-nos seres completamente diferentes, incluindo nossas crenças e achismos. Se eu nascer em uma família muçulmana, em um país muçulmano, recebendo uma educação muçulmana, qual será a probabilidade de ser  Cristão?

Quando me refiro ao “Eu” não me refiro ao corpo que nos individualiza, mas à ideia que criamos dentro de nós, repleta de adjetivos constantes e alicerçados na experiência do passado ou na visão da imagem que construímos de nós, que não deixa de pertencer ao passado pelas nossas vivências e conhecimentos.

Alguém perturbado é agressivo comigo, nosso irmão não o fez por ser comigo, se fosse outra pessoa na mesma situação teria agido de igual forma; ele projeta um estado mental. Ele está em sofrimento e tensão emocional, precisava que tivesse paciência com ele. Se o tivesse feito a outra pessoa não me faria diferença, mas foi a mim e eu não posso permitir porque “Eu” mereço respeito. Se não houvesse o conceito do “Eu” que minha cabeça criou e não permite que seja abalado, levaria a peito ou simplesmente veria alguém transtornado, um pobre coitado que a vida lhe corre mal, como vejo quando é com os outros?

A diferença do racismo está na cor da pele ou na ideologia da diferença de um ser, porque a pele é de tom diferente? Pode um cego ser racista sem que lhe explicassem a diferença da cor da pele ou aceitaria ele a outra pessoa como igual porque o conceito de igualdade não inclui as cores perceptíveis da visão?

“… E, se o teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho.” (Mateus, 18:9.)
       
                                   


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita