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por Ricardo Orestes Forni

 

O Criador sobrenatural


“Há um Sol transcendente, que é o Arquétipo Primacial – a Divindade – que se irradia como fonte de vida, de calor, de energia, Eixo central do Universo e Gerador do Cosmos, que atrai na Sua direção todas as expressões que O manifestam na Criação.” – Joanna de Ângelis.


A revista VEJA, edição 2365 de 19 de março de 2014, em suas páginas amarelas, traz uma reportagem com o pesquisador da Universidade de Harvard, Joshua Greene, que conjuga filosofia e neurociência em uma proposta ambiciosa de abordar os dilemas morais do aborto à distribuição de renda. Professor de psicologia da Universidade, ele tem se dedicado a pesquisar o modo como as decisões morais são processadas pela mente humana. A última pergunta dirigida a esse cientista na entrevista foi: qual o papel da religião na moral. Vamos à resposta dada por ele: “Sou ateu e, portanto, acho errônea a ideia de um Deus, de um criador sobrenatural. Mas não sou um oponente vigoroso da religião, como alguns dos meus pares. A religião tem uma função na vida de muitas pessoas. Ela lhes confere um senso de objetivo, de significado, e não se pode pedir que elas desistam disso. Muitas religiões são demasiadamente tribais. Essas são boas para seus membros, ruins para todos os demais. Mas nem todas. Tem havido uma mudança na Igreja Católica com a chegada do Papa Francisco. Talvez por sua formação jesuíta, o Papa Francisco é claramente pós-tribal. Resumindo, não é um problema, para mim, viver em um mundo em que tantas pessoas cultivam crenças que considero falsas. O respeito mútuo é o fator essencial nesse cenário”.

O pesquisador está errado? Não. Da forma como apresentam e apresentaram esse deus antropomórfico para ele, seu posicionamento como ateu é completamente compreensível. Vejamos: como crer em um deus que fez o Universo em sete dias com tudo o que ele contém até hoje, quando a ciência da Geologia demonstra o contrário? É a teoria criacionista do Universo. Tudo o que existe, absolutamente tudo, foi criado dessa forma desde o início. Não há evolução. A teoria evolucionista de Darwin não existe porque afronta a grandeza de Deus. Só gostaria de entender o que a evolução depõe contra o Criador. Como não depõe contra Ele a história que contam para as criancinhas e que os adultos também acreditam sobre Adão e Eva? Esse casal, o primeiro criado por esse deus antropomórfico, teve três filhos do sexo masculino – Caim, Abel e Sete – e povoaram o mundo! Caim matou Abel e fugiu para uma localidade chamada Nod e ali encontrou uma mulher com quem se casou e teve um filho chamado Enoch. Deu para entender? Se somente existia o casal – Adão e Eva – e três filhos, com quem Caim se casou? Então Adão e Eva não eram os únicos! Na Gênesis Bíblica, Deus teria criado a luz antes do sol! Dá para algum cientista acostumado a raciocinar, aceitar essa explicação? Na Gênesis Bíblica, Deus criou as plantas antes do sol. Sabemos que o sol é indispensável para a vida dos vegetais. Sem o sol, via de regra, não existe fotossíntese, mecanismo básico do vegetal obter energia para viver. Como podemos querer que um homem de ciência se curve a um absurdo desses? E a história do dilúvio que teria acabado com o mundo? E as espécies de todos os animais que existem até hoje trazidos dentro de uma arca para repovoarem a Terra, dá para um cientista aceitar? Pena é que Noé trouxe o mosquito da dengue na sua arca e agora pagamos o preço disso. Não dava para deixar o bichinho quietinho lá? Como acreditar num deus guerreiro que mandava passar a fio de espada os inimigos? Um deus que tinha um povo preferido e os outros é que se ardessem, de preferência, no fogo do inferno? Dá para um homem acostumado a raciocinar aceitar tais explicações? Qual outro raciocínio um cientista poderia ter sobre esse deus senão a ideia de que ele seja sobrenatural? Sim, porque só um ser sobrenatural é capaz de tamanhos absurdos, de tamanhas discrepâncias, exatamente por não existir.

Tudo muda quando o conceito de Arquétipo Primacial designa uma forma de explicar o Deus que nos criou e não o criado por nós. O Arquétipo, o imaterial, em torno do qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. A estrutura básica em torno da qual tudo adquire sentido, tudo se explica. A causa incausada de todo o Universo. A razão máxima e primeira de tudo e de todos. A inteligência suprema, ou seja, como queiramos defini-Lo, menos como um ser com os defeitos e viciações do pequeníssimo ser humano que ainda se atreve a entender e definir Deus sem entender e definir a si mesmo...


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita