Artigos

por Ricardo Orestes Forni

 

Cesariana em Adão


“Adão foi um extra na Criação. E Eva o produto de uma cesariana masculina, a primeira realizada na História, porque as da Mitologia não contam.” – Professor Herculano Pires.


A inteligência apurada do eminente professor e filósofo Herculano Pires satiriza a absurda explicação bíblica para o surgimento de Eva retirada de uma costela de Adão mergulhado em sono profundo, através de uma espécie de cesariana da época. Se tivesse sido a primeira, com certeza teria sido a única, pelo menos por enquanto. Quem sabe com a evolução da medicina as coisas possam mudar...

O título do artigo atende ao propósito de comentarmos uma notícia da revista VEJA, edição 2362 de 26 de fevereiro de 2014, páginas 76 e 77, em que um congressista norte-americano do Estado de Missouri, Rick Brattin, propôs um projeto de lei autorizando os pais de alunos do ensino médio a tirar seus filhos das aulas de biologia caso lhes sejam ensinados os princípios da teoria da evolução, postulada pelo naturalista inglês no século XIX, Charles Darwin. Brattin é defensor animado do criacionismo, tese segundo a qual Deus criou o homem – Adão, a partir do barro, e Eva, da costela de Adão. Os seguidores dessa doutrina negam a teoria darwiniana segundo a qual evoluímos de seres mais simples para seres mais complexos.

Convém lembrar que Darwin não disse que viemos dos macacos, mas, sim, que teríamos ancestrais em comum, tanto que 99,4% do DNA humano é igual ao do chimpanzé.

Tudo isso em pleno século XXI!

Continuando a análise dos absurdos da gênese bíblica, veremos que Adão e Eva, após serem expulsos do paraíso por comerem do fruto proibido, tiveram dois filhos: Caim e Abel. Mais tarde nasceria Sete, o terceiro filho do casal. Enciumado de Abel, Caim o matou e fugiu após o crime praticado. O professor Herculano Pires continua a nos ensinar que, desesperado, Caim foi ter a uma localidade denominada Nod.  Lá encontrou o amor de sua vida na pessoa de Liriad, jovem filha de um ferreiro abastado, cuja forja funcionava dia e noite para atender às encomendas de peças de ferro para a lavoura e de armas para a guerra. Liriad logo percebeu, continua o professor, que Caim era um foragido, certamente por algum grave crime que praticara. Não obstante, apaixonou-se por ele e se casaram. Desse casamento nasceu um filho que recebeu o nome de Enoc. Só por essas poucas citações que constam na Bíblia, já vemos a impossibilidade de Adão e Eva terem povoado o mundo a partir somente deles. Como Caim encontrou Liriad se apenas existiam Adão e Eva? E os pais da jovem tomada por esposa, de onde teriam vindo? Teria a mãe de Liriad sido retirada da costela do marido também? Estaria aí a segunda cesariana da história humana? Aliás, o termo cesarianavem da expressão latina caedere, ou seja, cortar. Alguns se confundem achando que o general Julio Cesar tivesse nascido de uma cesariana e daí a origem do termo. Não nasceu. O militar nasceu de parto normal. Outras informações revelam que a primeira cesariana teria sido feita por Jacob Nufer, um cidadão suíço que, ao ver o sofrimento da esposa, e acostumado a “cesariar” porcas, teria realizado a primeira cesariana da história – com a permissão de Adão – com o intuito de aliviar o sofrimento de sua mulher, isso lá pelo ano de 1500.

Se o que foi citado ainda não foi suficiente, façamos o seguinte raciocínio: Adão e Eva tiveram três filhos do sexo masculino. Caim, Abel e Sete. Com quem eles teriam se relacionado para povoar o planeta se não existia o elemento feminino? Como de Adão e Eva teria surgido, então, toda a população mundial?

Em relação a suposta “cesariana” de Eva retirada da costela de Adão, contrapomos a opinião lúcida e coerente de Allan Kardec contida em A Gênese, capítulo XII, item 11, na Gênese Moisaica: “A mulher, formada de uma costela de Adão é uma alegoria, pueril na aparência, se for tomada ao pé da letra, porém profunda no sentido. Tem por finalidade mostrar que a mulher é da mesma natureza do homem, sua igual, por conseguinte, diante de Deus, e não criatura à parte, feita para ser usada como escrava e tratada como se fosse ilota.”

Destaque-se que o termo ilota, entre os espartanos, referia-se aos prisioneiros escravizados, reduzidos a servos do Estado. Ou seja, a mulher não é escrava do homem, mas sua igual, porque nela habita um Espírito imortal criado por Deus com todos os direitos inerentes a qualquer ser da Criação, independente do sexo pelo qual excursione em determinada jornada evolutiva.

Fico exercitando a memória para entender como de uma simples maçã pode ter surgido tanta confusão!

Ainda bem que Isaac Newton aproveitou a maçã de uma forma mais útil!...


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita