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por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

 

Projeto educativo-formacional


Num projeto de educação e formação, para a cidadania plena, tão importantes como o conceito, o currículo, os objetivos e os resultados, é o desenvolvimento pessoal, social e cultural, na perspectiva da construção e consolidação da personalidade do cidadão, respeitando, tanto quanto possível, a vocação própria do indivíduo, face ao que a sociedade democrática exige.

Cada pessoa tem características específicas, qualidades inatas, predisposição para certas tarefas, habilidades latentes que, através da aplicação do projeto educativo ajustado, podem ser potenciadas e rentabilizadas a favor do próprio, enquanto satisfação individual, e alimento da autoestima, como também em benefício da comunidade que, num dado domínio, pode assistir a resolução de problemas e situações mais difíceis.

Construir um projeto educativo, à medida de determinadas vocações, é um objetivo nobre, que não só dignifica a instituição escolar, como enriquece todos os intervenientes na iniciativa, sejam educadores-formadores, sejam educandos-formandos e qualquer outro pessoal fora do contexto escolar, mas que sinta o chamamento vocacional para uma área da intervenção educativa.

Nesta linha de orientação, o perfil do cidadão que se pretende para os novos tempos que se avizinham será o de um interventor decisivo na elaboração, desenvolvimento prático e validação do projeto vocacional, para o que, indiscutivelmente, carece de uma orientação credível. Ao longo da vida, esta será prestada por instituições escolares dos vários níveis do ensino/aprendizagem e formação, para o efeito dotadas dos recursos humanos, técnicos e financeiros, especificamente apropriados e compatíveis, na medida em que nestes projetos, e no seu sucesso, se joga, em grande parte, a felicidade, em todos os sentidos do humanamente possível, da sociedade do futuro.

Com efeito, caminha-se para uma sociedade cada vez mais: exigente, instruída, informada, interventora e com poderes decisórios, porque: «Os jovens se tornam cada vez mais exigentes na definição do seu percurso profissional, a orientação vocacional (aqui situada em termos de educação de projetos) desempenha papel fundamental na construção individual de um projeto de existência». (FONSECA, 1994:67.)

Um projeto de existência, que dignifique este novo cidadão, não só enquanto tal, como ainda enquanto pessoa humana portadora de princípios, valores, sentimentos, emoções, sonhos e projetos de vida, certamente, em função da sua cultura. Que maior riqueza e benefício para um país que, sem preconceitos xenófobos, etnocêntricos, religiosos, ideológicos ou outros, proporciona a toda a população, autóctone ou imigrante, condições para cada indivíduo realizar o seu projeto de vida!

Portugal e o Brasil, por exemplo, ainda que por razões diferentes, e em épocas distintas, são hoje dois exemplos vivos, onde se encontram comunidades tão diversas quanto culturalmente ricas e produtivas. Impor, obrigar ou exigir que tais grupos sejam uniformemente segregados, por uma nova cultura, destruindo as culturas originais de cada etnia, grupo social e comunidades específicas, seria um crime de lesa-cultura universal, um verdadeiro genocídio cultural.

O patrimônio cultural que diferentes grupos étnicos transportam consigo, e o levam para os países de acolhimento, só pode ser bem-recebido, divulgado e protegido, na medida em que será na troca de culturas, na diversidade de tradições e na importância dos valores, que a humanidade melhor se compreenderá e harmonizará.

Neste quadro que hoje se vive (primeiro quarto do século XXI), um pouco em todo mundo, onde a mobilidade social transnacional se desenvolve, sujeita a restrições e controlos mais ou menos rígidos, exige-se uma intervenção bem planeada, dirigida a estes públicos, na maior parte das vezes, completamente desprotegidos, concedendo-lhes as oportunidades não só de se integrarem, como também para prosseguirem com as suas tradições, e desvelamento da cultura que lhes é própria.

Chamar aqui a escola multicultural para coordenar, incentivar e consolidar uma educação intercultural parece uma boa medida, quer para os nacionais, quer para os imigrantes. O sucesso na aposta da escola multicultural depende, em primeira análise, dos nacionais residentes: sejam técnicos docentes, sejam quaisquer outros cidadãos discentes, porque o objetivo será, no seu resultado final, todos interiorizarem as vantagens de uma educação que promova e facilite o relacionamento exemplar entre indivíduos de culturas diversas, para o que se pressupõem competências, atitudes e abertura para conviver com situações diferentes das que eram habituais.

Com efeito: «A competência multicultural diz respeito à ausência de preconceitos raciais ou culturais e conhecimento de características de diferentes grupos raciais. Implicitamente, inclui também uma consciência cultural que diz respeito a um indivíduo reconhecer que a forma como percepciona a realidade não é universal e que difere profundamente da percepção que dela têm indivíduos pertencentes a outras nações ou grupos étnicos». (FERREIRA, 2003:140.)

A capacidade técnico-pedagógica da escola multicultural, posta ao serviço da sociedade pluricultural, é uma mais-valia na conjugação de sinergias, em ordem à integração plena da população residente, oriunda de outros países, todavia, outros intervenientes e parcerias são desejáveis e que se envolvam neste processo intelectual. O intercâmbio cultural é decisivo para um melhor relacionamento.

 

Bibliografia:

FERREIRA, Manuela Malheiro, (2003). Educação Intercultural, Lisboa: Universidade Aberta.

FONSECA, António Manuel Fonseca, (1994). Personalidade, Projetos Vocacionais e Formação Formação Pessoal e Social, Porto: Porto Editora.

 



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita