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por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo 

 

A arte de falar, o dom de escutar e a beleza de praticar


O nosso ativo mais precioso é o tempo. E como temos nos comportado em relação ao “falar e escutar” em nosso dia a dia? Será que já aprendemos a escutar? Se não for um “dom” mesmo, saber ouvir as pessoas é certamente uma arte.

Partilhar também é muito bom. Você fala dos próprios sentimentos e ouve o outro falar dos seus. É uma via de mão dupla: passamos e também recebemos ajuda e espiritualidade.

Há 2 mil anos, numa epístola, o apóstolo Tiago já assinalava: “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros para que sareis...”.

A moderna psicologia recomenda, igualmente, partilhar sentimentos, assim como a medicina faz recomendações nesse sentido: se você não quiser adoecer interiormente, procure falar, conversar com alguém sobre seus sentimentos. Muitas vezes, em vez da boca, o remédio entra pelo ouvido, substituindo a angústia ou aflição pela paz e esperança.

Nessa arte de bem ouvir é necessário ter generosidade e complacência, além da disponibilidade para escutar. É necessário ainda despir-se de preconceitos, não julgando o interlocutor por sua aparência, linguagem, gênero ou posição social.

Quem escuta não deve ter pressa em dar solução ou oferecer proposta, porque, muitas vezes, aquele que partilha quer apenas encontrar alguém que o escute e o entenda no momento que passa.

Relato aqui duas histórias sobre o cuidado que se deve ter também no falar, porque somos senhores de tudo o que pensamos e não dizemos, mas nos tornamos escravos daquilo que falamos.

Vieira era um aprendiz na espiritualidade. Enquanto o corpo dormia, comparecia a reuniões na Vida Maior. E certa noite foi surpreendido. Estava sonhando com o velho Barbosa, que insistia em dar-lhe explicações sobre sua vida, já que Vieira durante o jantar havia falado muito da vida do velho para seus familiares.

Como não sabia da história completa do amigo, agora desencarnado, e fizera comentários desairosos na opinião do morto, Barbosa veio tomar satisfação.

E Vieira, acordado por amigos espirituais, comenta consigo: — Será possível que o velho Barbosa morto veio irritado conversar comigo por aquilo que eu disse? Não é verdade! Alguma coisa que comi no jantar deve ter provocado este pesadelo...

Conta-se também de famoso orador, notabilizado pelas belas dissertações que fazia em palestras emocionadas, diante de numerosa plateia. No meio dos espectadores, destacava-se um velho frequentador, sempre atento ao orador e reconhecido pelas mensagens que recebia. Como todos estamos de passagem nesta escola, retornando depois à vida espiritual, eis que o consagrado orador e o velhinho também retornaram ao mundo maior.

O orador, depois de um período de sofrimento, foi socorrido pelo velhinho, que o escutara com atenção, mas de quem nunca soubera o nome. Vendo que seu fã de cadeira vinha em seu socorro, envolto em suave claridade, não resistiu ao desejo de perguntar:

— Qual o segredo para irradiar tamanha luz e encontrar-se tão bem?

— Segredo, não sei se existe. Só sei que eu praticava tudo o que você dizia.

 

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora EME.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita