Estudando as obras
de Manoel Philomeno
de Miranda

por Thiago Bernardes

 
Entre os Dois Mundos

(Parte 37)

 

Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco no ano de 2004.


Questões preliminares


A. Marcondes também esteve envolvido, junto de Eduardo, nas perseguições feitas na França aos protestantes?

Sim. Ele conheceu Eduardo naquela mesma época, logo após a matança de agosto de 1572, ao tempo de Catarina de Médicis. Fizeram-se então amigos e participaram das escaramuças religiosas e dissipações morais que produziram tão tristes consequências, fato que Marcondes deplorava e o levou a reconhecer enfaticamente: “Sou um infame! Não mereço compaixão nem ajuda”. (Entre os dois mundos. Capítulo 23: Eduardo e Marcondes.)

B. O que realmente nos importa como seres reencarnados que somos?

Su­perar as paixões que nos agrilhoam ao solo do prima­rismo, saber aproveitar cada momento e avançar, ainda que vagaro­samente, é o que nos cumpre realizar, se efetivamente desejamos evoluir espiritualmente e atingir a meta para a qual fomos criados, que é a perfeição. (Entre os dois mundos. Capítulo 23: Eduardo e Marcondes.)

C. Que ligação existe entre os lamentáveis episódios de 1572, os desmandos cometidos na Revolução Francesa de 1789 e o Brasil?

Conforme o que foi dito a Manoel Philomeno pelo instrutor espiritual Dr. Almeida, a Revolução Francesa de 1789 teria sido a continuação natural dos acontecimentos detestáveis ocor­ridos pouco mais de duzentos anos antes. Os autores dos desmandos então praticados, não podendo prosse­guir na psicosfera da França, em que adquiriram tantos ad­versários, foram então encaminhados para o Brasil, uma nação onde não tinham compromissos infelizes, a fim de auxiliarem no seu desenvolvimento e serem aju­dados em sua própria recuperação espiritual. (Entre os dois mundos. Capítulo 24: Diálogos e elucidações oportunas.)


Texto para leitura


339. O sábio Mentor comovera-se ante a Misericórdia Di­vina, que faculta tantas concessões aos calcetas, que somos quase todos nós, a fim de que nos reabilitemos, mesmo que sem qualquer mérito para a ascensão que nos aguarda. Em seguida, vendo que Eduardo, como mecanismo de fuga, parecia predisposto a uma crise convulsiva, ele falou-lhe com energia: “Reaja ao transtorno emocional, porque você não se encontra sob a injunção dos neurônios cerebrais... Mante­nha-se lúcido, consciente. Reaja!... Você irá proteger o irmão que lhe abriu o coração, reabilitando-se e propondo-lhe felicidade. Ser-lhe-á servidor devotado, a fim de que os seus dias, na Terra, sejam prolon­gados em favor do ministério que ele abraça. E aproveite-lhe a convivência para melhorar o pa­drão mental e de conduta emocional, preparando-se para o amanhã, quando ele o antecipar na viagem de volta à Pátria. Mergulhe o pensamento e a emoção nas páginas da Doutrina Espírita, que nunca lhe mereceu qualquer respei­to ou atenção, a fim de iluminar-se, vencendo as heranças mórbidas do passado”. No silêncio, que se fez natural, Ângelo acercou-se e aplicou-lhe passes de refazimento de energia e de renovação emocional. Minutos após, o enfermo da alma dormia algo tranquilamente. (Entre os dois mundos. Capítulo 23: Eduardo e Marcondes.)

340. Desde quando o hábil hipnotizador espiritual condu­zira Eduardo ao passado, a indução bem aplicada atingiu também Marcondes, que passou do estupor inicial do que ouvia ao profundo sono que o mergulhava no pretérito. O psiquiatra espiritual gentil aproximou-se do sofre­dor e falou-lhe, com certa doçura: “Desperte agora para as lembranças do mesmo perí­odo... Você conheceu Eduardo naquela conjuntura, após a matança de 24 de agosto... Fizeram-se amigos... Também participou com irresponsabilidade de algumas escaramuças religiosas e dissipações morais. Mas não era de compleição odienta. Mais tímido e vulnerável, deixou-se conduzir pelo comparsa, comprometendo-se gravemente. Agora dispõe de oportunidade ditosa de refazer o caminho, de renovar as aspirações, de edificar a felicidade futura”. Dito isso, o Mentor calou-se, a fim de dar tempo à retentiva do ouvinte trazer de volta os torpes acontecimentos. De súbito, Marcondes suspirou dolorosamente e bradou: “Sou um infame! Não mereço compaixão nem ajuda”. (Entre os dois mundos. Capítulo 23: Eduardo e Marcondes.)

341. Iniciou-se então importante diálogo: “Engana-se – disse-lhe o Mentor. Somos todos frágeis, comprometidos com a consciência, credores de misericórdia e de piedade. Por isso, o Supremo Pai concede-nos oportunidades contí­nuas para a reabilitação que não podemos postergar inde­finidamente. Não seja cruel com você mesmo, a ponto de escusar-se ao auxílio dos céus”. Marcondes, contudo, foi sincero: “Sou revel! Matei em nome de Deus, usurpei os recur­sos de outros, maquinei misérias contra o meu próximo, vili­pendiei a verdade... E apodreci em vida num cárcere subter­râneo, esquecido... Mas não paguei tudo quanto fiz de mal”. O Mentor então ponderou: “A Deus cabe a análise das ocorrências. A culpa que o aflige é efeito natural do despertar da consciência, mas não lhe dá o direito de eleger punição, porque os nossos são os recursos da injustiça e da ignorância. O querido irmão também se apaixonou pela jovem diva, a quem já nos referimos – Georgette-Louise – e em­bora lhe despertasse algum sentimento de simpatia, a sua convivência com o detestável violentador, estimulou-a a recusá-lo, sem que o haja esquecido. Em razão daquela memória, foi buscá-lo no tormen­to em que tombou após o casamento fracassado e o surto esquizofrênico que o levou ao hospital psiquiátrico, dando­-lhe guarida e facultando-lhe ocasião para a reabilitação que tem sabido utilizar com nobreza”. (Entre os dois mundos. Capítulo 23: Eduardo e Marcondes.)

342. Na sequência, o psiquiatra desencarnado espiritual lembrou-lhe que a vida são as lições de recomeço incessante e de su­peração das paixões que nos agrilhoam ao solo do prima­rismo pelo qual iniciamos o processo de crescimento. Saber aproveitar cada momento, avançando, mesmo que vagaro­samente, é o que nos cumpre realizar, especialmente depois de travarmos conhecimento com o Espiritismo, a sublime Mensagem que nos traz Jesus de volta à convivência. E concluiu dizendo-lhe: “Não tema, meu irmão! Liberte-se das aflições que o molestam, instalando no íntimo a irrestrita confiança em Deus, certo de que triunfará, caso permaneça trabalhan­do, auxiliando o amigo e benfeitor, com o mínimo que seja, não lhe criando qualquer embaraço ou dificuldade, tornando-se ponte que facilita o acesso, jamais obstáculo que impede o trânsito. Seus vigilantes amigos espirituais estarão socorrendo­-o nos momentos mais difíceis, inspirando-o a vencer o cerco dos inimigos desencarnados que foram granjeados naqueles dias e a superar as tendências doentias que rema­nescem no país da sua realidade. Agora, que as lembranças ressumaram, durma para diluí-las outra vez, ficando somente as recordações saudá­veis da nossa convivência, da presença do bem na sua exis­tência, de tudo quanto pode produzir e realizar em favor de si mesmo e do seu próximo. Deus o abençoe!” (Entre os dois mundos. Capítulo 23: Eduardo e Marcondes.)

343. Germano aplicou energias anestesian­tes no paciente, que logo voltou a dormir com tranquilidade. E Izidro, tomado de imensa gratidão e emocionado, abraçou o Mentor, agradecendo a toda a equipe socorrista com pala­vras ricas de gentileza cristã, renovando o entusiasmo para o prosseguimento dos deveres abraçados por todos. Nesse momento, diz Manoel Philomeno, uma luz penetrante e bela desceu sobre todos, provinda de elevada esfera de bênçãos, e ele deu-se conta que se tratava de energia emitida pelo venerando Policarpo, que certamente acompanhava os acontecimentos que se desenrolavam naquele recinto espiritual. Ato contínuo, com grande emotividade, o nobre Clí­menes, o Guia espiritual de Izidro, com elevada oração en­cerrou a reunião, sendo reconduzidos ao lar os convidados em espírito, enquanto a Natureza respirava a brisa do ama­nhecer de suave claridade. (Entre os dois mundos. Capítulo 23: Eduardo e Marcondes.)

344. Diálogos e elucidações oportunas – Diz Manoel Philomeno que se mente esfervilhava de interrogações. As ob­servações haviam sido muitas. Ele recordava que, mesmo enquanto estava na jornada física, to­mara conhecimento de que algumas dezenas de milhares de espíritos que participaram da Revolução Francesa encontra­vam-se reencarnados no Brasil, a fim de contribuírem com a sua missão histórica de expandir o Evangelho em devolu­ção a outros povos. Ignorava, no entanto, que também aqui estivessem os verdugos da corte de Carlos X e Catarina de Médicis, membros nefários da Noite de São Bartolomeu e dos seus dias subsequentes. Constatava agora que isso era lógico, em face da opor­tunidade que tiveram os hediondos perseguidores dos calvi­nistas de reabilitar-se nos dias da Revolução, e que, não o conseguindo, receberam nova chance, porém, fora da psicos­fera onde inscreveram os terríveis desmandos, portanto, nou­tro país, que não a França... (Entre os dois mundos. Capítulo 24: Diálogos e elucidações oportunas.)

345. Com tantas interrogações na mente, Philomeno, assim que surgiu uma oportunidade, interrogou o Dr. Almeida: “Constato, após a elevada reunião que tivemos, que alguns dos envolvidos em dramas espirituais e expiações dolorosas, no Brasil, procedem, também, daquele agosto terrí­vel e dos anos que o sucederam?” O Benfeitor gentilmente respondeu: “Como não, caro Miranda – como a Revolução Francesa de 1789 é a continuação natural dos acontecimentos detestáveis ocor­ridos há mais de duzentos anos, é compreensível que aque­las personagens que fomentaram a hediondez, estejam ressuscitadas na carne dos que geraram as tragédias pos­teriores, embora os ideais de libertação de que se fizeram portadores os filósofos e idealistas. Não podendo prosse­guir na psicosfera do país, no qual adquiriram tantos ad­versários, foram encaminhados esses espíritos endividados para uma nação onde não tinham compromissos infelizes, a fim de auxiliarem no seu desenvolvimento e serem aju­dados na própria recuperação espiritual. Tudo, em a Natureza, obedece a uma planificação cui­dadosa e mantém-se mediante sábio intercâmbio de forças e de auxílios recíprocos”. (Entre os dois mundos. Capítulo 24: Diálogos e elucidações oportunas.)

346. Na sequência, Dr. Almeida explicou que, no que diz respeito ao processo de evolução do ser imortal, os venerandos guias da Humanida­de cooperam entre si, de modo que um grupo étnico auxilie outro em maior dificuldade, uma comunidade histórica abra portas a outra que necessite de renovação e conquista de paz. E assim tem sido através dos tempos. Impérios que sucumbiram ante a violência de que se fizeram arbitrários dominadores ressurgiram em novas nações que permitem, àqueles fracassados, a oportunidade de aplicarem as habili­dades e conhecimentos que fomentam o progresso do novo grupo, enquanto lapidam as imperfeições morais e engrandecem os sentimentos. Concluindo, disse o instrutor amigo: “Assim, vemos os atenienses retor­nando nas roupagens culturais e artísticas dos parisienses, os espartanos volvendo ao proscênio terrestre entre os alemães, os conquistadores romanos vestindo as novas indu­mentárias da América do Norte, e sucessivamente... Ninguém sairá do palco terrestre sem que sejam subli­mados os valores da inteligência e da emoção, que se apre­sentarão em qualquer parte do cenário planetário”. (Entre os dois mundos. Capítulo 24: Diálogos e elucidações oportunas.)

347. Referindo-se, em seguida, ao caso Eduardo-Marcondes, Manoel Philomeno perguntou ao amigo espiritual: “Notei que o querido servidor utilizou de métodos diferentes no atendimento a Eduardo e a Marcondes. Ao primeiro, foi aplicada uma terapia enérgica, enquanto que, ao segundo, foi oferecida uma de natureza mais suave. Por que esse procedimento?” O Mentor respondeu: “É compreensível que, diante de uma enfermidade perigosa, dilaceradora e em estado de avanço inexorável, se­jam utilizados os recursos mais vigorosos, como amputação dos membros degenerados, aplicação de processos de químio e radioterapia, objetivando-se salvar o paciente e não as suas partes, algumas das quais, secundárias. No caso do nosso Eduardo, a gravidade do seu transtorno exige terapêutica severa, a única portadora de recursos para despertá-lo para a realidade de que foge, escamoteando a responsabilidade dos atos infames, mediante a transferência de culpa que atira so­bre outrem. O nosso Marcondes, diferentemente, tem sido dócil ao sofrimento reparador e, ao mesmo tempo, procede de maneira edificante, auxiliando o trabalho da fraternida­de sem reclamações quanto aos sofrimentos que o aturdem. Assim, embora portadores do mesmo transtorno espiritual encontram-se em estágios diferentes de recuperação”. (Entre os dois mundos. Capítulo 24: Diálogos e elucidações oportunas.)

348. Manoel Philomeno indagou em seguida: “É possível prever-se como reagirão ambos os atendi­dos após o despertar e a partir de hoje, ao lado do médium Izidro?” O Mentor respondeu: “Sim, de alguma forma podemos concluir que Edu­ardo se apresentará indisposto, em face do seu temperamen­to rebelde. Atribuirá o desdobramento a conflito da perso­nalidade e pensará que foi vítima, mais uma vez, de algum ardil provocado por adversários desencarnados. Entretanto, os recursos calmantes e as energias próprias para o seu es­tado, que lhe foram aplicados, diminuir-lhe-ão a agressi­vidade, dar-lhe-ão ensejo de avaliar melhor a sua situação ao lado do seu protetor. No entanto, manterá o comércio infeliz com as entidades perturbadoras, a cujo convívio se habituou, em face dos clichês mentais doentios em que se compraz... Haverá, cedo ou um pouco mais tarde, uma mudança para melhor, ao dar-se conta que o companheiro devotado terá um período menos largo no corpo, o que irá feri-lo intimamente, pelo medo de perder os benefícios de toda ordem que haure, por estar-lhe ao lado”. Com referência a Marcondes, ele disse que as lembranças seriam mais vivas, aumentando nele o sentimento de ternura pelo amigo e a necessidade de trabalhar mais, a fim de readquirir a paz de que necessita com urgência. (Entre os dois mundos. Capítulo 24: Diálogos e elucidações oportunas.) (Continua no próximo número.)

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita