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por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

 

Escola e dignidade cultural


Apostar numa Filosofia da Educação para o conhecimento, para o trabalho, para a vida e para a felicidade, poderia ser uma excelente promessa eleitoral, todavia, a educação não pode ficar prisioneira de promessas, e muito menos de promessas não cumpridas. A educação vai muito mais além do que a simples, e quantas vezes enganadora, propaganda demagógica, porque ela deve ser entendida como um desígnio nacional que todos, sem exceção, devem ajudar a concretizar.

O mundo moderno, que se pretende civilizado e democrático, quaisquer que sejam os instrumentos constitucionais, em que uma determinada sociedade se constitua, tolera cada vez menos as práticas ditatoriais e, nesse sentido, implementará medidas educativas, formativas e cívicas que, gradualmente, inspirem um novo conceito de cidadania.

Na base de tais estratégias, e para lhes dar a credibilidade e eficácia adequadas, encontra-se a Escola no seu papel insubstituível de educar, formar e instruir. Naturalmente que não se pode ignorar a força, legitimidade e competências do poder político, legal e democraticamente constituído, ao qual compete, em primeira instância, enquanto legislador e executor, traçar os objetivos, proporcionar os meios e acompanhar todo o processo educativo.

Neste quadro, a ideologia política dominante procura, por consenso ou votação democrática maioritária, aprovar o projeto educativo que melhor se identifica com o seu programa político. Será pela educação, em contexto escolar, que se desenvolvem as metodologias que visam direcionar o cidadão para determinados valores, princípios e comportamentos.

Construir um projeto educativo, à medida de determinadas vocações, é um objetivo nobre, que não só dignifica a instituição escolar, como enriquece todos os intervenientes na iniciativa, sejam educadores-formadores, sejam educandos-formandos e qualquer outro pessoal fora do contexto escolar, mas que sinta o chamamento vocacional para uma área da intervenção educativa.

Nesta linha de orientação, o perfil do cidadão, que se pretende para os novos tempos que se avizinham, será o de um interventor decisivo na elaboração, desenvolvimento prático e validação do projeto vocacional, para o que, indiscutivelmente, carece de uma orientação credível, e, ao longo da vida, a qual será prestada por instituições escolares dos vários níveis do ensino/aprendizagem e formação, para o efeito dotadas dos recursos humanos, técnicos e financeiros, especificamente apropriados e compatíveis, na medida em que nestes projetos, e no seu sucesso, se joga, em grande parte, a felicidade, em todos os sentidos do humanamente possível, da sociedade do futuro.

Com efeito, caminha-se para uma sociedade cada vez mais: exigente, instruída, informada, interventora e com poderes decisórios, porque «Os jovens se tornam cada vez mais exigentes na definição do seu percurso profissional, a orientação vocacional (aqui situada em termos de educação de projectos) desempenha papel fundamental na construção individual de um projeto de existência» (FONSECA, 1994:67).

Investir na educação, em ordem à construção de uma sociedade instruída, culta e cívica, corresponde a terminar com a maior parte dos conflitos mundiais, a médio prazo. No limite, significa, entre outras interpretações, igualmente legítimas, educar para a cidadania.

Bem no âmago da questão, estará sempre o desejo de um novo e diferente cidadão, o qual tem de ser preparado pelos agentes de socialização, com destaque, principalmente no tempo, para a família e para a escola. Deseja-se a intervenção de uma filosofia prudente.

Urge proporcionar condições de interiorização de uma cultura para a cidadania, a partir da Filosofia da Educação, na vida ativa integrada na sociedade, na opção responsável por: princípios, valores, atitudes, participação num qualquer domínio democrático da sociedade. Nesta lógica, elaboração de teorias, projetos utópicos ou publicação de muitos artigos científicos, podem ser articulados com as experiências vivenciadas individual e/ou coletivamente; e a sabedoria popular que resulta da acumulação dos saberes das várias gerações.

Educar para uma cultura da cidadania do século XXI é um projeto que não pode dispensar a participação, tanto do cidadão anônimo, quanto do mais ilustrado acadêmico, porque, «Em termos restritos, a cidadania consistirá, então, na inserção do indivíduo no espaço político e na participação dos cidadãos nas instituições sociais. Na perspectiva do Estado, a cidadania significa lealdade, participação e serviço em benefício da coletividade. Na perspectiva do indivíduo, a cidadania traduz-se por liberdade, autonomia e controlo político dos poderes públicos» (Ibid.:43).

 

Bibliografia:


FONSECA, António Manuel Fonseca, (1994). Personalidade, Projectos Vocacionais e Formação Pessoal e Social, Porto: Porto Editora.

 



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita