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por Leda Maria Flaborea

 

Pão da alma


“Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” – Paulo. (I Coríntios, 5:6.)


Ninguém vive só, porque, se assim fosse, Deus não nos teria criado como seres gregários, necessitando viver em sociedade para que, juntos aos outros, pudéssemos evoluir. É no encontro com o outro que posso ensinar – quando alguém quer aprender; aprender – quando me disponho a aceitar que não sei tudo; a ajudar – quando encontro alguém que queira ser ajudado; e, principalmente, ser ajudado – quando me aceito limitado física e espiritualmente.

Justamente pelo fato inconteste de necessitarmos viver cercados por outros seres – a família representa a síntese desse agrupamento – é que nos achamos magneticamente ligados ou associados uns aos outros. A consciência desse estado real é tão importante que precisamos saber que espécie de forças estamos projetando para aqueles que nos cercam, direta ou indiretamente, bem como quais forças estamos captando desses companheiros, sejam eles encarnados ou desencarnados. Mister se faz perguntarmos a nós próprios: que escolhas estamos fazendo para nós? De que forma estamos conduzindo nossa existência?

Emmanuel recorda que “Nossa vida é sempre fermento espiritual com que influenciamos as existências alheias”¹, embora estejamos mais preocupados com as escolhas que os outros fazem. Somos, em suma, uma imensa multidão de seres sonolentos, preguiçosos demais e vaidosos em excesso para percebermos que, muitas vezes, gestos insignificantes alcançam o outro, provocando inesperadas decisões pelas quais, queiramos ou não, somos corresponsáveis.

A atmosfera espiritual ao redor dos nossos passos, da qual somos construtores e gestores, mistura-se à de outras pessoas – encarnadas e desencarnadas – engrossando-as com elementos positivos ou negativos, que as equilibram ou desarmonizam. Assim, palavras, atos e atitudes – nosso corpo tem linguagem muito expressiva – geram comportamentos em quem nos ouve, lê ou vê, provocando imitações, interferindo, muitas vezes, na elaboração das forças mentais dos nossos semelhantes.

Se interferimos, também absorvemos essas forças – lei de fluxo e refluxo – e a única forma segura de evitarmos sugestões menos felizes é aceitar, sempre, as orientações para o bem, praticando-as, vivenciando-as, a cada dia da nossa existência, sem temor, num processo de multiplicação dessas ações. Daí a importância de percebermos a forma pela qual estamos dirigindo nossa existência, que escolhas estamos fazendo.

O capítulo 18 de O Evangelho segundo o Espiritismo é muito rico nessa advertência. É um convite a pensarmos sobre essas questões, porque temos muita dificuldade em saber se estamos certos ou errados, se devemos ou não fazer determinada coisa; enfim, temos tantas dúvidas que nos sentimos como crianças diante de muitos brinquedos sem saber qual escolher para brincar. E é por conta disso, que ainda precisamos dos ensinamentos de Jesus, como orientação e sustentação nas nossas determinações.

Entretanto, se essas determinações têm origem na ideia e se a mente é o berço dela – não importa onde estivermos ou quando –, então, mudando-se a ideia, muda-se o homem, melhorando-se o mundo. Emmanuel é claro quando afirma que aquilo que geramos na mente é fermento espiritual, porque estabelece atitudes, que geram hábitos, passando a governar expressões e palavras, “através das quais a individualidade influencia na vida e no mundo”.¹

E ele prossegue: “Acautela-te, pois, com o alimento invisível que forneces às vidas que te rodeiam. Desdobra-se-nos o destino em correntes de fluxo e refluxo. As forças que hoje se exteriorizam de nossa atividade voltarão ao centro de nossa atividade, amanhã”.²

Não sem razão, Herculano Pires deixou-nos essa joia para reflexão: “Deus no Centro (considerando a palavra Centro como o Universo – grifo meu) é Deus em nós, ajudando-nos a crescer com o fermento da fraternidade que Ele, pouco a pouco, aumenta em nossa medida de farinha, na proporção em que a farinha do nosso egoísmo absorve o fermento e se transforma no pão que nos alimenta a alma”.³

 

Bibliografia:

1 – XAVIER, F. C. – Fonte Viva – ditado pelo Espírito Emmanuel - Rio de Janeiro/RJ: Federação Espírita Brasileira – 3ª. Ed., 2005, lição 76.

2 – --------------------, lição 108.

3 – PIRES, J. Herculano, O Centro Espírita, São Paulo/SP. 4ª edição – LAKE Editora, 1992, Cap. V, P. 41.

4 – KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. 18.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita