O Espiritismo responde

por Astolfo O. de Oliveira Filho

Recebemos em nossa revista a seguinte pergunta formulada por um leitor de Brasília-DF:

Participo de um grupo de passes, em uma casa espírita de Brasília, há quase quarenta anos, e gostaria de esclarecer a seguinte dúvida:

Na semana passada houve uma queixa à Diretoria de Assistência Espiritual da Casa onde trabalho, de uma pessoa que havia tomado passe naquele Grupo do qual faço parte. Na sua queixa a jovem reclamante afirmou o seguinte:

"[...] Além da demora das preces, a passista me aplicou um passe muito concentrado... não deu outra... passei muito mal...".

Ao ser questionado pela Casa sobre o ocorrido, esclareci que se tratava de uma afirmação equivocada. Esclareci ainda que "passar mal em decorrência de passe concentrado" não existe em Doutrina Espírita, a meu ver. Pelo que sei, nas práticas espíritas do passe, são os Espíritos, trabalhadores do Grupo, seus verdadeiros condutores. São eles que inteligentemente manipulam e distribuem os fluidos exatamente de acordo com as necessidades de cada assistido, nem mais, nem menos. Nunca em excesso. Não permitem, portanto, a "concentração fluídica", relatada pela reclamante e muito menos o "congestionamento fluídico".

A responsável pelo setor de assistência espiritual da Casa respondeu o seguinte:

"[...] Quanto aos assistidos que se sentem mal durante a aplicação do passe, são, sem dúvida, inúmeros os fatores que podem causar a desarmonia..., destacando-se aí a aplicação do "passe concentrado" por um tempo mais longo que o indicado. Essa prática, pode sim causar "congestionamento fluídico" [...].

Ou seja, ela confirmou que a assistida tinha razão e que podia sim "passar mal em decorrência de passe concentrado", acrescentando ainda a expressão "congestionamento fluídico", que a meu ver, também não acontece no passe espírita.

Assim sendo, continuo com minhas dúvidas sobre "passar mal em decorrência de passe concentrado" e "congestionamento fluídico", durante o passe, e gostaria imensamente que o assunto fosse melhor esclarecido, à luz da Doutrina Espírita, pela estudiosa equipe de "O Consolador".

Antes de responder objetivamente à questão proposta, é importante recordar algo que nos parece fundamental com relação à imposição das mãos ou o chamado passe magnético.

Lemos no texto que compõe a 11ª Sessão de Exercício Prático do Centro de Orientação e Educação Mediúnica (COEM), obra elaborada pelo Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba (PR), sob a supervisão dos médicos psiquiatras doutores Alexandre Sech e Célio Trujillo Costa:

“A imposição de mãos, como o fez Jesus, é o exemplo correto de transmitir o passe. Os movimentos que gradativamente foram sendo incorporados à forma de aplicação do passe criaram verdadeiro folclore quanto a esta prática espírita, desfigurando a verdadeira técnica."

“Os passistas passaram a se preocupar mais com os movimentos que deveriam realizar do que com o dirigir seus pensamentos para movimentar os fluidos."

Referindo-se ao assunto, José Herculano Pires foi claro e didático:

"O passe espírita é simplesmente a imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus, como se vê nos Evangelhos. Origina-se das práticas de cura do Cristianismo Primitivo. Sua fonte humana e divina são as mãos de Jesus. O passe espírita não comporta as encenações e gesticulações em que hoje o envolveram alguns teóricos improvisados, geralmente ligados a antigas correntes espiritualistas de origem mágica ou feiticista. Todo o poder e toda a eficácia do passe espírita dependem do espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium passista e não dele mesmo. Os passes padronizados e classificados derivam de teorias e práticas mesméricas, magnéticas e hipnóticas de um passado há muito superado. Os Espíritos realmente elevados não aprovam nem ensinam essas coisas, mas apenas a prece e a imposição das mãos. Toda a beleza espiritual do passe espírita, que provém da fé racional no poder espiritual, desaparece ante as ginásticas pretensiosas e ridículas gesticulações.” (Obsessão, o passe, a doutrinação, editora Paideia, págs. 35 a 37.)

A orientação acima, manifestada pelos psiquiatras citados e por José Herculano Pires, fundamenta-se primeiramente em uma lição geralmente esquecida que encontramos em O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 176, 2ª pergunta, em que Kardec reproduz uma informação dada por um instrutor espiritual segundo o qual a força magnética reside no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio.

Dada essa informação, o instrutor espiritual esclareceu:

“Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias". (O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 176.)

Vê-se, pois, que não são as mãos do médium passista que dirigem o fluido, mas sim o Espírito que vem em seu socorro e o secunda na atividade do passe.

Essa informação foi ratificada cerca de três anos depois em uma matéria  publicada por Allan Kardec em janeiro de 1864 na Revista Espírita(Edicel, ano de 1864, pág. 7), na qual transcreveu mensagem de Mesmer (Espírito), recebida na Sociedade Espírita de Paris em 18/12/1863.

Mesmer, analisando as curas espirituais, diz na mensagem que Deus sempre recompensa a pessoa sincera que pede a ajuda espiritual, enviando-lhe o socorro para que ela possa auxiliar o enfermo. "Esse socorro que envia são os bons Espíritos que vêm penetrar o médium de seu fluido benéfico, que é transmitido ao doente", diz Mesmer, que, a seguir, acrescenta: "Também é por isto que o magnetismo empregado pelos médiuns curadores é tão potente e produz essas curas qualificadas de miraculosas, e que são devidas simplesmente à natureza do fluido derramado sobre o médium; ao passo que o magnetizador ordinário se esgota, por vezes em vão, a fazer passes, o médium curador infiltra um fluido regenerador pela simples imposição das mãos, graças ao concurso dos bons Espíritos".

O passe praticado na Casa Espírita é, pois, do tipo misto, ou humano-espiritual, em que, combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Essa terminologia é de Kardec, que a isso se refere no cap. XIV do livro A Gênese.

Nos estudos que integram a orientação emanada do Centro de Orientação e Educação Mediúnica (COEM), obra elaborada sob a supervisão dos médicos psiquiatras doutores Alexandre Sech e Célio Trujillo Costa, a que nos referimos inicialmente, o passe espírita – o passe humano-espiritual – pode, sim, ser maléfico, mas em condições diferentes da alegada pela jovem de Brasília (DF) que declarou ter-se sentido mal ao receber o passe.

O passe misto, informa o texto elaborado pelos colegas psiquiatras citados, pode ser maléfico:

- quando o passista se encontrar com estado de saúde precário;

- quando ele estiver com o organismo intoxicado por excesso de alimentação ou vícios (como fumo, álcool, drogas), ou

- quando estiver em estado de desequilíbrio espiritual (revolta, raiva, orgulho etc.)

e, em qualquer das situações, o paciente estiver com suas defesas nulas.

Tal é também o nosso pensamento, que concorda com o parecer de seis estudiosos espíritas, dois dos quais são médicos, que consultamos a respeito da questão proposta pelo leitor.

O mal-estar sentido pela jovem paciente deve estar certamente relacionado com outras causas e não necessariamente com o passe que lhe foi ministrado, salvo se tiver ocorrido naquela oportunidade alguma das hipóteses capazes de tornar maléfico ou nulo o passe humano-espiritual.

Sobre o tema imposição das mãos, sugerimos ao leitor e aos demais interessados que leiam também as matérias publicadas na seção O Espiritismo responde das edições 52, 236, 326, 331 e 415 desta revista.


  
 


 
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