Brasil
por Marcel Gonçalves

Ano 11 - N° 553 - 4 de Fevereiro de 2018


 

Hospital Espírita de Pelotas: 61 anos servindo à comunidade


A Constituição de 1988 criou o sistema universal de saúde, definindo as responsabilidades dos entes estatais (União, Estados e Municípios) e estabeleceu o direito à saúde como um preceito fundamental. Em paralelo foi criado por normativos complementares o sistema de saúde complementar, ofertado por operadores de planos e seguradoras de saúde, destinado a empresas e famílias, planos empresariais e individuais, regidos por diploma legal, regulado pela Agência Nacional de Saúde (ANS), autarquia vinculada ao Ministério da Saúde. Nessa combinação de agentes, teríamos a complementaridade de atividades, de forma uniforme e harmônica. Ocorre que uma dinâmica perversa criou ao longo das décadas uma transferência de responsabilidades e atribuições, de maneira que o sistema privado acabou sendo compelido a exercer um papel crescente de oferta de serviços, muitas vezes de forma transversa à revelia da relação contratual, transferência de responsabilidades, mudanças em coberturas e regras de elegibilidades e por fim a crescente judicialização de litígios das relações contratuais. Hoje, a situação dos serviços do setor privado encontra um quadro preocupante, aumento nos custos hospitalares, elevação nas despesas de internação e exacerbação na ampliação de coberturas. Todavia, muito antes da constituição criar o Sistema Nacional de Saúde, pessoas pelo Brasil a fora se organizavam em busca de soluções para as epidemias que a sociedade enfrentava e que o Estado não tinha capacidade de suprir. Nos idos de 1940 a cidade de Pelotas - RS enfrentava um sério problema, onde pessoas sofriam com transtornos psiquiátricos e perambulavam pelas ruas da cidade sem a perspectiva do recebimento de tratamento humanizado.

Sanatório Espírita de Pelotas foi o nome inicial – Naquela época os pacientes eram recolhidos ao presídio municipal aguardando a passagem do trem de passageiros que tinham como destino à capital Porto Alegre, momento este em que os pacientes embarcavam rumo ao Hospital São Pedro e no fim, muitos permaneciam lá até o final de suas vidas. Entendendo que esta situação era um tanto preocupante, a Liga Espírita Pelotense reuniu esforços e solicitou a prefeitura da época a doação de um terreno para fundar o Hospital Psiquiátrico que se encarregaria de cuidar das pessoas nestas situações. O Hospital Espírita de Pelotas é uma entidade filantrópica, sem fins econômicos, fundado pela Liga Espírita Pelotense em 12 de dezembro de 1948 e inaugurado em 31 de março de 1956. Na fundação recebeu o nome de Sanatório Espírita de Pelotas, havendo em 1988, a mudança para o atual. Atua na área de saúde mental sob uma visão holística, biopsíquica, sociológica, espiritual, tendo como filosofia "Aqui o homem é visto como um ser total".

É, estatutariamente, permitida apenas a participação do quadro social, efetivo e da cúpula diretiva da instituição, de irmãos que pertençam ao quadro social de casas espíritas filiadas à Liga Espírita. Utiliza terapias convencionais e recebe pacientes de todas as classes sociais, sem considerar suas origens étnicas, políticas ou religiosas. Atualmente o hospital possui 199 leitos, atendendo SUS, particulares e convênios, direcionados ao tratamento de pacientes com transtornos mentais e dependência química. Destes leitos, 160 são SUS, sendo que anteriormente eram 190, porém houve uma redução no ano de 2004 devido à Reforma Psiquiátrica. A instituição tem uma área própria de terreno 38.883,6 m² e a área construída total de 6.059,78 m². É o único hospital especializado em psiquiatria de Pelotas, sendo referência para atendimento da 3º Coordenadoria regional de saúde, que abrange 23 municípios.

Um grito de socorro – Atualmente, o Hospital Espírita de Pelotas possui cinco unidades: uma  voltada a pacientes do sexo masculino com transtornos psiquiátricos; uma unidade com pacientes do sexo masculino em situação de sofrimento oriundos do uso de álcool; uma unidade com pacientes do sexo masculino em situação de sofrimento oriundos do uso de  drogas; uma unidade destinada a pacientes do sexo feminino com transtornos psiquiátricos e em situação de sofrimento oriundos do uso de álcool ou drogas, e uma unidade de convênios médicos e particulares também para pacientes com sofrimento decorrente do uso de drogas e álcool e transtornos psiquiátricos. Como já mencionado, do total dos leitos do hospital, 80% é destinado a pacientes atendidos pelo SUS que recebem internação sem nenhum custo. Recentemente, a equipe da instituição deu um grito de socorro, talvez o primeiro de uma série, ainda que a torcida seja para que fique apenas no de hoje. É que a situação chegou no limite, em função de gritos anteriores não terem sido ouvidos, de o agravamento da situação não ter sido percebido. Por 24h o protesto ficou marcado por uma paralisação nas atividades externas do Hospital Espírita de Pelotas. Apenas os pacientes internados receberão a atenção dos servidores e gestores da instituição hospitalar. Apesar de relevante, o motivo é simples: a falta de recursos que dificulta a prestação dos serviços à comunidade. “Importante ressaltar que num passado recente, o Hospital Espírita de Pelotas mantinha 100% de seus leitos destinados ao SUS. Entretanto, face a impossibilidade de sustentar os custos de manutenção de seus serviços apenas com o Sistema Único de Saúde, teve que reduzir este percentual para 80% de sua capacidade instalada”, aponta o administrador, Tiago Martinato, lamentando ter de paralisar os atendimentos externos para tentar sensibilizar as autoridades.

As dificuldades financeiras são uma constante – O Hospital Espírita de Pelotas, pelo simples fato de ser um hospital especializado em psiquiatria, sofre limitações de acesso a verbas e políticas públicas de saúde. Viu ao longo dos últimos anos emendas parlamentares destinadas por senadores e deputados estaduais ao nosso Hospital, serem negadas, viu recursos também estaduais importantes serem suprimidos no primeiro semestre de 2015, e outros serem pagos com atraso no ano de 2016. Vê-se, pois, obrigado a trabalhar com valores de diárias de internação que não sofrem reajuste há mais de 5 anos, quando tudo, materiais, insumos, alimentos, medicações, salários, entre outros sofreram inúmeros reajustes. Atualmente o Hospital consta com o labor profissional de 216 funcionários distribuídos em funções das áreas técnico-médica e administrativa.

O hospital conta com atendimento multidisciplinar aos pacientes atendidos pela instituição como nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, entre outros. Já o departamento Espiritual foi criado fora do corpo do hospital, em espaço próprio, onde desenvolve todas suas atividades, não só doutrinárias, como também possui o seu setor assistencial, que cuida das principais necessidades dos pacientes, tanto materiais, físicas ou espirituais, todos desenvolvidos por voluntários da instituição.

Os pacientes são convidados a participar duas vezes por semana do departamento, não sendo obrigatório, para que recebam orientações por meio das palestras realizadas e também para receber o passe. Tais atividades são oferecidas à comunidade, porém em horários diferentes aos direcionados aos pacientes. É disponibilizada a pacientes, funcionários e à comunidade uma biblioteca, constituída de diversas obras espíritas para o esclarecimento de quem possuir interesse.

A felicidade está, sim reservada ao homem neste mundo – O Departamento Espiritual recebe doações de roupas e calçados, que são distribuídas aos pacientes internados na instituição conforme a necessidade. Nesse departamento são realizadas atividades como Reunião de desobsessão; Fluidoterapia: com horários exclusivos para pacientes e horários para a comunidade e Momento de reflexão para pacientes. A instituição possui também uma horta, espaço este conhecido como horta terapêutica que contribui na luta contra a dependência química, faz parte de um projeto do Núcleo de Terapia Ocupacional do hospital. O projeto conta além das terapeutas responsáveis, com um jardineiro profissional que ensina e orienta os pacientes no manejo correto da terra e das variedades cultivadas na horta. Inclusive, os alimentos são utilizados nas refeições dos próprios pacientes. Além de todo cuidado com higiene pessoal, serviço de hotelaria, os pacientes recebem 5 refeições diárias sendo café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e lanche noturno.

Segundo um paciente interno, a interação e participação efetiva nos trabalhos da horta nota-se quão é destrutível o uso de entorpecentes, pois assim como as plantas sofrem e se deterioram com o uso do agrotóxico, o corpo humano também sofre com a dependência química.

A felicidade, diz um Espírito Protetor, está reservada ao homem neste mundo, se a procurar antes na prática do bem do que nos prazeres materiais. A história da cristandade nos fala dos mártires que caminhavam com alegria para o suplício. Hoje, para ser cristão já não é preciso enfrentar a fogueira do mártir, nem o sacrifício da vida, mas única e simplesmente o sacrifício do egoísmo, do orgulho e da vaidade. Triunfaremos, se a caridade nos inspirar e formos sustentados pela fé.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita