Brasil
por Giovana Campos

Ano 11 - N° 545 - 3 de Dezembro de 2017


 

Sheila Simões, autora do livro O Rei Maltrapilho, diz qual é a proposta da obra
 

Conceitos psicológicos e espíritas mostram um caminho para a transformação saudável de crianças e adolescentes através do livro

 

Uma obra voltada para o público infantojuvenil traz, de forma suave e lúdica, conceitos evangelizadores presentes em livros espíritas e em consonância com as principais linhas psicológicas.

A autora Sheila Simões (foto) é facilitadora do Grupo de Estudos da Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis da AMERGS e Sociedade Caminho da Luz,
localizados em Porto Alegre (RS).

Foi evangelizadora da infância e juventude, e hoje é expositora espírita e atua profissionalmente como psicóloga clínica de indivíduo, casal e família.

Sheila falou-nos sobe seu livro na entrevista a seguir.

Como você teve a ideia de escrever O Rei Maltrapilho?

No decorrer do trabalho com os grupos de estudo, resgatei uma estória desenvolvida no ano 1992, que escrevi para ilustrar o conceito da reencarnação para evangelizandos. A narrativa inicial contava a trajetória de um rei que precisava aprender as verdadeiras coisas boas da vida. Nunca a publiquei. Em 2015 resgatei esta estória pela memória e, ao reinventá-la, me foi intuído sobre a necessidade de prepararmos crianças e adolescentes para lerem Joanna de Ângelis. Com isso, me inspirei em uma citação de Carl Gustav Jung, no qual o ego, como centro da consciência, pensa que é o rei em seu castelo – psique – mas é apenas o porteiro e descobre que o verdadeiro rei é o self – Espírito.  Este é o sentido condutor da estória do Maltrapilho. A semente foi plantada duas décadas antes e o livro O Rei Maltrapilho é aquela primeira estória, agora mais madura e focada neste propósito de trabalhar o autoconhecimento com crianças da fase pré-adolescente e também com adolescentes, apesar de ser um livro lindamente ilustrado.

Por que escrever para o público infantojuvenil?

Se começarmos a desenvolver na criança o propósito da reencarnação, focando no Espírito e não no ego, estaremos preparando as futuras gerações de adultos mais autoconscientes e dispostos a estudar a obra de Joanna de Ângelis sem amarras, com maior aceitação, pois estarão mais familiarizados com os conceitos psicológicos e também mais bem preparados para lidar com seus aspectos psíquicos. Allan Kardec, em A Gênese, anunciou que as crianças das gerações futuras seriam Espíritos mais evoluídos, que renovariam a humanidade. Nos grupos de estudo da Série Psicológica de Joanna de Ângelis, em que sou facilitadora, encontramos dificuldade entre os adultos diante do conteúdo ofertado. O motivo pode ser por que eles próprios nunca se trabalharam psiquicamente e sentem resistência em aprender esses conteúdos, mas é uma mudança de paradigma necessária para a nova fase de regeneração em que vamos entrar. Sabemos por Divaldo Franco que os teóricos da Psicologia como Freud, Jung, Adler entre outros, referenciados por Joanna de Ângelis, foram seus discípulos na espiritualidade. Eles haviam assumido o propósito de mudar o enfoque da psicologia no mundo ao reencarnarem, porém não conseguiram cumpri-lo totalmente. Joanna de Ângelis faz referência aos conceitos da Psicologia com naturalidade, integrando-os ao vocábulo espiritista: “O Self não é apenas um arquétipo-aptidão, mas o Espírito com as experiências iniciais e profundas de processos anteriores...”

Quais os conceitos educacionais que o livro desenvolve?

À primeira leitura, O Rei Maltrapilho traz uma estória simples e familiar, com situações reconhecidas na mitologia, nas parábolas de Jesus e nos aspectos morais do Evangelho. Este é o primeiro conceito a ser observado, pois trata-se de um conteúdo reconhecido em todos nós: os arquétipos.

Arquétipos são padrões de comportamentos comuns a todas as pessoas, em todos os tempos da humanidade, que se repetem indefinidamente cada vez que a experiência é vivida. Para o adulto, a trajetória do Maltrapilho pode mexer com as certezas em relação à vida e despertar para a própria saga evolutiva. Contudo, será que para as crianças e adolescentes se daria da mesma forma? Pode-se afirmar que para esta faixa etária os aspectos a serem explorados estão à disposição mais naturalmente, já a consciência é mais receptível à linguagem que fala diretamente à alma: a simbólica.

O principal padrão a ser trabalho é o da transformação, o encontro com o Eu maior/Self desenvolvido na relação do Maltrapilho com o velho súdito/Rei. São explorados, também, conceitos em relação ao ego como o egoísmo e o orgulho; a raiva e outras emoções; a troca de roupa como simbolismo da imagem social que representamos; o reconhecimento da caridade e humildade e a importância de nos descobrirmos na relação com o mundo, despertando a consciência ecológica para com os animas, a flora e a fauna. Na contracapa, o pós-texto traz algumas informações para os adultos que vão orientar as crianças e lá consta a pergunta essencial da obra: “Será que somos o senhor todo poderoso em nossas vidas?”

Como a Doutrina Espírita está inserida neste contexto?

A Doutrina Espírita permeia diversas passagens da narrativa, começando com a proposta de romper a cegueira das aparências, o reconhecimento da humildade e da descoberta do bem em atitudes simples. O velho súdito sugere que o reizinho - egocentrado - saia do castelo e descubra as “verdadeiras coisas boas da vida”, fazendo referência à importância de nos relacionarmos com o mundo fora de nós para reconhecer nossa realidade íntima no contato com o coletivo.

O Maltrapilho propõe este paradoxo, vivendo os fatos cotidianos ao invés de esconder-se em atitudes supérfluas, divagações vazias e racionalizações. Somente quando ele sai para a vida entra em contato com a sua sombra, a realidade que ele não percebia e necessitava reconhecer. Esta é a grande ilusão que todos nós vivemos. No entanto, ao retornar para o reino, também retorna para dentro de si, como um Filho Pródigo, onde acontece o confronto necessário para o ego descobrir-se. Assim, esta trajetória de autoconhecimento pode mostrar ao leitor que somos como o Maltrapilho, seres carentes de compreensão, de oportunidade e da misericórdia divina.

Somente quando vivermos nossa humanidade com coragem e aceitação, sem julgamentos frívolos, é que teremos a resposta à pergunta que cedo ou tarde nos fazemos: “Se, se, se você é o Rei, quem eu sou afinal?”

Sobretudo, quando os evangelizadores, mães e pais explorarem com as crianças cada descoberta do Maltrapilho, estarão proporcionando ao ego em formação a oportunidade precoce de perceber-se menor em relação ao maior que é o Espírito – Deus em nós. Este é o momento de despertar do Si profundo que Joanna de Ângelis nos ensina em sua belíssima obra de 16 volumes.

Algo mais que você gostaria de acrescentar sobre esta obra?

O Rei Maltrapilho é o início de um longo processo que pretendemos desenvolver com evangelizadores, mães e pais atentos ao ser espiritual em cada criança. Para isso, vamos promover junto à Federação Espírita do Rio Grande do Sul – FERGS – uma oficina piloto de treinamento com os evangelizadores para validar a proposta e proporcionar os esclarecimentos dos aspectos do livro a serem explorados em aulas, integrando Joanna de Ângelis ao programa da Evangelização.  Estamos prevendo, também, a continuidade da aventura para trabalhar outros conceitos presentes na obra da mentora.

 

Nota da autora:


Para adquirir a obra basta fazer contato com a Editora Francisco Spinelli. Para isso, clique neste link

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita