Brasil
por Paulo Salerno

Ano 11 - N° 543 - 19 de Novembro de 2017


 

Divaldo Franco: “É possível ser feliz, não se rebelando contra as provas, testemunhando, amando”

 

A edição de número 20 do Encontro Fraterno com Divaldo Franco aconteceu no período de 26 a 29 de outubro de 2017. Após ingentes e exaustivos trabalhos de planejamento, preparação e ajustes por uma grande equipe de eficazes colaboradores e voluntários, o evento de caráter internacional se efetivou com a chegada dos participantes, que acorrem ao complexo IberoStar - Hotéis & Resorts, localizado na Praia do Forte/BA.

Estampando alegria, acolhimento fraternal e amorosidade, Divaldo Franco, não deixando transparecer as suas dores cruciantes que vem experimentando desde o início deste ano, a todos recebeu com largo sorriso, abraços calorosos e olhar acolhedor, transmitindo confiança e esperança. Verdadeiro gentleman.

Suas palavras, dirigidas pessoalmente para muitos, são de estímulo e de júbilo. Houve encontros e muitos reencontros. Cada um, expressando-se pelos sorrisos e olhares, se fez fraterno e solidário materializados pelos abraços afetuosos, transmutando energias realimentadoras.

Assim é Divaldo Franco. Vive intensamente o momento, esquecendo-se de si, doando-se por inteiro ao seu próximo, independente de seu estado de saúde física ou emocional, oferecendo-nos um exemplo incomparável.

Abertura – No período noturno, com a presença de 661 inscritos, a vigésima edição desse magnífico evento de caráter internacional, que mobiliza espíritas e simpatizantes, teve seu momento de abertura marcado pela homenagem aos 20 anos dessa grandiosa e bem-sucedida realização, iniciada em 1997, quando contou com 255 presentes. Nilson de Souza Pereira, o Tio Nilson, desencarnado, foi homenageado carinhosamente pelo transcurso de sua data de nascimento, 26 de outubro, quando completaria 93 anos de idade.

Após cumprimentar e acolher os participantes, Divaldo Franco, falando sobre a temática do encontro, A jornada heroica da alma, deixou uma pergunta para ser respondida por cada participante até o final do evento: - O que te falta para tornar-se um herói?

Fixando-se na mensagem do monte, as bem-aventuranças, o destacado médium e orador espírita frisou a comunhão de Jesus com Deus no alto da montanha. Naquele momento sublime, rodeado pelos amigos, os seus diletos discípulos, deixou também expresso o quão importante são os amigos, tando nas horas de alegrias, de vitórias, quantos nas de tristeza e derrotas, eventos naturais da vida.

Moisés e Elias, o fardo e o jugo, o amor e a caridade são eventos magnos – personalidades e ensinamentos - que transformaram a humanidade, que nunca mais foi a mesma após a mensagem exemplificada pelo Mestre de Nazaré. Um dia não mais haverá lágrimas e dores, pois que o homem, vencendo a montanha dos desafios, das dificuldades, da solidão, comungará com Deus.

No mundo, Jesus viveu para o homem, amigo e solícito para com seus irmãos, conquistou os seus corações, jamais contaminando-se. Suas ações foram de acolhimento e esclarecimento aos desvalidos, aos sofredores, miseráveis e doentes da alma, aos cegos e leprosos, doando a sua paz, como só Ele a pode dar. A Sua jornada foi heroica, tornando-se ponte para os necessitados de toda ordem. Encerrando esse primeiro momento, Divaldo suplicou ao Mestre a ajuda para carregarmos a nossa cruz afim de tornar-nos, também, heróis do amor, dulcificando-nos no trabalho em favor do próximo.

Convidando um quarteto de profissionais da área da saúde, Divaldo entabulou um esclarecedor diálogo, dirigindo perguntas que objetivavam respostas sobre a construção de uma jornada de um herói na atualidade. Cláudio e Íris Sinoti, psicoterapeutas; Patrícia Cristina dos Santos Ferreira, médica geriatra; e Juan Danilo Rodriguez, médico de família e psicólogo, equatoriano residente em Quito, se esmeraram em definir o herói, suas dificuldades, a necessidade do amor e do autoamor, a contribuição espírita para a construção desse herói adormecido no imo de cada um, o autoconhecimento, livrando-o da ignorância de si mesmo, sendo chamado a entrar em contato consigo, encontrando a força moral para a construção do homem de bem, o homem da nova era.

O homem, ainda mergulhado nas sombras, isto é, na ignorância, principalmente de si mesmo, deve aprender a amar-se, libertando-se de suas marcas antigas, dos arquétipos. As doenças não devem fazer parte do rol de propriedades dos que as possuem, mas, torná-las em amigas facilitadoras do equilíbrio e da harmonia. O autoencontro, o desenvolvimento da força interna para descobrir o amor a si mesmo, aceitando as ingerências da vida, o envelhecimento, são etapas que contribuirão para a construção do herói desejável. Possuir a consciência dos valores e qualidades éticas, desenvolvendo características humanas, colocando-as a serviço do bem, do amor, amando uns aos outros, tornando-se melhor hoje do que foi ontem e superando suas inclinações más tornar-se-á um herói.

Narrando o poema Meu Deus e meu Senhor, de Amélia Rodrigues, Divaldo Franco encerrou a magnífica abertura do Encontro Fraterno, edição 2017, a vigésima, sob calorosos aplausos.

Quatro novas obras são lançadas – No dia imediato, Divaldo Franco, superando seus momentos de dores e desconfortos físicos, destacou que os amanheceres são de luzes e belas musicalidades, embora a voz do mundo chegue aos ouvidos das criaturas de forma tonitruante e perturbadora, a beleza interior, a serenidade e a esperança no porvir ditoso devem ser construídas com coragem e desassombro. Para alguns, salientou o nobre orador, o vazio existencial é necessário para que a plenitude seja alcançada.

Em comemoração aos vinte anos de Encontro Fraterno com Divaldo Franco, foram lançadas quatro novas obras. Em Busca da Iluminação Interior, de Joanna de Ângelis com psicografia de Divaldo Franco e comentários dos psicoterapeutas Cláudio e Íris Sinoti. De Álvaro Chrispino o título é Família(s): uma visão espírita sobre os novos arranjos e as velhas buscas. O terceiro lançamento leva a assinatura de Luis Hu Rivas cujo título é: Meus amigos Divaldo e Nilson, uma obra destinada ao público infantil. O quarto título – A Estrela Verde - é uma coleção de narrativas de Divaldo Franco compiladas por Delcio Carvalho.

Para destacar ser possível tornar-se alguém herói, Divaldo Franco, com uma narrativa emocionante, apresentou a história de luz e amor de uma pária hindu, contada na obra Muito Além do Amor, de Dominique Lapierre. A jovem que enfrentou os sofrimentos físicos e morais mais cruéis em sua infância e juventude, encontrou a libertação de suas dores na entrega total de sua vida ao Cristo, amando a todos os seres incondicionalmente e dedicando-se integralmente ao alívio dos sofrimentos de seus irmãos em Humanidade. Ananda, em Sânscrito, significa alegria.

Tocando em profundidade os corações dos ouvintes, Divaldo foi conduzindo o público nessa jornada heroica de Ananda, que apesar dos inúmeros obstáculos enfrentados, inclusive a rejeição da família ao identificá-la portadora de lepra, ministrou-lhe veneno, sobrevivendo ainda assim. Prostituída, abandonada, degradada moralmente, foi recolhida pelas mãos perfumadas pela caridade de Madre Teresa de Calcutá.

Tornada freira na ordem de Madre Teresa, esposando espiritualmente Jesus, Ananda doou-se por inteiro, servindo incondicionalmente, dominando seus medos, iluminando as sombras interiores com as luzes do amor, tornou-se heroína de si mesma. Onde estivesse a miséria humana exposta em forma de enfermidades infectocontagiosas lá era possível encontrar a dedicada servidora do Mestre de Nazaré que aprendeu a amar amando-se e amando o necessitado que encontrava pelo caminho, distribuindo o pão da vida ofertado por Jesus.

Falando de si, abrindo sua alma generosa, Divaldo Franco, envolto em profunda emotividade, destacou suas experiências, dizendo que é possível ser feliz, com paciência, não se rebelando contra as provas, testemunhando, amando. A felicidade é a esperança que se concretiza todos os dias da era nova que já começou. Os cataclismos serão morais, as crises serão individuais, sentenciou o orador cativante, devendo cada qual lapidar o diamante bruto que ainda é, preparando ao mesmo tempo o caminho para os que vem após.

O ser humano se tornará feliz, vivendo na paz profunda do ser, logrando transitar sem empeços pelos dois planos da vida, com coragem, sem mágoas, sem dúvidas e temores. Jesus, impassível, terno, amoroso, aguarda. Heroico, deseja o triunfo de todos, silenciando a alma, cantando louvores a Deus. Divaldo com profunda ternura incentivou a realização da jornada heroica para domar as sombras, fazendo brilhar a luz interna, tornando-se heróis de si mesmo e para os demais, servindo ao Cristo onde se encontrar, vencendo, dominando os dragões íntimos.

Estavam os presentes visivelmente emocionados e vibrando os corações nas faixas da alegria e da felicidade, guardando a certeza do porvir ditoso, muitos, com seus olhos marejados de lágrimas, sentiram as belezas do amor a penetrar a intimidade, agradecendo o encontro afetuoso que Divaldo promoveu a serviço de Jesus.

O herói e suas crises – Sob a responsabilidade do casal de psicoterapeutas Cláudio e Íris Sinoti, o tema abordado foi O herói e suas crises. Cláudio tem constatado que muitos de seus pacientes se reportam informando que estão experimentando sonhos de cunho catastrófico e perturbadores. Hoje, no planeta, a depressão alcançou níveis e pandemia, provocando suicídios. Isso significa que o herói interno que cada um possui encontra-se abandonado, sem esperança.

Levando a reflexões, indagou: - O que falta para te tornar herói? Qual o dragão interno que deve ser conquistado? Léon Tolstoi salienta que as questões que afligem o ser humano e que tem se repetido na vida merecem uma resposta, é necessário respondê-las. Rüdiger Dalke, falando sobre as crises da vida, esclarece que elas poderão se tornar um perigo ou uma oportunidade, dependerá de como elas serão trabalhadas.

Apoiando-se em Mateus, 10:38-39, Cláudio destacou que todo aquele que ama verdadeiramente o seu próximo, esquecendo-se de si mesmo, terá vida em abundância. Esse é o chamamento que o Cristo faz ao homem. Na recém-lançada obra de Joanna de Ângelis, com psicografia de Divaldo Franco, Em Busca da Iluminação Interior, em seu capítulo 2, a benfeitora destaca que: “O desafio para a transformação moral do indivíduo, a fim de tornar-se melhor, defronta nele mesmo a maior dificuldade, que é o hábito ancestral a que se encontra acostumado”.

O descobrimento de si passa pelo ensinamento de Jesus, registrado por Mateus em 7:3-5, identificando, cada qual, a trave que ainda possui sobre os próprios olhos, projetando, assim, nos outros, as sombras de que é ainda possuidor. James Hollisdestaca que as escolhas que se faz tornam-se o destino a que se almeja. É necessário saber distinguir o que é amor e o que é dependência, conforme se pode compreender no ensinamento do Cristo quando afirma ser necessário amá-lo em maior intensidade do que aos seus consanguíneos (Mt 10:37).

No livro Espelhos da alma: uma jornada terapêutica, de Íris Sinoti, encontra-se a seguinte reflexão: “Enquanto estivermos presos às “lealdades” infantis, não poderemos servir a um propósito maior.” Cada indivíduo deve buscar a sua própria identidade, conforme registrado em Mateus 10: 34-36. Voltando a James Hollis: “O herói tem que persistir diante do obstáculo que é a sua própria letargia, sem medo e sem desejo de voltar para casa.”

Íris Sinoti discorrendo sobre a crise como grande oportunidade de crescimento íntimo, disse que ao descobrir as potencialidades de que se é possuidor, será necessário utilizá-las a próprio favor, pois que todo o potencial não utilizado a favor será utilizado contra. O autodescobrimento, o despertar de si, do herói interno, fará do indivíduo alguém melhor, canalizando suas potencialidades para o bem de todos.

Trabalhando o inimigo interno, Íris apresentou o registro realizado por Lucas 14:12-14 e que fala sobre os convidados para o banquete, sendo desejável convidar aqueles que não podem retribuir. O que há dentro de ti, que deva ser convidado e não pode te retribuir? Essa é uma questão que deve merecer plena atenção, sob pena de estarmos alimentando somente os aspectos psicológicos que nos são simpáticos e que nos retribuem sempre, impedindo crescimento e mudanças íntimas para que seja construído o homem de bem.

O que está dentro de você que o incomoda, que dragão é esse? Na jornada heroica é necessário reconhecer a sua incompletude, a sua sombra. Conforme Carl Gustav Jung, quando se faz ao outro, faz-se ao Cristo. Ao descobrir o inimigo interno, amando-o, o indivíduo passa a amar-se. Há que se fazer uma escolha importante, ou seja, amar o Ego ou o Self, a Deus ou a riqueza.

Cada ser humano recebe uma tarefa que deve se desincumbir, isto é, ser melhor hoje do que ontem, e amanhã do que foi hoje. Alguns esquecem-se disso e passam a realizar outras tarefas que não os conduzirão ao aprimoramento moral e espiritual. Nesses relacionamentos humanos há um imperativo, perdoar, perdoando-se também, reajustando-se com seus adversários, mesmo aqueles internos. Qual é o teu inimigo interno? Qual o dragão a ser conquistado dentro de ti?

“A sombra é problema moral que desafia a personalidade como um todo, pois ninguém é capaz de tomar consciência dela sem esforço moral considerável. Tornar-se consciente da sombra implica reconhecer os aspectos obscuros da personalidade como existem na realidade.” (Carl Gustav Jung)

Amar-se é vincular-se com a vida. Amar é o maior mandamento da lei, conforme exarado em Mateus 22: 34-40. Conforme o Poeta Persa Rumi (1207-1273): “Tua tarefa não é buscar o amor, e sim buscar e encontrar dentro de ti as barreiras que tu mesmo construíste contra ele.” Cada indivíduo deve ser o protagonista de sua própria vida, escrevendo a própria história, tornando-se melhor para que a vida seja melhor, conforme ensina James Hollis. Assumir a sua própria responsabilidade conforme seja o seu jugo e o seu fardo.

É imperioso identificar o EU, o maior tesouro do indivíduo, conquistando a sabedoria, disponibilizando a luz que já fez brilhar em seu íntimo, colocando-a a serviço dos demais e da humanidade.

Aplaudido calorosamente, o casal finalizou suas abordagens esclarecedoras, indicadoras de pontos a serem conquistados pelos que desejam se tornarem heróis ou heroínas, trilhando cada qual a sua jornada heroica.

Os heróis anônimos – Para discorrer sobre Os Heróis Anônimos, Divaldo Franco, magistral em sua narrativa e tomado de profunda emoção, apresentou três histórias ocorridas em Salvador/BA envolvendo três heroínas: uma mãe preta, uma mãe branca e outra, também preta, que lhe salvou a vida. Começa o inolvidável orador a dizer que era dezembro, a madrugada em curso, a natureza fazia festa. Estavam, ele e Tio Nilson, no bairro do Uruguai, uma invasão pantanosa, atendendo os moribundos na Casa de Jesus, um barraco que acolhia aqueles que estavam deixando a vestimenta corporal, abandonados por todos.

Recebendo o chamado, dirigiram-se para o casebre de dois cômodos. O cenário era de angústia e de miséria humana. Sobre uma enxerga no chão do barraco encontrava-se uma trabalhadora do Centro Espírita Caminho da Redenção. Mulher dotada de grande pureza d´alma. Devotada ao bem, portadora de qualidades espirituais aplicava passes, embora se questionasse sobre essa condição, porque não se percebia em condições de oferecer aos Espíritos algo de si em favor do próximo. Heroína, lavava roupas e vendia acarajé na porta do Elevador Lacerda.

Agora, acometida de tuberculose pulmonar, moribunda, conta-lhe que está viajando para a outra vida, a espiritual. Seu tempo estava se esgotando. Divaldo chorou, sendo consolado por ela. A amiga que aprendeu amar, ensinando-lhe o amor, estava deixando o veículo físico. Segreda a Divaldo a sua história, dizendo de antemão que seu filho iria lhe procurar mais tarde, após a sua morte, pedindo para dizer ao filho que sempre o amou.

Falou-lhe do filho, dedicado estudante desde criança, agora tornado médico famoso em Salvador. Narrou sua saga, desde jovem, os seus ingentes esforços em amealhar, com muito suor, os recursos para custear os estudos do filho amado. Os estratagemas para solicitar veladamente a ajuda dos professores ao filho, facilitando-lhe um aprendizado profissional de qualidade. Esse filho, muito preto, foi fruto de uma relação íntima em troca de alimentos, tal era sua condição famélica. O filho era conhecido por um apelido muito peculiar. Porque ela o vestia sempre com roupas brancas, impecavelmente brancas, e contrastando com a sua pele negra, passou a ser conhecido por o mosca no leite.

A moribunda, febril, com tosse, falou-lhe sobre as alegrias em trabalhar e em economizar para adquirir belo vestido vermelho, sapatos para a formatura de seu amado filho, o anel de formatura acondicionado em caixa aveludada em azul. Foram três anos. Aproximava-se o dia da láurea. Na véspera, à noite, após já ter recolhido os pertences que lhe interessavam, dirigiu-se à mãe dizendo-lhe que tinha dois pedidos a fazer. Primeiro, que não necessitaria ir à cerimônia de formatura, sua noiva, filha do diretor da faculdade iria lhe acompanhar no ato solene. Mantendo serenidade, a mãe compreensiva, agradeceu-lhe a dispensa.

O segundo pedido era uma condição, quando adoecesse, deveria ligar para o número de telefone que lhe passou em uma folha de papel, assim mandaria um colega para atendê-la, ali mesmo naquele barraco. Dizia que deseja lhe poupar de ser humilhada. Disse-lhe mais, que não telefonaria para ela.

Foi tudo muito simples, voltou a dizer a Divaldo aquela mãe heroína. Ele casou, não me avisou, mas estou feliz, disse. Meu filho está feliz e por ele estou feliz. Agora estou morrendo. A heroína saiu da vida para entrar na vida espiritual. Como uma fada iluminada saiu daquele corpo. Fulgurante, desapareceu no infinito. Ela havia expirado nos braços de Divaldo. Consumado, Nilson e Divaldo recolheram o cadáver, velando-o sob uma árvore. Em estando contaminado aquele barraco, os dois o consumiram com fogo.

Uma semana depois, no Centro Espírita Caminho da Redenção, Divaldo identificou aquele filho, que lhe perguntou se havia visitado aquela negra no Bairro do Uruguai. Justificou a pergunta informando que tinha tomado a si a tarefa de protegê-la, era sua amiga. Desejava saber o que ela havia contado a Divaldo, se havia lhe falado sobre a família.

Respondendo, Divaldo disse que não poderia contar nada que pudesse interessar, indagando se ele era parente dela. Como disse que não, foi embora sem obter qualquer informação de Divaldo. Um mês depois, eis que o mosca no leite está de volta. Divaldo então pergunta: - É a respeito daquela negra? Confirmado, disse que desejava veementemente que lhe contasse o que sabia sobre ela e seus comentários. Após alguns momentos de titubeios, o visitante declara que era o filho dela. Tinha vergonha de sua mãe.

Agora identificado o filho, que Divaldo já conhecia, disse-lhe que ela havia pedido para dizer que o amava muito. Caindo em si, o médico perguntou como poderia se reabilitar. Divaldo, então, disse-lhe que há no interior de cada um herói, e que para a reabilitação são necessárias três etapas, o arrependimento, a expiação e a reparação. Assim, sintetizou o preclaro orador e orientador, faça para o próximo o que gostaria de fazer a sua mãe.

Compreendida a lição, o filho em reabilitação, solicitou a sua inclusão nas atividades de assistência desenvolvida por Divaldo Franco e sua Instituição no bairro do Uruguai. A mãe prestimosa, dúlcida e amorosa, presente no diálogo, suplicou, de joelhos, ao Mestre que recebesse a ovelha tresmalhada. A essa altura, o público parecia não respirar, tal era o silêncio e a emoção dominante no ambiente.

A segunda heroína é a história de uma alemã, residente em Salvador. É a mãe branca. Tudo começou quando Divaldo, em seu momento de folga no trabalho, e estando na rua, viu cair na sua frente um homem, amparando-o e conduzindo-o em um táxi ao hospital mais próximo. Lá chegando, deparou-se com os entraves burocráticos e a pouca atenção por parte dos funcionários. O tempo transcorria e o socorro não era prestado, aflito, Divaldo insistia na necessidade de atender o enfermo.

Alguém entrou e todo o panorama mudou. Todos começaram a fazer algo. Percebendo que se tratava de alguém importante na hierarquia do hospital, Divaldo se dirigiu a ele solicitando o atendimento ao seu socorrido. Imediatamente, a um sinal, todos se mobilizaram em auxilio socorrista. Era o diretor do hospital. Instado ao gabinete do diretor, ao entrar Divaldo divisou um quadro que estampava bela senhora ali retratada. Admirou-o. O diretor então informou tratar-se do retrato de sua mãe, alemã de origem, passando a narrar a história de superação daquela mulher que o filho classificava como uma mulher incomparável.

Em situação difícil no Brasil, sem saber falar o idioma português e sem o marido, foi para o Dique do Tororó lavar roupas com as outras lavadeiras. Era especial, destacava-se por ser branca, falava com as demais e não era compreendida, tanto quanto falavam com ela e não compreendia, todas riam. Era a única branca no meio das negras. Assim foi a vida dessa heroína cuidando de seu amado filho. Concludente do curso de medicina, um dia surpreendeu-se com o estado de saúde de sua mãe. Ela havia dissimulado muito bem o quadro infeccioso que apresentava. Tinha contraído a tuberculose. Estava na fase terminal. Três dias antes da sua formatura ela morreu. Decidiu, então, tornar-se tisiologista, o melhor de todos, em homenagem a essa mulher notável que foi a sua mãe. Como especialista, esse profissional salvou incontáveis vidas no Brasil e no Exterior.

Essas são as histórias da mãe negra e da mãe branca. Divaldo conta essas histórias para homenagear outra mãe negra, extraordinária mulher. Contou Divaldo que em 1946, estando em profunda solidão e melancolia, e por já haver tentado o suicídio antes, pensava, arquitetava novo tentame. Em sentido contrário, ouvia uma doce voz pedindo-lhe paciência. Embarcando em um bonde, o de nº 2, Largo de Roma, encontrou uma negra que lhe chamou para uma conversa, convidando-o para um café. Foram até a modesta casa, no Bomfim, onde ela morava. Ali, enquanto preparava o café, ralo, ela lhe disse: - Sinhozinho não pode morrer agora. A estrela que o conduz pediu-me para lhe chamar, para tomar um café. Os Espíritos dizem que o sinhozinho terá uma vida longa.

Afeiçoando-se, aceitou o convite para cafés diários, visitando sistematicamente o anjo negro de sua vida. A solidão deixou de pesar tanto. Decorridos três meses, ela lhe confidenciou que estava saindo da vida, que voltaria ao mundo dos Espíritos. Emocionado, Divaldo se pergunta, sempre que um afeto morre: - Por que os que eu amo morrem? Suas lágrimas são contidas a esforço. Seus anjos amigos e protetores o assistem nessas horas de inolvidáveis emoções.

Ao contar as histórias dessas heroínas, Divaldo destacou que várias outras heroínas e heróis desencarnados estavam presentes entre o público. Muitas mães, pais, esposas e maridos. Com essas palavras temperadas de emoção, deixou a mensagem do amor ao próximo, doando-se até que os sentimentos se entorpeçam pelo amor.

Aproveitando o momento de enlevo e vibrações de alto padrão e as emoções afloradas, Divaldo Franco conduziu os presentes em uma visualização dirigida, mergulhando no mundo transcendental, onde o oxigênio é o amor. Como prece final, proferiu o Pai Nosso.

Terminado o evento, todos sentindo fortes emoções, transpareciam serenidade, esperança, deleitando-se naqueles momentos mágicos conduzidos pelas mãos hábeis de Divaldo Franco. O silêncio dominava o ambiente. Todos, como se estivessem hebetados, permaneciam sentados, meditativos, introspectivos, bebendo nas fontes celestes que se derramaram sobre os presentes. Dizer-te obrigado é muito pouco, Divaldo! Nos resta orar ao alto para que possas triunfar em alegria e felicidade.

A jornada heroica do Cristo – O dia de sábado amanheceu esplendoroso, leve brisa, a manhã umedecia a natureza através de tênue chuvisqueiro. Poderíamos, em um esforço contemplativo, inferir que as bênçãos divinas alcançavam os homens na Terra, sofridos, machucados em suas intimidades uns, outros, aprisionados em si mesmos, liberando seus dragões internos, intentam contra seus legítimos irmãos. Não há como deixar de perceber o divino em nós, como não nos é lícito imaginar que o sol somente brilhe em nosso favor.

Neste ambiente de salutar convívio e paz, o Encontro Fraterno com Divaldo Franco, em sua vigésima edição, teve continuidade. Divaldo Franco, prosseguindo como o seu ministério de facilitar a trajetória dos que o escutam, discorreu sobre A jornada heroica do Cristo. A Segunda Guerra Mundial havia-se instalado na face do Planeta com a invasão da Polônia, pátria imortalizada pelas páginas de Frédéric Chopin. No norte desse país vivia um rabino judeu, consagrado a Deus e saudoso de sua Israel, residindo nas proximidades de uma propriedade de uma família alemã.

Ao deslocar-se para o seu templo religioso o rabino Samuel passava em frente àquela propriedade onde trabalhava o jovem filho da família alemã ali instalada, cultivando a terra. O rabino sempre lhe dirigia um cumprimento em alemão: — Guten Morgen, Her Müller (- Bom Dia, Sr. Müller). Arrogante, o jovem não se dignava responder. O jovem o detestava, afinal era um rabino judeu. Passaram-se os anos. A noite dos cristais já havia acontecido. Era sábado, dia consagrado ao culto religioso judeu, o rabino Samuel novamente passa e cumprimenta, como de hábito, o jovem trabalhador alemão.

Os dias que se sucederam foram trágicos. Em 1945, quando a Alemanha estava exausta, o rabino Samuel foi aprisionado, colocado em trem de carga animal e transportado para um campo de concentração. O rabino amava os alemães. Os aliados prepararam, no mês de maio, uma estratégia simulando um grande ataque à Alemanha, despistando e mascarando a real intenção e localização do aparato bélico libertador que estava em curso. O verdadeiro ataque se daria por mar, na Normandia. A resistência alemã era muito forte. Os aliados venceram com grandes sacrifícios em vidas e em material.

A partir de agosto de 1945 se iniciaram os julgamentos dos vencidos, acusados de genocídio. Um desses tribunais estava sediado em Frankfurt. Estando Divaldo Franco nessa importante cidade alemã em 2014, e proferindo uma conferência sobre a Esperança, ele viu psiquicamente, naquele ambiente, o desenrolar de um julgamento. O magistrado solicitava que um rabino se aproximasse, como testemunha. No banco dos réus estava um jovem com cerca de 30 anos de idade, fardado. O promotor o acusava. O réu não deixava transparecer qualquer emoção, mantinha-se implacável.

A testemunha, o rabino Samuel, foi inquirido pelo promotor. Indagava se não seria aquele réu o que fazia a seleção entre os que deveriam morrer e os que seriam encaminhados ao trabalho forçado. O rabino Samuel, de imediato, reconheceu o seu vizinho polonês, Her Müller. A testemunha afirmou, então, que não era aquele soldado que fazia a seleção, mas o sistema, o partido, que ele representava. Não, não era ele que selecionava, categórico afirmou. Mas contra ele há acusações consistentes, redarguiu o promotor severo.

“Ele era bom, ele foi treinado para matar. Ele somente apontava para a direita ou para a esquerda, selecionando somente os homens fortes e saudáveis para o trabalho, os demais seguiam para o extermínio. Ao aproximar-me, na fila de seleção, cumprimentei-o, como de hábito, ele me reconheceu, éramos vizinhos, disse o rabino. Her Müller, um homem bom, impassível, me sinalizou seguir para o lado dos que sobreviveriam, trabalhando. Agradeci-o: — Vielen Danke, Her Müller.”

O promotor dispensou a testemunha, que ao passar em frente ao réu, este lhe agradeceu, vertendo duas lágrimas. O réu foi condenado à forca, executado em seguida. O rabino Samuel, embora judeu, amava o Mestre Galileu, verdadeiro profeta na terra hebraica. Nascia e agigantava-se um herói, o rabino Samuel, ao amar o próximo, independente de suas condições ou atitudes.

Assim Divaldo foi se aprofundando na história da humanidade, apresentando outros heróis que souberam dominar seus dragões íntimos, lançando luzes nas sombras interiores, plenificando-se de bênçãos, harmonia e felicidade, pois que aquele que já está liberto é feliz. O homem, não admitindo a sua origem divina, seres criados pelo Incriado, tentaram apequena-Lo, na vã esperança de se fazerem maiores e mais importantes. Todo aquele que se torna servidor, se faz maior ante o olhar divino. Assim nascem os heróis, que saindo-se de si, servem, amam, perdoam, promovendo o bem-estar do próximo através da dádiva da autodoação.

O Ego trabalha para ter, o Self para ser. Para descobrir o Deus interno é necessário realizar a viagem para dentro de si, lançando luzes sobre as sombras, identificando os dragões íntimos, conquistando-os. O homem deve construir em si o heroísmo crístico, isto é, aquele que cumpre a Lei Divina, amando sem esperar ser amado.

Nas artes, nas ciências e através de notáveis, Deus se manifesta possibilitando um crescimento harmonioso para seus filhos. Joana de Cusa, Francisco de Assis e outros, demonstraram o poder libertador do amor, doando-se por inteiro ao amado.

Recheando com outros inigualáveis exemplos de heroísmo, Divaldo Franco, conduziu o público para momentos de descontração, onde o riso, fonte terapêutica, produzindo equilíbrio saudável, libertando o ser de seus dragões, plenificando-se de energias salutares.

Perpassando a história romana, o 1º e o 2º Triunvirato, antes e depois de Jesus, Divaldo apresentou diversos casos onde o heroísmo íntimo facilitou a ação benfazeja de Jesus e dos cristãos, que necessitam ainda tornarem-se crísticos. Saindo de cena o protagonismo dos generais romanos, as artes e a literatura passaram a viger, conduzindo as criaturas para o belo, o harmônico, fruindo um pouco de paz. O Espiritismo elegeu a moral do amor, a busca do estoicismo, do heroísmo que levará o homem para a vitória sobre as próprias paixões, conduzindo-o para a plenitude.

As virtudes do herói – No período da tarde, Cristiane Lenzi Beira, psicóloga, de São Paulo, e Juan Danilo Rodriguez, médico de família e psicólogo, residente em Quito, no Equador, dividiram o espaço para falarem sobre as virtudes do herói ea consciência heroica de Jesus, respectivamente.

Apresentando a história de Jó, Cristiane discorreu sobre o seu significado, desvendando as virtudes do herói. Jó era um homem íntegro, reto e temente a Deus, reverenciava-O. Sua vida era coroada de sucessos familiares e econômicos. Considerava-se pleno, realizado na vida. Era saudável. Vivia em harmonia.

Porém, Jó, ainda, não era um herói. Suas conquistas não eram originárias de esforços que lhe custassem algum trabalho interior. Agradava a Deus, temendo perder seu status. Todo aquele que não é protagonista de sua própria vida, encontra-se cativo de bases instáveis. Deus é educador.

No decurso do tempo Jó foi testado, abalado, começou a perder suas posses materiais. O abalo continuava, agora seus sentimentos estavam sendo afetados, seus pertencimentos afetivos foram estremecidos. Teve todos os seus filhos mortos, vitimados pelo desabamento da residência provocado por um temporal. Além dessas perdas, atribuídas por Jó a Satanás, agora estava sendo abalado em seu psiquismo.

Há que se desenvolver o hábito de analisar os sonhos, os eventos, os recados que a vida oferece em uma sincronicidade ímpar, destacou Cristiane. Jó, fragilizado, chora amaldiçoando a vida, lamentando-se. Neste estágio, três amigos vão visitá-lo. Um diz que deveria aceitar os fatos, pois que podem suceder coisas piores. Outro disse-lhe: - Certamente você é culpado. O terceiro, escutando a sentença dos anteriores disse a Jó que ele merecia sofrer. Jó ainda não assumira o papel de autor da própria vida.

Chegando-lhe outros amigos, estes lhe falaram da necessidade de ouvir-se, analisar-se, refletindo. Passou, então, a relacionar-se com o Criador, conquistando a possibilidade de viver, participando e vivenciando a vida. Já não ouve mais falar de Deus, agora Jó passou a compreender os desígnios divinos. Jó enfrentou suas sombras, iluminando-as. Nascia, assim, o herói.

Finalizando seu trabalho, Cristiane ainda discorreu sobre a aquisição da consciência, conforme exposto pela benfeitora Joanna de Ângelis em O Homem Integral, cap. 9, psicografado por Divaldo Franco, destacando, igualmente, as qualidades do homem de bem, listadas em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 3.

Juan Danilo Rodriguez, espírita e autor do livro Alliyana, voltado ao auxílio aos portadores da síndrome do autismo, discorreu sobre a consciência heroica de Jesus. A consciência é a voz interior a “falar” ao ser psicológico. Com apoio nas observações e ensinamentos registrados na Revista Espírita de abril de 1860 e em O Livro dos Espíritos, questão 835, o orador apresentou reflexões a respeito da consciência e os relacionamentos que cada um tem com ela.

Facilitando o entendimento, Juan Rodriguez apresentou as senhas, ou sintomas, do desenvolvimento da consciência. São: sentir-se insatisfeito, permanecer apático, e apresentar quadro depressivo. Desta forma, analisando-se, o indivíduo irá adquirindo uma consciência sobre a realidade que vive.

Ao trabalhar a partir da própria realidade psicológica será possível descobrir quem é, quais são as suas realidades e de que maneira poderá se expressar. O autoamor é o primeiro passo para o desenvolvimento da consciência, gerando o discernimento. A autoestima, o segundo, conquistada pela aquisição da humildade, irá gerar a relaxação. A oração, a conexão a ser estabelecida com Deus, por fim, gerará o crescimento da consciência.

Há pontos importantes para o desenvolvimento da consciência: 1. O sofrimento, gerado pelo conflito com o próprio si. O sofrimento ativa o intelecto, fortalece a vontade na busca de mudanças de hábitos que precisam ser educados. 2. A fé é o próximo ponto. Ela estabelece um processo de racionalização do conhecimento presente, produz uma claridade de pensamentos, gerando uma capacidade de decisão. 3. A ternura vem a seguir, cujo processo e prática transitam por fazer o bem, a gentileza e a bondade. Mais dois importantes pontos para o desenvolvimento da consciência são a alegria e o amor. 4. A alegria permite que o indivíduo alcance a compreensão do merecimento. A integração e a resiliência completam a aquisição da alegria. 5. O amor é o final da aquisição consciencial. Ele é o ideal (idealismo), há nele um propósito e uma generosidade.

Finalizando sua conferência, Juan apresentou o conceito de conquista da consciência elaborado por Joanna de Ângelis nos seguintes termos: “O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto inicial da sua realidade psicológica, aceitando-se como é e aprimorando-se sem cessar.”

Com a bela lenda das três árvores, que experimentaram frustrações em seus ideais iniciais, concluíram, ao final, que eles se realizaram conforme a providência divina. Assim deve compreender o homem, confiando em Deus.

Divaldo Franco, Juan Rodriguez, Cláudio e Íris Sinoti analisaram as respostas oferecidas pelo público à pergunta: O que te falta para tornar-se um herói? Selecionadas algumas respostas, elas foram interpretadas pelos expositores, oferecendo possíveis soluções de caráter psicológico-terapêutico. Elas versaram sobre orgulho, relacionamentos conflitivos, vazio existencial, olhar-se para si, falta de persistência, mudanças de hábitos, o exercício da disciplina, o autoperdão, sentimento de culpa. A dificuldade de ser herói para si mesmo, a preocupação com a vida dos outros, agressividade, autoestima, arrogância, medo, o não perdoar, apego a familiares foram outras tantas questões apreciadas. Essa é uma pequena amostra dos dragões internos que devem ser conquistados pelos heróis internos de cada um.

Essas perguntas, e outras, com suas respectivas análises serão transformadas em livro, cuidadosamente elaborado para tornar-se um guia, devendo ser lançado em 2018, no próximo Encontro Fraterno com Divaldo Franco.

A excelência do trabalho de Chico Xavier – O domingo ensolarado foi palco harmônico para o encerramento da vigésima edição do Encontro Fraterno com Divaldo Franco. Após percorrer os caminhos do saber, das reflexões e das abençoadas vibrações do amor, a culminância do magno evento, de caráter internacional, produziu incontáveis reflexões, descortinando o caminho da felicidade, contribuindo para a construção do homem de bem na face desse abençoado Planeta.

Além dos inscritos oriundos de 21 Estados e do Distrito Federal, os seguintes países estiveram representados: Áustria, Reino Unido, Estados Unidos da América, Colômbia, Peru e Uruguai, totalizando a presença de 661 inscritos. As participações virtuais contabilizaram 51.187 acessos em 38 países.

Divaldo Franco, ímpar trabalhador do Cristo, após discorrer sobre o reino dos céus e a parábola do semeador, destacou a excelência do trabalho de Chico Xavier, a sua mediunidade com as facetas de dor e de sacrifício, bem como a solidão que experimentou. Contudo, contava com os que chamava de “irmãos do arco-íris”, isto é, os Espíritos Benfeitores, entidades luminosas, que o auxiliavam, sustendo-o em suas lutas. E, quando o brasileiro estava vivendo um momento de felicidade coletiva, em junho de 2002, Chico Xavier desencarnou na serenidade orando o Pai Nosso.

Tomando emprestado de Chico Xavier o conceito de “irmãos do arco-íris”, Divaldo Franco, médium e orador de excepcionais qualidades, registrou que Espíritos nobres, familiares, amigos, sempre estiveram com ele, trazendo-lhe o alento, o incentivo, a coragem, o esclarecimento, as suas bênçãos, sustentando-o em todos os momentos, principalmente nas horas angustiosas da vida, quando o testemunho lhe pedia atitudes nobres, destemidas.

Esses Espíritos, explicou, uns reencarnaram antes dele, preparando-lhe o caminho para que, quando aqui fosse contado como reencarnado, eles pudessem, do mundo dos Espíritos, continuarem assessorando-o, conduzindo-o pelo labirinto da vida, velando pelo sucesso do trabalho em nome do Cristo. Um deles, Manuel Vianna de Carvalho, que semeou a Doutrina Espírita por toda a extensão territorial do Brasil, sempre esteve junto a Divaldo. Outros estão agora reencarnados, próximos a Divaldo, colaborando, tornando-se sustentáculos nas horas difíceis da vida, nos momentos de solidão.

Diante das alegrias que sentia naquele momento das despedidas aos participantes do Encontro, Divaldo Franco, portador do espírito crístico, e perante os Espíritos benfeitores ali presentes, agradeceu a participação de todos. Envolvido por fortes vibrações e sentimentos amorosos, rogou que o envolvam em orações para que possa chegar no portal espiritual com alguma lucidez e condições espirituais mínimas, desejando que a paz do Senhor permaneça com todos, em todas as horas.

Trabalhando o “Decálogo do Herói”, elaborado pelo casal de psicoterapeutas Cláudio e Íris Sinoti, exposto a seguir, Divaldo Franco ressaltou os estudos da Dra.Elisabeth Lukas (1942-), psicóloga clínica e psicoterapeuta, nascida em Viena, Áustria, pesquisadora da logoterapia, trabalhando com a dimensão espiritual do homem, com o fim de aliviar e superar as perturbações da alma. A própriaElisabeth, cética, materialista, teve comprovação dos efeitos salutares da oração e do auxílio vindo do mundo espiritual.

Decálogo do Herói – Eis os dez tópicos que o compõem:

1. Reserve algum tempo para si mesmo;

2. Esteja disposto a descobrir verdades sobre você;

3. Aceite o fato de que o mundo em que você vive é o reflexo de sua alma. Se está ruim, mude!

4. Reconheça seus medos, mas não se detenha neles;

5. Aprenda com sua sombra; enfrente seus dragões;

6. Seja sempre um aprendiz;

7. Direcione sua vida para um propósito superior;

8. Lute por uma causa justa e não abra mão dos seus princípios e valores;

9. Diga sim a si mesmo. Não desista de você!

10. Aceite o chamado e viva a sua vida plenamente!

Juntamente com Juan Danilo Rodriguez, espírita e médico equatoriano, Íris e Cláudio Sinoti, psicoterapeutas, Divaldo conduziu mais uma rodada de análise das respostas para a pergunta inicial desse grandioso evento: O que te falta para tornar-se um herói?  Suas abordagens conduziram para a compreensão de que todos são possuidores de todas as ferramentas e condições necessárias para alcançar o sucesso, o que falta é o emprego da vontade, de não valorizar o belo, e colocando-se no lugar dos que padecem sofrimentos e condições espirituais, físicas e materiais precárias.

Trabalhar na caridade é o melhor antídoto para as aflições e dores, isto é, fazendo todo o bem possível, no limite máximo de suas forças, dignificando a atual encarnação.

Conjecturando sobre as emoções e os sentimentos, Divaldo Franco narrou o encontro de Jesus com a mulher vendedora de ilusões, ocorrido nas escadarias do Templo, em Jerusalém, quando o Mestre recusou, peremptoriamente, o seu convite para estar com ela no dia do seu aniversário. Decorridos dois anos, ei-la em uma furna, coberta de chagas leprosas, purulentas. Jesus vai ter com ela, acolhe-a, diz-lhe que agora está ali aceitando o seu convite, acaricia sua cabeleira úmida de pus, dizendo-lhe: Eu te amo! Descubro em teus olhos uma estranha chama. Não me censures. Eu assim procedo porque te amo. Já que teu corpo não te serve para nada, dá-me tua alma! E aquela ovelha que o Pai me confiou não se perderá! Vem comigo e eu te darei a paz.

Saindo da furna, em direção do povo, Ele fala para todos: Vinde a Mim todos vós que estais cansados e aflitos, tomai sobre vós meu jugo, recebei o meu fardo e aprendei Comigo que sou manso e humilde de coração! Meu fardo é leve, Meu jugo é suave! Vinde a Mim!

Em 18 de abril de 1857, eis que Jesus volta, é a peregrina luz, agora na condição de consolador, aquele que havia prometido quando entre os encarnados esteve ensinando o amor. É a Doutrina Espírita, fulgurante farol a balizar a rota segura para a plenitude, para a vivência do amor, para Deus. É Ele no seio da humanidade!

Finalizando, o ínclito orador, irmão de mãos perfumadas pela caridade, incentivou a que cada um levasse na mente a imagem daqueles dois olhos a fitar, convidando, sem temer o mal e os dragões da alma, a segui-lo, exercitando suas imorredouras lições de amor, de perdão, de caridade, lutando e cantando aos ouvidos moucos, nos desertos da desesperança humana, a amar aos que se encontram próximos e aos que são refratários e ainda malévolos.

A beleza e a harmonia das músicas, belamente interpretadas, elevando o padrão emocional dos presentes, criou um ambiente de confortável equilíbrio ao longo de todo o evento. As apresentações musicais estiveram sob a responsabilidade das cantoras líricas Anatasha Meckenna, melodiosa, e Vanda Otero, ambas possuidoras de poderosa voz harmônica e de Tânia Moreira, tecladista.

Foi lançado, e está disponível, o aplicativo Mansão do Caminho, voltado à divulgação do Espiritismo através da tecnologia e da mobilidade. Seus desenvolvedores são André Pinto e Leonora Nedia.

Embalados, todos, nas aragens do amor e tocados na intimidade da alma, exteriorizavam júbilo pelo encontro que finalizava, acolhendo os ensinamentos, as orientações para bem se conduzirem nesta e noutras existências da vida. Na certeza de que todos se sentiam agradecidos, aqui traduzo essa gratidão, mesmo que silenciosa no imo de muitos: Obrigado querido irmão! Tens-nos convidado insistentemente ao despertar. Teu esforço, tua luta, tua dedicação, teu amor são hinos de louvor ao Nazareno que vem ter conosco, os leprosos da alma. Muito obrigado!

 

Nota do autor:

As fotos desta reportagem são de Jorge Moehlecke.

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita