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por Marco Melo

 

Candeia


Dizem que as coisas são mais difíceis para começar, mas depois deslancham. Assim foram também os encontros com a menina ruiva. Bastava entrar em sintonia, canalizar boas energias e meditar profundamente que logo era transportado ao seu encontro.

Assim me vi envolto a um denso nevoeiro. Não estava escuro demais ou muito claro, apenas não era possível ver nada que estivesse a mais de um metro de distância. Pela experiência que havia adquirido nos diversos encontros com a “menina-de-olhos-de-estrelas” sabia que nada era por acaso. Por certo, naquela névoa teria de haver algum propósito, algum significado. Como nada podia ser visto, tentei ouvi-la.
Chamei-a:

– Christina! Você está aqui?

– Sim – respondeu ela.

Sua voz estava tão próxima que parecia que eu poderia tocá-la, se esticasse minha mão. Comentei:

– Que cerração, não?

– Sim. A Terra ainda está envolta à densa camada de nevoeiro em sua atual fase de desenvolvimento espiritual...

Sua voz pareceu-me um pouco triste. Logo percebi que tinha razão em relação àquele nevoeiro: seria mais um aprendizado. Agucei mais a minha mente e percepção para absorver o que viria pela frente. Esfreguei meus olhos e consegui vê-la, quase em minha frente, a pouco mais de braço de distância.

Logicamente, a primeira coisa que vi faiscando na névoa opaca eram aquelas duas centelhas estelares que eram os seus olhos, em tom branco-violeta-prateado. Depois consegui enxergar o seu rosto emoldurado por suas madeixas vermelho-rosáceas. Ela esboçava um lindo sorriso e percebi que me enganara a respeito da tristeza em sua voz, ou então o que imaginara ser tristeza era apenas a seriedade que o assunto impunha. Ela prosseguiu:

– Foi por isso, por essa névoa que foi escrito sobre a candeia...

Percebi a associação e entendi que ela se referia à parábola evangélica: “não coloque a candeia debaixo do alqueire, mas, sim, sobre o candeeiro”, se bem me recordava as palavras lidas outrora... Indaguei-a:

– Mas se a candeia deve ser posta acima, a fim de iluminar as trevas da ignorância, por que dizer tudo em parábolas de difícil interpretação?

A menina ruiva apertou os olhos, mirando-me fixamente, parecendo gostar da pergunta, esboçando um sorriso enigmático. Disse:

– A parábola é muito democrática. Ela informa proporcionalmente ao entendimento da pessoa.

– Entendo... Então há algo de esotérico nos ensinamentos do Mestre?

– De maneira alguma. Seu ensinamento é claro, transparente e para todos. O que difere é o grau de compreensão do aprendiz, apenas. Você acha que poderíamos ensinar, por exemplo, física quântica a alunos do jardim de infância? De certo que não entenderiam nada. Por isso que o Mestre contava suas parábolas. Se o aluno estava em um grau de aperfeiçoamento baixo entenderia a história ao pé da letra, ao passo que um aluno avançado entenderia o sentido figurado, leria nas entrelinhas. Assim, todos poderiam tirar o proveito que lhes cabiam do mesmo ensinamento. Porém, apenas o conhecimento não basta. Ainda há um componente essencial ao aprendizado. Sabe qual é?

Tentei buscar no fundo de minha alma a resposta: “Qual seria este componente essencial?” Então pensei: “Qual seria a coisa mais essencial do Universo? Qual era a mais essencial ‘substância’ com a qual o próprio Deus era composto?” A resposta me surgiu óbvia:

– O amor?

A menina se iluminou em um radiante sorriso.

– Muito bem! O amor é o componente essencial. O produto do aprendizado, ou seja, do conhecimento, com o amor, resulta o que o Mestre tinha em abundância: SABEDORIA! 

 

Marco Melo é estudante de Jornalismo, trabalha com design gráfico e diagramação na Editora EME.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita