Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Tu erras... Nós erramos

 

Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses. Rubem Alves


As ruas estavam cheias de gente e a menina se sentiu desorientada no meio de casas, barulho, falação. Na hora de escolher a refeição, pediu água em vez de suco, uma omelete em vez de sanduíche de queijo, nervosa que estava. Quando o garçom trouxe tudo e foi dispondo pratos e copos sobre a mesa, os olhos encheram de lágrimas, pois naquele instante notou que havia pensado uma coisa e comunicado outra coisa ao pai, o mediador entre eles, os filhos, e o garçom, o canal com a cozinha do restaurante daquela cidade grande e estranha.

A mãe resolveu perguntar:

– Diga-me, não está com fome?

Sinalizou que não.

A mãe insistiu:

– Nem tocou na omelete.

Sentada à mesa, o vestido azul, as mãos no rosto, começou a chorar. Um choro ruidoso esfarelando a vergonha, remexendo-a no peito com seus dados de vidro, o temor de irritar os pais.

– Ah, minha filha! – disse o pai – A gente erra. Quer uma coisa, faz outra. Ninguém gosta de falhar, mas errar nos faz aceitar como somos, e sem desistir de melhorar.

O pai conversou com o filho mais novo e o menino aceitou dividir o sanduíche com a irmã em troca de metade de sua omelete, resolvendo de modo democrático o dilema da filha.

 – Filha, todo mundo erra! – a mãe repetiu sorrindo.

Sim. Toda criança precisa incorporar, desde cedo, que desacertos são fontes de aprendizado seguro. É o contato com o erro que permite ao ser humano validar os sentimentos negativos, abrindo-se a uma intimidade segura com seus atributos e suas vulnerabilidades.

A aceitação da imperfeição depende já na infância dos inúmeros erros vividos em casa, na escola, nos diversos instantes do dia, tão ricos de invencionices os começos da vida.

Há crianças que ficam muito ansiosas com seus erros, no geral tomadas por receios. Nesses casos, elas precisam ser auxiliadas a entender que as falhas são excelentes “artífices” das biografias humanas, à medida que embasam resistência e persistência. A lição de tolerar a insatisfação decorrente do erro é, portanto, fundamental na infância.

Dentro de casa, a criança que tem liberdade para errar, aprende a assumir seus equívocos, crescendo honesta e flexível consigo mesma e com os demais. Ela terá ainda mais chance de guardar lembranças positivas dessas experiências e, com isso, enriquecer seu mundo interior, dispondo de formas mais racionais e criativas para enfrentar as situações adversas na vida adulta.

Um abraço, alegre semana!

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita