Brasil
por Djair de Souza Ribeiro

Ano 11 - N° 539 - 22 de Outubro de 2017

 

 

Divaldo Franco: “Perdoar não significa estar de acordo com o erro”


A Associação de Desenvolvimento Espiritual Reencontro realizou no dia 8 de outubro a 3ª edição do Movimento Você e a Paz em São Paulo. O evento teve lugar no Auditório Ibirapuera - Oscar Niemeyer (plateia externa), no Parque Ibirapuera.

A atriz, modelo e locutora Jacqueline Dalabona – sob a direção do ator, autor e diretor de teatro Odilon Wagner – foi a encarregada das apresentações do evento, que contou com a presença de representantes de diversas religiões, além de autoridades e personalidades de vários segmentos, como o prefeito da capital de São Paulo, João Doria Júnior.

O artista Nando do Cordel – autor da música composta especialmente para o Movimento Você e a Paz – entreteve com suas canções o público que se aglomerava na expectativa do início do evento.

A abertura do encontro foi oficialmente feita por Jonas Pinheiros, presidente da ADE Reencontro, nomeando a todos os presentes como embaixadores da Paz.

A parte artística do evento foi abrilhantada pela Bachiana Filarmônica SESI de SP, sob a regência dos maestros Roberto Minczuk e João Carlos Martins. Na sequência foi efetuada a entrega do Troféu Você e a Paz às pessoas, entidades e iniciativas que têm promovido a paz, nas seguintes categorias:

Personalidade que se Doa:

• João Doria Júnior (foto), prefeito de São Paulo;

• Padre Rosalvino, pela obra social Dom Bosco de amparo às crianças e adolescentes de Itaquera, bairro de São Paulo.

Instituição que Realiza:

• Plataforma Sinergia (reaproveitamento de alimentos);

• Fraternidade Sem Fronteiras (amparo e solidariedade às comunidades pobres de países da África);

• Instituto Passe de Mágica (foco no esporte educacional em comunidades de alta vulnerabilidade social);

• Hospital Santa Marcelina (dedicado ao amparo hospitalar aos desvalidos da periferia de São Paulo);

• Heróis do Bem (Voluntários que visitam hospitais, orfanatos levando alegria e esperança).

Empresa que Viabiliza:

• Química Amparo (Fabricante dos produtos de limpeza YPÊ pelos empreendimentos e obras assistenciais);

• Escola Santa Marina da Vila Carrão na periferia de SP.

A fala dos oradores convidados - As manifestações dos pensamentos dos religiosos, presentes ao evento, sobre a paz, tiveram início com as palavras do Mestre Espiritual Sri Prem Baba, da ancestral linhagem Sachcha, que observou termos tudo para nos unirmos, pois respiramos o mesmo ar, caminhamos sobre os mesmos caminhos sobre a superfície da Terra e bebemos da mesma água. Apesar disso, vamos buscar detalhes para fomentar e alimentar a desunião, o sectarismo e a discórdia. A paz passa pela união enquanto que a intolerância nos impede a união. Devemos aprender a construir a harmonia, erradicando a violência e a agressividade. Para tanto basta despertar o Amor, que, para ser despertado, requer uma atitude simples. Mesmo diante da turbulência global, devemos cultivar a paz no microcosmo da Constelação Familiar que nos cerca (pai, mãe, irmãos, avós, tios, primos) agradecendo-lhes por “absolutamente tudo”.

O Cônego Jose Bizon, do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de SP, diretor da Casa da Reconciliação, ponto de referência para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso em SP, deu início à sua prédica citando Jesus – “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9) – para afirmar em seguida que é possível a união e a vivência pacífica entre as diversas formas do pensamento religioso e das atividades humanas, bastando observar a diversidade da formação do povo brasileiro. A intolerância não é choque de opinião, mas sim um choque de ignorância. Depois, sensibilizando a todos, repetiu a prece de São Francisco terminando com o pensamento de Nelson Mandela, Prêmio Nobel da Paz de 1993: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.

O Sheikh Jihad Hassan Hammadeh, presidente do Conselho de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas e vice-presidente da União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI), iniciou sua apresentação com a saudação Salaam Aleikum – Que a Paz esteja sobre vós –, expressão de cumprimento entre os Muçulmanos.

O Sheikh Hammadeh afirmou, na sequência, que todos querem a paz, para logo em seguida formular uma questão retórica: — Então por que não temos paz? Qual o caminho da paz? Os maus têm um produto ruim (a maldade) enquanto a maioria de nós tem um bom produto (o bem). Então por que o mal prevalece?

Apesar de o produto ser bom (o bem), a propaganda que fazemos é sofrível. Nós não praticamos a paz, optando pela vivência individualista. O mundo de paz que todos anelamos exige que não mais sejamos seguidores, mas sim lideres na propagação da paz, mediante a vivência e o comportamento pessoal, afastando-nos dos conflitos da beligerância, da injustiça e da intolerância.

O profeta Mohammed (Maomé), questionado sobre como encontrar a paz, ensinava: — Quem amanhecer seguro no seu lar, tendo saúde no corpo e com o pão de cada dia, é como se tivesse conquistado o mundo todo. Ele é a pessoa mais rica da face da Terra. E o profeta segue ensinando que o melhor do Islã – a religião da paz – é dar de comer aos famintos e falar de paz para as pessoas. Duas regras simples que todos – independente do credo religioso – podemos praticar, fazendo este compromisso com Deus: Alimentar os necessitados e ensinar o caminho da paz.

O pastor Davi Seiberth Arantes, da Igreja Metodista Wesleyana, iniciou sua abordagem perguntando: — O que é a paz? A paz é muito mais do que um conceito filosófico. É necessário mudar profundamente o comportamento individual de que a paz é atribuição dos poderosos, tornando-nos impotentes para alterar a situação de conflito que permeia toda a sociedade. Por certo não podemos resolver o problema global, mas temos o dever de mudar nossos comportamentos, pois a qualidade da sociedade é o resultado direto da soma das qualidades individuais dos cidadãos que a compõem. Para encerrar sua participação o pastor Arantes reflexionou em torno das palavras do Apóstolo Paulo na epístola aos Romanos: “Não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. (Romanos 12:2)

O juiz de Direito, autor e divulgador espírita, José Carlos De Lucca, iniciou sua exposição observando que há muito mais semelhanças do que diferenças entre as diversas denominações religiosas. E há, sobretudo, uma semelhança fundamental e primordial: - Todos nós, independente do rótulo religioso, somos Filhos de Deus e essa condição deve ser o caminho a nos conduzir a uma vivência mais harmônica e pacífica, respeitando as diversidades e acabando com a intolerância e o ódio sectário.

De Lucca narrou, em seguida, o diálogo entre Leonardo Boff e o Dalai Lama, ocorrido durante o intervalo de um encontro mundial sobre religião e a paz entre os povos:

— Santidade – perguntou o teólogo, escritor e professor universitário brasileiro – qual é a melhor religião?

– A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor – respondeu o líder religioso budista.

– O que me faz melhor? – continuou o teólogo brasileiro.

— Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável e mais ético. A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião – completou o Dalai Lama.

Equivocadamente, muitos consideram que para ser bom basta não praticar o mal, quando na realidade é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver tido como origem o bem que se tenha deixado de fazer.

Encerrando o evento, o médium e orador espírita Divaldo Franco, idealizador e criador do Movimento Você e a Paz, abordou a importância da cultura de paz e dos sentimentos, atitudes e valores em prol de um mundo mais justo e consequentemente pacífico.

Para emoldurar o tema, Divaldo se utilizou da narrativa de uma jovem armênia, cuja história foi retratada no livro Perdão Radical, de autoria de Brian Zahnd.

Entre os anos de 1915 a 1917 ocorreu a guerra entre turcos e armênios. Como em toda a guerra, a crueldade era ali soberana. A Armênia invadida pelos turcos viu seu povo ser dizimado em um genocídio. Não foi diferente para aquela família modesta. Os soldados turcos invadiram a casa e de, imediato, mataram os pais de duas jovens. A mais moça, quase uma criança, foi estuprada até a morte, e a outra, um pouco mais velha, foi transformada em escrava sexual do comandante daquela tropa.

Após fugir dessa situação a jovem refugiou-se em outro país e estudou até se formar enfermeira. Muitos anos se passaram até que deu entrada no Hospital onde ela trabalhava o antigo comandante das tropas que havia destroçado suas esperanças. Cristã, aplicou-se a cuidar do quase moribundo até a sua recuperação total. Desejando agradecer à jovem que tanto se havia dedicado a lhe devolver a saúde, descobriu toda a verdade. Envergonhado de suas ações pretéritas, ousou perguntar à jovem qual a razão de tê-lo perdoado, quando o normal teria sido um comportamento oposto. A jovem olhou profundamente nos olhos do algoz de sua felicidade e lhe respondeu: — Teus crimes contra mim, minha família e meu povo foi por sermos cristãos. Perdoo-te porque Jesus nos ensinou: “Aquele que crê em mim faz também as obras que faço”.

Divaldo passou, então, a elaborar os comentários de cunho moral em torno da narrativa que a todos emocionou. Perdoar não é esquecer, pois o esquecimento depende da memória física. Perdoar no conceito amplo ensinado por Jesus é não devolver o mal recebido e nem mesmo desejar a infelicidade daqueles que nos prejudicam e infelicitam. Perdoar não significa estar de acordo com o erro. Todo crime merece repúdio. O criminoso, porém, merece compaixão. O perdão, antes teológico, adquiriu a condição de terapia, por nos devolver a harmonia pacificando nossos corações e sentimentos. A crise que se abate toda a Humanidade é, na realidade, uma crise individual que se propaga envolvendo toda a sociedade, que centraliza seus objetivos existenciais no individualismo, no consumismo e na busca do prazer, por confundi-lo com a felicidade.

A sociedade carece de objetivos existenciais profundos e transcendentais, mas prefere permanecer na superfície das ilusões que passam e se esgotam em si mesmas, levando o ser à perda do objetivo existencial, resultando com isso no inconformismo, na depressão, na revolta e, por conseguinte, produzindo a violência.

Encerrando seus comentários, Divaldo lembrou-nos as palavras de Jesus: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. (João 14:27)

O evento foi encerrado com uma apresentação da música Paz pela Paz, de Nando do Cordel, composta especialmente para o movimento Você e a Paz.

 

Texto: Djair de Souza Ribeiro. 

Fotos: Edgar Patrocinio.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita