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por Rodinei Moura

 
A mão de Deus


É muito comum quando conhecemos alguma escola religiosa ficarmos encantados com seus ensinamentos, sem que eles nos modifiquem de imediato. Somos Espíritos imortais, criados simples e ignorantes, como nos esclarece a questão 115 de O Livro dos Espíritos. 

Portanto, somos nós mesmos que construímos nossa personalidade através de nossas muitas reencarnações. Ler uma receita de bolo não nos torna mestre na arte da culinária. É necessário esforço.

Um dos erros muito comuns é nos acharmos no direito de modificar alguém, seja através de palavras rudes ou atitudes constrangedoras. Por não conseguirmos ainda enxergar que somos tão necessitados de melhora moral como qualquer outro habitante desta morada escola.

Algumas vezes ouvimos por aí: "mas não somos todos instrumentos de Deus para melhorar alguém?" Muitos distorcem os ensinamentos, fugindo da lógica cristã, que é a caridade, tendo a pretensão de ser "a mão de Deus sobre Terra". 

É importante lembrar das palavras de Jesus: "Os escândalos são necessários, mas ai daqueles através dos quais os escândalos venham". Ninguém está isento de sofrer as consequências de suas atitudes. Aliás, a questão 470 de O Livro dos Espíritos, que transcreveremos integralmente a seguir, deixa isso bem claro: "Os Espíritos que procuram nos induzir ao mal, e que assim colocam à prova nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer? E se é uma missão que cumprem, onde estará a responsabilidade". Resposta: "Nunca o Espírito recebe a missão de fazer o mal. Quando ele o faz é por sua própria conta, e, por conseguinte, suportará as consequências. Deus pode deixá-lo fazer para vos experimentar, mas não lhe ordena e cabe a vós repeli-lo".

A confusão é tão grande que já se afirmou por aí que Judas cumpria uma missão e que a Jesus não seria possível ter sucesso na sua sem isso. A questão acima derruba esta tese, assim como a poesia de Maria Dolores, recebida por Chico Xavier, no livro Coração e Vida, onde somos informados do imenso sofrimento de Judas no umbral, devido ao remorso do seu ato.

O nosso dever para quem erra é agir com eles como gostaríamos que agissem conosco em situação semelhante. Somos nós infalíveis e não precisamos constantemente de paciência para conosco? Não conivência com o erro, mas caridade extrema para poder efetivamente auxiliar. 

Vamos ainda mais longe, num exemplo ainda mais forte que O Livro dos Espíritos nos traz na questão 764, mostrando como geralmente usamos mal as palavras do mestre. Pergunta: "Jesus disse que quem matou pela espada perecerá pela espada. Essas palavras não são a consagração da pena de Talião? A pena infringida ao homicida não é a aplicação desta pena?” Resposta: "Tomai cuidado! Tende-vos enganado a respeito dessa palavra como em muitas outras. A pena de Talião é a justiça de Deus e é Ele quem a aplica. Todos vós suportais a cada instante essa pena, porque sois punidos pelo que pecastes nesta vida ou em outra. Aquele que fez sofrer seus semelhantes estará numa posição que sofrerá ele mesmo o surgimento que causou. É o sentido das palavras de Jesus. Mas vos disse também: Perdoai vossos inimigos e vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe na mesma proporção que tiverdes perdoados. Compreendei bem”. 

Não nos preocupemos, pois, com a justiça que não falha jamais e cuja nossa visão limitada não pode abarcar no seu conjunto. Mas façamos o que nos cabe e que nos eleva, que é amar assim como queremos ser amados.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita