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por Alessandro Viana Vieira de Paula

  
Como o Espiritismo nos apresenta a felicidade


O desejo de ser feliz é inerente à criatura humana e o Espiritismo auxilia nessa busca, na concretização desse objetivo, porque suas diretrizes morais permitirão a exata compreensão do que é a verdadeira felicidade e quais são os meios eficazes de atingirmos esse estado da alma.

O nobre Codificador, Allan Kardec, escreveu um notável artigo na Revista Espírita de janeiro de 1860, com o título “O Espiritismo em 1860”, onde afirma que as ideias espíritas progridem e auxiliam o indivíduo a compreender o futuro, não um futuro de desgraça ou de felicidade advinda de privilégios, mas um futuro racional, decorrente das nossas ações e escolhas feitas na atual reencarnação, afastando, dessa forma, a incerteza sobre o futuro, e a incerteza, diz ele, é sempre um tormento, portanto, um obstáculo à felicidade.

Sem essa visão correta do futuro e das leis divinas, Allan Kardec afirma que a pessoa não terá motivação para ver o bem do próximo, não terá resistência para enfrentar as privações e, no afã de ser feliz, desejará gozar, ter o que os outros possuem, se preocupar apenas em ter, tornando-se ávida, invejosa e egoísta, e não se tornará verdadeiramente feliz, porque o presente lhe parecerá curto.

No referido artigo, Allan Kardec concluiu que: “Repetimos que a principal fonte do progresso das ideias espíritas está na satisfação que proporcionam aos que se aprofundam, e que nelas veem algo mais do que fútil passatempo. Ora, como antes de tudo todos querem a felicidade, não é de admirar se liguem a uma ideia que torna feliz [...] O Espiritismo progrediu principalmente desde que melhor compreendido em sua essência íntima, desde que se viu o seu alcance, pois toca na corda mais sensível do homem: a de sua felicidade, mesmo neste mundo [...]”.

Assim sendo, percebemos que o Espiritismo, na sua missão de iluminar consciências e destruir o materialismo, tem ajudado a criatura humana a entender e a construir a própria felicidade.

É notável buscarmos o tópico “felicidade e infelicidade relativas”, na 4ª parte de O Livro dos Espíritos, e constatarmos que as elucidações dos benfeitores espirituais se mantêm atuais, parecendo que foi escrita nesses dias, porque, infelizmente, as mazelas e os equívocos morais de grande parte das criaturas humanas continuam no mesmo patamar.

Nas questões 920 e 921 do aludido livro, Allan Kardec pretende obter da espiritualidade superior a gradação de felicidade possível na Terra, obtendo como resposta que a felicidade absoluta, completa, é impossível, pois ainda vivemos num mundo de provas e expiações, mas depende do homem “abrandar os seus males e de ser feliz quanto se pode ser sobre a Terra” e “ao praticar a lei de Deus, poupa-se de muitos males e pode até desfrutar de uma felicidade tão grande quanto comporte a sua existência num plano grosseiro”.

O confrade Raul Teixeira, com a sua pedagogia incomparável, nos ajuda a entender essa questão da felicidade relativa, afirmando que: “[...] Então, é óbvio que na Terra jamais encontramos uma pessoa que usufrua de felicidade total. Encontramos alguém que tem muito dinheiro, mas não tem saúde. Outros que têm muita saúde, mas não têm dinheiro. Encontramos quem mora bem, mas carrega problemas familiares tremendos; alguém que mora no gueto, na favela, mas a família é irmanada, é unida [...]”. (Livro “Vida e Valores – volume 2”, capítulo “A felicidade é deste mundo”, editado pela Federação Espírita do Paraná.)

Todavia, é possível ser feliz dentro dos padrões relativos da Terra, seja na concretização dos sonhos materiais, desde que honestos e equilibrados, seja na conquista do brilho da alma, que surge com a melhoria dos nossos sentimentos.

Nas questões materiais, não será errado buscar a melhoria de nosso padrão intelectual, financeiro e social, conforme assevera Raul Teixeira, na referida obra, mas de entender que a busca principal, a felicidade mais ampla, não estará nas coisas materiais, imediatas, mas nas questões do sentimento, onde buscaremos desenvolver amizades, cuidar da família, ajudar o próximo, tratar nossos conflitos íntimos etc.

No atual estágio da tecnologia, se não equilibramos nossos apetites materiais, estaremos sempre infelizes, porque sempre haverá algo novo e mais moderno. Muitas vezes nem sequer desfrutamos do que temos e conquistamos, porque já estamos ambicionando o produto novo que foi lançado.

Vejamos a lucidez dos benfeitores espirituais na questão 926 de O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec pergunta se a civilização, ao criar novas necessidades, não gera novas aflições, obtendo a seguinte resposta:

“Os males deste mundo existem na razão das necessidades superficiais que os homens criam para si mesmos. Aquele que sabe limitar os seus desejos e ver sem cobiça o que está além de suas possibilidades, preserva-se de muitos aborrecimentos nesta vida. O mais rico é aquele que tem menos necessidades [...]”.

De fato, saber limitar os desejos e ver sem cobiça o que o outro possui é um dos segredos para se buscar a felicidade na Terra, porque saberemos definir o que é necessário e o que é supérfluo para as nossas vidas.

Aliás, é importante saber, para ser feliz, olhar para aqueles que têm menos do que nós e são felizes, demonstrando que podemos ser felizes com o que temos, deixando de lado os caprichos ridículos que criamos, conforme asseveram os benfeitores espirituais na questão 923 de O Livro dos Espíritos.

Dessa forma, vamos entendendo que a felicidade decorre das escolhas que vamos fazendo durante a nossa vida, sobretudo aquelas relacionadas ao sentimento, porque à medida que vamos vivenciando o amor estaremos cada vez mais ampliando o nosso estado de felicidade, que fará com que o cérebro libere, naturalmente, os neurotransmissores específicos (dopamina, serotonina, endorfina e ocitocina) para que possamos, a nível biológico, sentir esse estado emocional.

A questão 922 de O Livro dos Espíritos sintetiza a medida exata da felicidade comum a todos os homens, pontuando que, para a vida material, será a posse do necessário, e para a vida moral, será a consciência tranquila e a fé no futuro.

Não podemos deixar de registrar que no item “fé no futuro”, o Espiritismo nos oferta em abundância a esperança na vida futura, porque somos Espíritos imortais em processo de aprendizagem na Terra, de forma que todos os males são passageiros e levaremos para a vida futura as nossas conquistas intelecto-moral, geradoras da nossa felicidade.

Encerramos este artigo com a lúcida ponderação de Raul Teixeira, que nos orienta que: “Podemos ser felizes, na Terra, sem esperar a felicidade no reino dos céus, depois da morte, porque aprendemos que a felicidade maior não é propriamente aquela que apenas nós vivenciamos, mas aquela que experienciamos, doando-nos aos outros. Tudo quanto doamos é o que verdadeiramente nos pertence; o que tentamos guardar, reter, armazenar é o que perdemos. Por isso, podemos ser felizes, neste mundo, usufruindo as coisas materiais e servindo a Deus acima de tudo”. (Livro “Vida e Valores – volume 2 – citado capítulo.)

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita