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por Ricardo Orestes Forni

 
E nós, como estamos?


Na cidade onde moro fizeram uma tal de “queima do alho”, da qual não sei fornecer os detalhes porque todas as vezes que sacrificam animais que não querem morrer para satisfazer a gula do ser humano, mantenho-me a distância, não porque sou evoluído, mas porque dói em minha alma o sofrimento desnecessário dos animais.

Mas o que eu queria comentar, e o faço, é que um bom dinheiro arrecadado com essa tal de “queima do alho” foi roubado de um dia para o outro, o que alimentou a crítica contra a pessoa ou pessoas que tiveram a falta de humanidade para cometer tal ato, já que o dinheiro tinha finalidades beneficentes. Aqui diziam: “Pessoas desalmadas! Como tiveram coragem de roubar um dinheiro destinado a fazer bem aos outros?!” Acolá criticavam: “Como podem existir pessoas sem coração ao ponto de roubar um dinheiro que tinha o destino de amparar aos necessitados?!” Mais além a população se revoltava: “Cambada de gente sem-vergonha! Por que não vão trabalhar ao invés de roubar um dinheiro com a finalidade de ajudar àqueles que precisam?!”

Quando aconteceu o recente aumento dos combustíveis na situação financeira em que se encontra o país, a crítica também bateu pesado: “É assim que desejam controlar a inflação, promover empregos, melhorar a situação financeira e social do país?! Políticos insensíveis! Estão cansados de saber que o aumento de combustíveis é repassado nos produtos finais que chegam ao coitado do povo que já paga um dos impostos mais caros do mundo!”

De repente me deu a impressão de que vivemos em dois mundos: uma realidade onde as pessoas só cometem erros e ficam do “lado de lá”, e do outro lado seres humanos que vivem a acertar e só merecem aplausos.

Emmanuel me socorreu com a página Reclamações do livro Palavras De Vida Eterna. Já de início o ilustre Mentor traz a citação do apóstolo Tiago, 4:17: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando.”

Pronto! O negócio complicou porque estamos totalmente envolvidos nessa afirmativa do apóstolo! Quem não sabe que deve fazer o bem? E o fazemos no limite de nossas forças? Mas a situação piorou ainda mais com a leitura da questão 642 d’O Livro dos Espíritos, porque nela está muito claro que não bastará não fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma boa posição no mundo espiritual, porque responderemos também pelo mal que resulte do bem que não tenhamos feito! E isso ocorreu exatamente na última onda de frio violenta que abateu sobre o país onde uma pessoa que dormia nas ruas da cidade de São Paulo foi a óbito. Não recebeu o bem que seria um abrigo que a livrasse das baixas temperaturas e, por essa falta de caridade, resultou o mal de se perder essa vida pelo rigor do inverno.

Vamos mergulhar de cabeça como se costuma dizer na página de Emmanuel, mesmo que de modo parcial.

“Censuras com grande alarde os que se oneraram, nos delitos do furto; entretanto, se acumulas inutilmente os recursos necessários ao sustento do próximo, não podes alegar inocência.”

Acusas os que desceram à criminalidade, mas, se nada realizas pela extinção da delinquência, não te cabe o direito de reprovar.

Apontas o egoísmo dos governantes; no entanto, se te afervoras no egoísmo dos dirigidos, deitas apenas conversa vã.

Entra no serviço de alma e coração, para que possas comentá-lo.

Ninguém pode exigir dos outros o que não dá de si mesmo.

Quem sabe o que deve fazer, e não faz, deserta dos deveres que lhe competem, caindo em omissão lamentável, e, se intenta atrapalhar quem procura fazer, certamente responderá com dobradas obrigações pelo que não fizer.”

De que lado do “bolo” estamos nós? Não roubamos o dinheiro da “queima do alho”. Não promovemos o aumento dos combustíveis. Mas aquilo que sabemos nos caber realizar, como está a nossa consciência? Fazemos o bem no limite de nossas forças, ou essas forças estão muito anêmicas ainda? Será que nenhum mal resultou do bem que deixamos de fazer? Contemplando a mesa farta e exagerada que nos serve, não estaríamos de alguma forma esquecendo-nos da parcela que poderia ser destinada aos que não possuem sequer um pedaço de pão como refeição do dia? Abrindo nosso guarda-roupa será que nenhuma peça poderia estar aquecendo o corpo de algum semelhante? Considerando que temos apenas dois pés, será que nenhum par de sapatos à nossa disposição poderia estar revestindo outros pés?

Mesmo que estejamos do outro lado da “queima do alho” e do aumento de combustíveis, como será a nossa posição diante da pergunta do apóstolo Tiago: “aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando”.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita