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por Felinto Elízio Duarte Campelo

 

Pedradas


“Respondeu-lhes Jesus: Tenho vos mostrado muitas obras boas procedentes do meu Pai, por qual destas obras me apedrejais? (João 10:32)


A lei mosaica, conhecida também como a Primeira Revelação, teve sua divulgação circunscrita aos hebreus e apresenta-se em dois aspectos distintos: a lei divina, recebida mediunicamente por Moisés no Monte Sinai, que é imutável, resiste ao tempo, e a lei civil, por ele estabelecida, cuja rigidez compatibilizava-se com o pouco desenvolvimento moral e intelectual do povo daquela época.

Como todas as coisas elaboradas pelo homem, a lei civil de Moisés é mutável e, por isso, sofreu alterações conforme as variações dos costumes e o progresso conquistado pelas criaturas.

Com o passar do tempo, profissionalizou-se a religião, criaram-se castas privilegiadas ¾ os escribas e os fariseus ¾ que, movidos pela vaidade, adotaram uma postura preconceituosa e intolerante por suporem-se donos absolutos da verdade.

Quando a humanidade avançou alguns passos na escala evolutiva, tornando-se apta ao recebimento de novos ensinamentos, surgiu com Jesus a Segunda Revelação ¾ O Evangelho.

Apesar de Jesus enfatizar que não viera para destruir a lei e, sim, para dar-lhe cumprimento, Sua doutrina de igualdade, fraternidade, amor ao próximo e de perdão incondicional contrariou velhos e arraigados interesses materiais e feriu fundo o orgulho exaltado da classe sacerdotal dominante. A nova doutrina provocou o despeito e a ira dos judeus, que fizeram algumas tentativas de apedrejar Jesus, como relatou João nos versículos 31 e 32 do capítulo 10 do Evangelho, culminando com a abominável execução do Senhor no Gólgota, no pressuposto de sufocar para sempre o cristianismo nascente.

Romperam-se, contudo, as amarras impostas pelo fanatismo religioso vigente, o Evangelho difundiu-se entre os gentios, fez-se universal.

Com o correr dos séculos, o Cristianismo foi desfigurado, sofreu mutilações, absorveu práticas do judaísmo, incorporou o ritualismo e a idolatria copiados do paganismo até comprometer-se com desmandos ocorridos nos dias negros da Idade Média.

Passadas as trevas desse período de horror, apagadas as fogueiras da satânica Inquisição, iniciou-se uma era de conquistas nos campos das artes, das letras, das ciências. Paulatinamente, a humanidade foi readquirindo o direito de pensar e alcançou condições para receber o Consolador prometido por Jesus.

Em meados do século XIX, lançados os livros da codificação kardequiana ¾ O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Gênese  ¾  o mundo conheceu a Terceira Revelação, um misto de religião, ciência e filosofia, a doutrina que institui a fé raciocinada e prega o lema: “Fora da caridade não há salvação”.

Novamente foram contrariados interesses mundanos, profligados o orgulho e a prepotência, reacesos ódios, motivadas a intransigência e a intolerância.

Insurgiram-se os fariseus modernos. Não mais podendo atear fogo em pessoas, queimaram em praça pública de Barcelona milhares de livros espíritas, na tola presunção de calar a verdade. Saraivadas de pedras são desfechadas contra o Espiritismo e seus adeptos pelos Quevedos e Boaventuras reacionários, em forma de difamação e torpes acusações. A verdade, porém, não detém sua marcha. A Doutrina dos Espíritos transpôs fronteiras, é conhecida e praticada em quase todo o mundo.

O Espiritismo, no entanto, não veio para combater nenhuma religião, não veio para modificar ou destruir a lei, veio, sim, revigorá-la e completá-la, veio dizer aos homens o que não foi possível ser dito pelo Cristo, pois, naquela época, a humanidade ainda não estava preparada para entender tudo.

Resta-nos, ante a dolorosa realidade, orar por nossos irmãos agressores, dizendo do fundo do coração: PERDOA-OS, PAI, PORQUE SABEMOS QUE ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita