Espiritismo
para crianças

por Célia Xavier de Camargo
 

A força do exemplo


Dora, ou Dorinha, como era chamada, era uma menina viva e inteligente, porém tinha um problema: a preguiça.

Detestava qualquer tipo de tarefa, por mais simples que fosse.

Para levantar cedo e ir à escola era aquela dificuldade! Afirmava-se sempre cansada. Nunca fazia os deveres de casa que a professora passava e não estudava para as provas. Por isso, suas notas eram péssimas.

Em casa não gostava de ajudar em nada. Se sua mãe, com carinho, lhe pedisse para arrumar a mesa para a refeição, ela alegava dor de cabeça, e não arrumava. Se a mãe lhe pedisse para varrer a casa, ela respondia que tinha de estudar e ia para o quarto. Quando a mãe precisava que ela olhasse o nenê, Dorinha reclamava, irritada:

— Tudo eu? Tudo eu?

Enfim, Dorinha não sentia prazer em fazer coisa alguma. Na verdade, só estava contente brincando, passeando, vendo televisão ou dormindo.

A mãe preocupava-se com ela, tentava aconselhar, mas sem resultado. Em suas preces, sempre pedia a Deus que a ajudasse, pois temia pelo futuro da filha.

Certo dia, Dorinha notou que uma casa vizinha da sua, e que tinha estado fechada por muitos meses, estava aberta. Uma família mudara-se durante a noite e a menina ficou curiosa para conhecer os novos vizinhos.

Quando voltou da escola, quase à hora do almoço, Dorinha viu um garoto sentado num banco, no pequeno jardim defronte à casa. Toda sorridente, aproximou-se para conversar com o menino, contente por ter mais alguém para brincar.

— Olá! Como se chama? — disse, cumprimentando-o.

— Olavo. E você?

— Dora. Mas todos me chamam de Dorinha.

O menino era muito simpático e atencioso, e Dorinha gostou logo dele. Num instante estavam conversando como velhos amigos.

Dorinha logo começou a se queixar da vida. Reclamou da escola, da mãe, dos afazeres domésticos, enfim, de tudo. E, fazendo-se de vítima, dizia:

— Já pensou, Otávio? Não basta ser obrigada a levantar cedo para ir  a uma escola chata, com aulas mais chatas ainda, e quando chego em casa exausta, ainda sou obrigada a ajudar minha mãe nas tarefas caseiras! Quem é que aguenta? Estou cansada dessa vida!

Olavo, com olhos arregalados e brilhantes, suspirou profundamente, exclamando:

— Como invejo você, Dorinha!

— Por quê? Minha vida é horrível e monótona. Eu odeio esta vida! — disse a menina, revoltada.

E Olavo falou-lhe com doçura, afirmando:

— Pois acho a sua vida MA-RA-VI-LHO-SA!

— É mesmo? — indagou a menina.

— É verdade, amiga. Eu nunca saio de casa, nem para ir à escola...

— Você não estuda?

— Não posso, Dorinha. Sou doente e muito fraco. Não posso andar como você. Antes, eu tinha um amigo grande e forte que me levava à escola nos braços; depois, ele se mudou e não tive mais ninguém para me ajudar. Minha mãe não consegue me carregar. Seria bom se eu tivesse uma cadeira de rodas, mas somos pobres e ainda não pudemos comprar.

Dorinha, que estava de boca aberta, gaguejou:

— Então, quer dizer que você também não pode brincar na rua? Pular corda, brincar de esconde-esconde, correr e saltar?

— Não. Mas não me queixo.

— O que você faz o dia inteiro? Deve ser bem triste sua vida.

— Até que não. Ajudo mamãe naquilo que posso: escolho o arroz e o feijão, limpo verduras, descasco batatas, enxugo a louça. Amigos me trazem revistas e livros, e passo horas entretido na leitura. Além disso, minha mãe faz artesanato para vender e eu a ajudo nessa tarefa. Enfim, acho que minha vida é até muito boa. Conheço pessoas que possuem menos do que eu e cuja vida é bem mais difícil.

Dorinha o olhava com admiração, sentindo-se envergonhada das suas reclamações. Olavo sorriu e completou:

— A única coisa que me faz falta é frequentar a escola. Gostaria de continuar estudando. Algum dia tenho certeza que conseguirei. Por isso, Dorinha, agradeça a Deus tudo o que você tem: um corpo perfeito para poder andar e brincar, inteligência para aprender e uma família amorosa.

Dorinha despediu-se do amigo com o pensamento renovado. Ao chegar em casa foi direto para a cozinha e falou, atenciosa:

— Mamãe, deixe que eu arrumo a mesa. Depois, vou lavar a louça e varrer o chão. E tomo conta do bebê também...

A mãe, desacostumada daquela boa vontade, perguntou:

— O que aconteceu, minha filha? Você está doente? Com febre?

Dorinha riu e explicou direitinho:

— Estou bem, mamãe, não se preocupe. Apenas tive um encontro muito interessante.

E, depois de contar à mãe a conversa que teve com o novo amigo Olavo, concluiu:

— A partir de hoje, mamãe, vou procurar realizar minhas tarefas com otimismo e alegria!

Quanto a Olavo, os pais de Dorinha fizeram uma campanha e conseguiram comprar a cadeira de rodas que ele tanto desejava. Além disso, sabendo das dificuldades da família, levaram o garoto a um médico para tentar descobrir, dentro da medicina atualizada, recursos para sua cura.

E logo era Dorinha, satisfeita e tranquila, que passava todas as manhãs acompanhando Olavo a caminho da escola, aonde juntos iam para estudar.      


TIA CÉLIA

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita