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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 
Combatendo a má vontade


Uma pessoa muito querida e já idosa das minhas relações recentemente me confessou as suas agruras para tomar uma condução. Ela relatou a infelicidade de não ser atendida pelos motoristas de coletivos - não foram poucas vezes, aliás -, pelo simples fato de estar sozinha no ponto de ônibus. Na sua interpretação, alguns desses “profissionais” não têm paciência para lidar com as pessoas da terceira idade e as suas dificuldades físicas. Desse modo, não hesitam em deixá-la na mão nas circunstâncias descritas. Conforme ela bem lembrou, “não se dão conta de que também envelhecerão e também terão os seus problemas...”

A questão envolve fundamentalmente a má vontade humana e, como tal, suscita outras considerações a respeito de como lidamos com as necessidades daqueles que procuram pelo nosso apoio e assistência. Inicialmente, é adequado recordar que não vivemos totalmente isolados, salvo raríssimas exceções. Consequentemente, é normal interagirmos com outras pessoas no nosso dia a dia ou até mesmo com os animais. Nesse sentido, a boa vontade pode facilitar as nossas relações, a nossa jornada e, enfim, o nosso progresso espiritual.

Em contrapartida, a nossa eventual má vontade prejudicará não apenas os outros que necessitam da nossa intervenção, mas sobretudo a nós mesmos. E ao assim procedermos estamos estabelecendo conexões negativas, afastando a possibilidade de recebermos boas inspirações, criando desafetos sem a menor necessidade, atraindo vibrações inamistosas, entre outras coisas. Por essa razão, o recado do Apóstolo Paulo é altamente pertinente: “Não vos comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas” (Efésios, 5: 11). Afinal de contas, o interesse precípuo das entidades infelizes é a manutenção do atraso humano, o distanciamento dos ideais divinos e a perpetuação do mal na Terra.

A nossa conduta determina o tipo de entidades que nos acompanham pela vida. Um cidadão que destila ácido na fala e no comportamento certamente não atrairá entidades benevolentes ou sábias para o seu lado. Analisando esse triste e onipresente aspecto da conduta humana, o Espírito Emmanuel observou o seguinte na obra Pão Nosso (psicografia de Francisco Cândido Xavier): “Má vontade gera sombra”.

Segue daí a conclusão de que uma parte considerável do mal que grassa no planeta na atualidade advém da má vontade dos indivíduos em praticar o bem, a solidariedade, a fraternidade e assim por diante. Ou seja, falta simplesmente boa vontade para combater as imperfeições humanas observáveis em toda parte. Com efeito, continua-se gerando sofrimentos colossais neste mundo devido à crônica indisposição dos indivíduos em dissipar as sombras por via de condutas benéficas. Não é por outra razão que Emmanuel assim resume: “A sombra favorece a estagnação”.

Portanto, a partir da má vontade se cria um ciclo perverso no qual as iniciativas e decisões sensatas são obstadas no nascedouro. Daí alerta Emmanuel para os perigos subjacentes: “Entregue às obras infrutuosas da incompreensão, pela simples má vontade pode o homem rolar indefinidamente ao precipício das trevas”. Desse modo, a análise constante do teor emocional das nossas atitudes e das disposições que brotam da nossa alma pode nos dar evidências concretas a respeito da vontade que nos impulsiona.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita