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por Ricardo Orestes Forni

 
Marta ou Maria?


E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.

Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: - Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude.

E respondendo Jesus, disse-lhe: - Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. (Lucas 10:38-42)   

Em sua opinião, encontramos no mundo agitado de hoje mais Martas ou Marias? Não sei se você concorda ou não, mas, em minha opinião, as Martas, infelizmente, ainda são muito mais abundantes. 

Quantas pessoas não afirmam, angustiadas, que o dia precisava ter mais do que vinte e quatro horas? Que o dia é curto, não dando para fazer tudo o que é preciso ser feito. E na medida em que começamos a analisar o que é que está deixando de ser feito em virtude desse dia, tão pequeno como alegam, lá encontramos as preocupações de ordem material que absorve todo o tempo do Espírito reencarnado, cujo objetivo maior não está sendo atingido. E não está sendo atingido porque o homem, Espírito encarnado, é absorvido pelas preocupações da vida material que funciona como uma poderosa esponja daqueles que se transformam nas Martas da existência.  

É evidente que ao assumirmos um novo corpo perante a sociedade, a família, os filhos, temos que dar conta de compromissos de ordem material, já que estamos inseridos nessa ordem das coisas. Existe o aluguel a ser pago, a farmácia, o pão e o leite, o vestuário, a alimentação, as horas necessárias ao descanso do corpo que não é uma máquina de trabalhar etc. Tudo isso não se discute. E se sabemos disso, quanto mais não sabe a Providência Divina!

Entendo também que não era isso que Jesus quis nos deixar como lição, principalmente Ele que era um Espírito perfeito encarnado para nos ensinar o caminho, as verdades e a realidade sobre a verdadeira vida. Alertava-nos exatamente para que não nos esquecêssemos no turbilhão do mundo dessa verdadeira Vida!

Quantas vezes as pessoas lutam com grande garra para adquirir um terreno! Depois continuam a lutar para obter os meios de construir uma casa para fugir do aluguel que, se é barato para quem recebe, é caro para quem paga. E é justo. Entretanto, não sobra nenhuma migalha de tempo para uma visita fraterna a uma casa onde a morte deixou a sua marca!

Quantas vezes uma família toda não se cotiza para arrumar os recursos necessários à troca do carro que possuem por um veículo melhor ou até mesmo por um carro zero quilômetro? Contudo, passa indiferente àquele que bate à porta necessitado de um agasalho ou um resto de alimento qualquer, alegando nada ter naquele momento para socorrer o aflito do caminho?

Quantas pessoas não planejam a viagem dos seus sonhos para conhecer outros países ajuntando mês a mês o dinheiro necessário à realização desse sonho e se torna insensível a um lar onde a fome ou a doença fez morada?

Quantos ainda não aplicam recursos necessários para aumentar seus alqueires de terra, suas cabeças de gado ou suas casas de aluguel, e não têm tempo para ouvir uma pessoa que necessita de, urgentemente, receber uma palavra de orientação?

Será esse o roteiro que trazemos do plano espiritual para cada reencarnação? Será que a proposta quando voltamos é de sermos mais Marta do que Maria?     

Relembremos Emmanuel no livro Vinha de Luz: “Uma só coisa é necessária”, asseverou o Mestre, em sua lição a Marta, cooperadora dedicada e ativa.

Jesus desejava dizer que, acima de tudo, compete-nos guardar, dentro de nós mesmos, uma atitude adequada, ante os desígnios do Todo-Poderoso, avançando, segundo o roteiro que nos traçou a Divina Lei. Realizado esse necessário, cada acontecimento, cada pessoa e cada coisa se ajustarão, a nossos olhos, no lugar que lhes é próprio. Sem essa posição espiritual de sintonia com o Celeste Instrutor, é muito difícil agir alguém com proveito.     

Será que não é por falta dessa sintonia que o dia é tão curto e o ano voa como vivemos a dizer? Sim, porque todo aquele que procura atender às necessidades de acordo com as regras do mundo, ressente-se da falta de tempo necessário, já que é absorvido por essa esponja insaciável dos valores desse mesmo mundo.

Para deixarmos de ser Marta e passarmos a ser Maria, não é necessário entrar e permanecer longo tempo dentro do templo religioso de nossa fé, seja ela qual for. Mas é indispensável penetrarmos nos problemas alheios que podemos e devemos ajudar, atitude essa que representa a boa parte a que se referia Jesus e que o mundo não irá nos tirar.

E então, o que tem existido mais em nós: Marta ou Maria?


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita