Questões vernáculas

por Astolfo O. de Oliveira Filho

 
Examine estas frases:

- Já lhe contei o caso. Já contei-lhe o caso.

- Já o avistei ontem. Já avistei-o ontem.

Há nelas duas propostas de redação: com próclise no primeiro caso; com ênclise no segundo. Qual a correta?

Antes de mais nada, é importante lembrar que nos baseamos aqui nas regras relativas à norma culta, em que imperam os princípios da gramática tradicional ou normativa, fixas e pouco permissivas.

Em Portugal, se não houver algo que atraia o pronome pessoal átono, a ênclise é a posição padrão, ou seja, o pronome é colocado depois do verbo. Exemplo: João ofereceu-me uma bebida.

Existindo na frase uma partícula atrativa, a próclise se impõe. Exemplo: João não me ofereceu uma bebida.

As conjunções subordinativas inserem-se na lista das partículas que determinam a próclise. Certos advérbios e determinadas locuções adverbiais também integram a lista de partículas atrativas, a exemplo de: ainda, já, oxalá, sempre, só, talvez, também.

Eis alguns exemplos:

- Ainda ontem o vi no mercado.

- Já o conhecia há muito tempo.

- Oxalá se mantenha sóbrio.

- Sempre o considerei um indivíduo tristonho.

- Só lhe enviei o comunicado hoje à noite.

- Talvez se lembre do que lhe disse no ano passado.

- Também lhe quero bem.

É importante frisar que essa listagem não é exaustiva e não abarca todos os advérbios e locuções adverbiais; pelo menos esse é o entendimento de muitos gramáticos, contrariamente ao que propõe o gramático brasileiro Evanildo Bechara, que escreveu em sua Moderna Gramática Portuguesa: «Não se pospõe pronome átono a verbo modificado diretamente por advérbio (isto é, sem pausa entre os dois, indicada ou não por vírgula) ou precedido de palavra de sentido negativo».

Concluindo, as frases corretamente redigidas são estas:

- Já lhe contei o caso.

- Já o avistei ontem.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita