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por Rogério Miguez

 
Advertências proféticas
 
Ilustres personagens de nossa História, não é de agora, vêm registrando advertências, conselhos ou sugestões, as quais, em futuro próximo ou distante, acabaram por se tornar realidade.

Consta na Revista Espírita de 1862, um interessante texto de Allan Kardec aos espíritas de Lyon, sua cidade natal, a propósito do ano recentemente iniciado.

O Codificador havia recebido inúmeras cartas por ocasião do ano novo, e naturalmente não poderia respondê-las a todas, mas escolheu uma em especial, assinada por cerca de duzentos seguidores de vários grupos espíritas, evidenciando a coesão, união e harmonia a reinar entre os espíritas de Lyon, um exemplo a ser seguido nos dias atuais no movimento espírita na Terra do Cruzeiro.  Em sua epístola de resposta, Allan Kardec aproveitou e endereçou alguns conselhos gerais, pois as suas palavras seriam publicadas na Revista Espírita a pedido da Sociedade Espírita de Paris; em função de sua relevância para o movimento espírita em geral, retiramos alguns, a saber1:

* A garantia do sucesso está nesta divisa, que é a de todos os verdadeiros espíritas: Fora da caridade não há salvação. Empunhai-a bem alto, porque ela é a cabeça de medusa para os egoístas;

* A tática já posta em ação pelos inimigos dos espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor, é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja;

* Aquele que procura, seja por que meio for, romper a boa harmonia, não pode estar animado de boas intenções;

* Guardar a maior prudência na formação dos vossos grupos, não só para a vossa tranquilidade, mas no próprio interesse dos vossos trabalhos;

* Com orgulhosos, que se escandalizam e se melindram por tudo; com ambiciosos, que se decepcionam quando não têm a supremacia, e com egoístas que só pensam em si mesmos, a cizânia não tardará a ser introduzida e, com ela, a dissolução;

* Devo ainda vos chamar a atenção para outra tática de nossos adversários: a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua competência e que poderiam, com toda razão, despertar susceptibilidades e desconfianças. Também não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto disser respeito à política e às questões irritantes;

* Visando desacreditar o Espiritismo, pretendem alguns que ele vai destruir a religião. Sabeis que é exatamente o contrário, pois a maioria de vós, que mal acreditáveis em Deus e na alma, agora creem; quem não sabia o que era orar, ora com fervor; quem não mais punha os pés nas igrejas, a elas vão com recolhimento;

* Repetirei aqui o que já disse em outras oportunidades: em caso de divergência de opinião, o meio fácil de sair da incerteza é ver qual a opinião que reúne o maior número de partidários, pois há nas massas um bom senso inato que não se deixa enganar;

* Pela vossa união, frustrareis os cálculos dos que vos quisessem dividir. Provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos torna mais moderados, mais brandos, mais pacientes e mais indulgentes.

Como se nota, o Mestre, de conceituado professor e educador, passou a fazer parte da classe dos Profetas, pois as previsões daquela época se tornaram realidade há bom tempo atrás e, tudo parece indicar, continuará acontecendo dadas as circunstâncias atuais.

Os trabalhadores da última hora em sua grande maioria não leram e não se interessaram em aprender com os escritos do Mestre Lionês, ávidos que estão por pseudonovidades literárias a se apresentarem instigantes nos dias hodiernos.

Já nos primeiros anos de desempenho de sua missão singular, em 1862, cinco anos após o lançamento da pedra angular do Espiritismo, O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, em algumas poucas recomendações cristalinas, certamente inspirado ou intuído pelos luminares que o acompanharam durante a elaboração da obra espírita, resumiu como os adeptos da Doutrina deveriam se conduzir para fazer brilhar bem alto a bandeira espírita, sem rixas, tampouco dissensões, muito menos divisões.

A “receita” do Mestre ainda é válida e nos aguarda para segui-la com dedicação, sob pena destes trabalhadores da última hora, que somos todos nós os espíritas, apesar de termos recebido mais uma oportunidade de trabalho, mais um voto de confiança de Jesus, nos encontrarmos em mais um final de vida, no plano espiritual, surpresos por não termos aproveitado esta derradeira chance de acompanhar a evolução natural da Terra.

O tempo urge àqueles que:

1. Ainda se mostram mais preocupados em ocupar cargos administrativos dentro do movimento e na própria Casa em que militam, esquecendo-se de trabalhar com afinco nas pequenas tarefas que dão sustentação às Instituições;

2. Não se interessam em estudar com constância os livros básicos do Espiritismo, se deixando levar pelos modismos e propostas indecorosas que fustigam a verdadeira Doutrina por todos os lados;

3. Estimulam movimentos duvidosos em torno de nomes de valorosos espíritas desencarnados, se autointitulando amigos deste ou amigos daquele, mas no fundo apenas desejam servir aos seus interesses particulares, alimentando a própria vaidade e soberba, e mais, comercializando as suas próprias obras ditas espíritas;

4. Atuam nos Centros visando apenas servir às suas opiniões pessoais, fazendo das instituições seus locais particulares onde se expressam apenas para agradar a maioria sem nenhum compromisso com a verdade e a caridade;

5. Usam suas posições de mando dentro das Instituições permitindo trabalhadores despreparados estarem à frente de atividades requerendo o mais alto grau de conhecimento e responsabilidade, apenas para contentá-los, mantendo-os, desta maneira, sob seus círculos de influência...

Nota-se com pesar a propaganda e realização de encontros para divulgar a amizade por este ou aqueloutro antigo trabalhador da seara, todavia, ainda não há notícias dos Amigos de Allan Kardec, este, sim, um movimento verdadeiramente espírita.

Esta é a chamada final, a hora da decisão, contudo, caso não ajamos conforme o Codificador nos sugeriu, não nos surpreendamos ao chegar na aduana do pós-vida sem as credenciais para adentrar o tão esperado e aguardado “Reino de Deus”, caso isto se dê, mesmo assim, tenhamos a certeza de não estarmos desamparados pelo Magnânimo, pois Ele nos proporcionará novas chances de acertar o passo com as Suas leis, tantas quantas forem necessárias, porém, não nos espantemos igualmente, talvez mais uma advertência profética, se este novo acerto for realizado em outro orbe, pois não herdaremos a Terra. A escolha é nossa!

 

Referência:

(1) KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 5, n. 2, fev. 1862. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Resposta dirigida aos espíritas lioneses - Por ocasião do ano-novo. Texto adaptado para o artigo.

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita