Artigos

por Bruno Abreu

 
Ilusão ou não?
 
Diz o dicionário que a ilusão é a compreensão de forma errada por parte da mente.

Quando olhamos para as pessoas a nossa volta, parece-nos que muitas das vezes estão iludidas com determinada situação. Jesus Cristo a certa altura diz-nos: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8:32), deixando claro nessa mensagem que não conhecemos a verdade.

Sinto-me confuso com estas palavras do Mestre da Vida; como cristão estudante de suas sábias palavras, não tenho nenhuma dúvida acerca de sua sabedoria, tenho muitas duvidas é sobre o meu conhecimento. Se não compreendo as palavras do Mestre é natural que viva em ilusão porque não sei a verdade tal como Ele indicou, mas não consigo perceber isso. Ora, qualquer “boa” ilusão tem que parecer verdade porque quando vemos a ilusão como tal ela desfaz-se.

Talvez a causa da ilusão que Jesus fala seja um conjunto de ilusões ou formas pensamentos com que alicerçamos nossas mentes e serve como base ao caráter do nosso ser, ator principal do palco de reencarnação.

Erasto (Espírito) aconselha-nos em O Livro dos Médiuns:Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Efetivamente, sobre essa teoria poderíeis edificar um sistema completo, que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre areia movediça...”.

No caso da formação de caráter do homem, aceitar uma “mentira”, no sentido de ilusão, que muitas das vezes são plantadas durante a infância, daí a importância da educação dos pais, pode ser a criação de um “dogma” mental que nos levará a ver a vida de forma errada. A isso chamamos de caráter ou feitio.

Por exemplo: se eu sou educado em uma família que me ensina que devo ser agressivo perante as situações difíceis, irei reagir durante a minha vida de forma violenta ante as situações difíceis ou sentir-me-ei um “covarde”. Essa situação só irá modificar-se quando eu perceber através do sofrimento próprio que tal atitude está errada, que a violência não é resposta a nenhuma situação na vida.

Por vezes ouço as pessoas a falar e perguntar como podem ser melhores?

Um doente chega ao consultório médico e diz: – Doutor, quero ser saudável, como o poderei fazer?

O médico pergunta: – O senhor está doente?

O doente responde: – Não é importante, eu quero é ser saudável, preocupemo-nos com isso.

Será que isso faz alguma lógica?

Não é isto parecido ao “Quero ser uma pessoa melhor, quero ser uma boa pessoa”.

A saúde é um Estado Natural do ser humano, ou seja, se não existisse a doença, que é a alteração ao estado natural humano (saúde), não haveria a necessidade de “rotularmos” a inexistência da doença, ou seja, o estado saudável ou saúde.

Se eu perco a saúde pelo motivo de uma doença a recuperação desta passa pela cura da moléstia, então fixar-me no estado de saúde é uma ilusão tremenda, porque, para voltar ao estado natural, temos simplesmente que tratar a doença, concentrarmos nossas forças nela, e o estado de saúde aparecerá de forma natural. Não há hipótese de sermos saudáveis sem passarmos pela eliminação da enfermidade, porque a saúde é a inexistência da doença.

A mesma situação se dá connosco na nossa forma do ser inteligente. As doenças são as formas “humanizadas”, o egoísmo, orgulho, vaidade etc., que nascem em nós como formações mentais para uma contrapartida imediata e prazerosa do ser. O apego são os sintomas dessa doença; não podemos curar os sintomas, temos que tratar a doença, mas servem para vermos o nível da enfermidade. O nosso estado natural é a nossa essência, o que nos faz filhos de Deus; todas estas “enfermidades” deturpam nosso ser, o que somos; para regressarmos ao estado de nossa “essência” temos que curar as doenças, de nada vale nos fixarmos na “bondade” do ser ou querermos ser melhores, porque isso acontecerá durante a “volta” ao estado natural com a diminuição das “doenças” do Espírito.

Poderei eu ser uma “boa” pessoa, egoisticamente ou orgulhosamente?

Lao Tsé diz-nos que uma longa caminhada começa pelo primeiro passo; no meu ver, o progresso individual do ser começa bem perto, por trabalharmos aquilo que somos, os nossos defeitos.

Penso que esta é das maiores ilusões que temos “tenho que ser bom” porque leva-nos a imaginar um ser bom e a fixarmos a nossa ideia nessa imagem, copiamos as qualidades de quem admiramos sem percebermos que seus atos são uma extensão do seu ser. A realidade é o que somos, em vez de fugirmos dela ou entrarmos em frustração, que é pior, temos que a encarar e trabalhar o que existe, nossos defeitos, a melhoria (a saúde) virá do tratamento as “enfermidades”, e ai saberemos com toda a consciência e realidade como é ser um ser melhor.

Agarremos na tesoura da poda, ganhemos coragem para o duro trabalho e podamos nossos defeitos humanos para nos aproximarmos da nossa “essência” filial.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita