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por Ricardo Baesso de Oliveira

Como Kardec definia o vocábulo espírita
 

Os espíritas não costumam entender-se quanto ao que se define por
espírita.

Muitos nos valemos desse vocábulo para designar aqueles que estudam e praticam os ensinamentos de Allan Kardec. Sob esse aspecto, espíritas seriam os kardecistas. Essa conceituação excluiria, por exemplo, os umbandistas, pois possuem uma teoria e uma prática singulares (comumente ouvimos a expressão “umbandista não é espírita”). Excluem, igualmente, aqueles que leem e gostam das obras espíritas, mas frequentam outras agremiações religiosas, como o catolicismo. Também não se identificariam com essa proposta os espiritualistas norte-americanos e europeus, como os adeptos da “Nova era”, que se valem, na maioria das vezes, de autores de língua inglesa e não costumam referir-se a Kardec. Também, por motivos óbvios, não seriam espíritas milhares de adeptos do budismo e do hinduísmo, apesar de admitirem as vidas sucessivas.

Outros se utilizam desse vocábulo, dando-lhe um colorido ético. Identificamos como espíritas somente aqueles que se esforçam por se melhorar. Não consideramos, portanto, como tal, aqueles que frequentam ou trabalham no centro espírita, mas, em nossa avaliação, se encontram distantes da moral cristã. São pessoas que falam com entusiasmo da doutrina espírita, ardorosos defensores de Kardec, apaixonados frequentadores do centro, mas gostam do Espiritismo como outros gostam de pesca submarina ou de futebol – apenas uma questão de gosto. O Espiritismo lhes enche o cérebro de dopamina e lhes dá muito prazer, mas se mantêm arrogantes, sedutores, mesquinhos ou desonestos. Não raramente encontramos pessoas assim, e costumamos exclamar: “Esse não é espírita!”.

Que pensava Kardec a respeito?

Nosso codificador apresentou o conceito de espírita em alguns de seus textos e a definição apresentada por ele pode surpreender. No livro O que é o Espiritismo, capítulo primeiro, segundo diálogo, Kardec coloca o Espiritismo como uma crença pessoal e reafirma tal ideia na obra O Espiritismo em sua expressão mais simples, ao colocar que espírita é todo aquele que crê nas manifestações dos Espíritos.

O pensamento de Kardec insere a definição de espírita na seara do pensamento – crer, crença – sem nenhuma relação com prática, frequência a determinado local, ou profissão de fé em suas obras.

Kardec será ainda mais explícito, na Revista espírita de junho de 1868, ao escrever:

A gente é espírita, desde o momento em que se entra nesta ordem de ideias, ainda mesmo quando não se admitissem todos os pontos da Doutrina em sua integridade ou em todas as suas consequências. Por não ser espírita completo não se é menos espírita, o que faz que, por vezes, se o seja sem saber, algumas vezes sem o querer confessar e que, entre os sectários das diferentes religiões, muitos são espíritas de fato, quando não de nome.

Esse pensamento de Kardec acompanhou-o durante toda a sua trajetória. Na Revista Espírita, edição de janeiro de 1869, poucas semanas antes de sua desencarnação, ele apresenta uma estatística dos espíritas, insistindo na tese de Espiritismo como crença pessoal. Coloca que, em relação às ideias religiosas, os espíritas são:

. católicos romanos, livres-pensadores, não ligados ao dogma: 50%

. católicos gregos: 15%

. judeus: 10%

. protestantes liberais: 10%

. católicos ligados aos dogmas: 10%

. protestantes ortodoxos: 3%

. muçulmanos: 2%.

A conceituação kardequiana é inclusiva por excelência e nos leva a considerar como espírita qualquer pessoa que admita a existência e sobrevivência dos Espíritos e a possibilidade de sua manifestação entre os homens, independente de qualquer outra coisa. A definição kardequiana, assim, talvez nos leve a considerar como espíritas: Gandhi, o Dalai Lama, Crookes, Wiliam James, Russel Wallace e a Dra. Elizabeth Kluber-Ross. Quem não gostaria de tê-los em seu time?
 

 

     
     

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