Artigos

por Guaraci de Lima Silveira

Adolescer

Antigamente se pensava que o cérebro do adolescente era como que um órgão adulto imaturo, daí as causas de suas alternâncias constantes de humor e comporta-mentos em grupo ou isoladamente. Contudo, estudos recentes de imagem por ressonância magnética mostram que nessa fase ocorrem mutabilidades e crescimentos de atividades em redes em diferentes regiões cerebrais. O sistema límbico responsável por estimular emoções intensifica seu desenvolvimento na puberdade, mas o córtex pré-frontal, que controla impulsos, só começa a amadurecer dez anos depois. Isso pode causar ao adolescente sérios riscos ao mesmo tempo em que se adaptam mais facilmente aos ambientes que frequentam. Daí que a sociedade deve se ajustar perante os meninos e meninas, objetivando auxiliá-los nas buscas do que desejam estudar e ser.

A neurociência tem concluído que o cérebro do adolescente foi moldado pela evolução para funcionar de forma diferente do de uma criança ou de um adulto. Adolescentes possuem uma capacidade incrível de mudar em resposta ao ambiente. Essa ação ou plasticidade especial pode constituir-se em uma faca de dois gumes porque permite ao adolescente muitos progressos no modo de pensar e socializar, mas a mutação constante também pode expô-los a comportamentos perigosos e graves transtornos mentais, como nos informa Jay Giedd, presidente da divisão de psiquiatria infantil e adolescente da Universidade da Califórnia em San Diego, Estados Unidos.

Walter Barcelos em seu livro: Sexo e Evolução, editado pela FEB em 2005, vem-nos dizer que: “O Espírito, ao sair da fase infantil e penetrar na adolescência, passa a apresentar mudanças bruscas e imprevisíveis no seu comportamen-to, em virtude do fardo de estímulos sexuais que já carrega em si mesmo como herança de si próprio, oriunda de séculos de experiência”.

Aqui é importante verificar como a ciência e o Espiritismo se unem para compreender essa questão. Ora, como vimos acima, a ciência estuda o cérebro, e nosso irmão Walter Barcelos vai à causa mostrando a origem quando nos diz sobre experiências acumuladas de existências pregressas e que a Psicologia Analítica chama de Inconsciente.

Diz-nos o doutor Christian Dunker, da USP, que “o adolescente tem à sua frente a difícil tarefa de amar um objeto indeterminado, escolher alguém ou algo assim como uma profissão, um contexto, um projeto. E ele ainda terá que amar e ser amado, mas da forma diferente como fazia quando era criança”. Viverá a ruptura de objetos transacionais como a colcha preferida, o brinquedo que o embalava, o travesseiro que o acolhia em suas noites infantis. Tudo isso agora será perdido uma vez que sua infância lhe é finda. Conclui dizendo que: “De certa forma o adolescente tem essa mesma sensação de inutilidade, vacuidade, indiferença do mundo para si e de si para o mundo”. Como podemos ver e sentir, adolescer não é tão fácil e tampouco remonta a inconsequências desastrosas. É, antes de tudo, um processo que a sociedade, a partir dos pais e familiares próximos, necessita pesquisar e entender. É bom colocar neste rol os educadores formais ou não, uma vez que o adolescente passará com eles grande parte de suas vidas como necessitados de suas presenças e informações. 

Acresce-se a isso que o Espírito é individual. Assim, numa casa onde se tem vários filhos, cada um deles responderá nessa fase, de acordo com sua individualidade e seus arquivos do inconsciente. Daí que Jesus disse a Zacarias de Jericó que: “Toda criança é um depósito de Deus”. É grave, mas os especialistas dizem que nessa fase quase sempre os pais costumam abandonar psicologicamente os filhos, deixando-os por conta da sorte, dos amigos, da escola e do social. Isto pode causar transtornos, pois que os seus pares podem estar sentindo a mesma sensação de abandono por parte dos pais ou da sociedade como um todo.

“É, pois, indispensável que, no período juvenil, todos se permitam orientar pela experiência e maturidade dos pais e mestres, a fim de que os adolescentes transitem com segurança, não assumindo compromissos para os quais ainda não possuem resistência psicológica, moral e existencial”, conclui o Doutor Christian Dunker.

Corroborando com o acima exposto, a mentora Joanna de Ângelis nos informa que:

“O Espiritismo oferece ao jovem um projeto ideal de Vida, explicando-lhe o objetivo real da existência na qual se encontra mergulhado, ora vivendo no corpo e, depois, fora dele, como um todo que não pode ser dissociado, somente porque se apresenta em etapas diferentes. Explica-lhe que o Espírito é imortal e a viagem orgânica constitui-lhe recurso precioso de valorização do processo iluminativo, libertador e prazeroso”.

Cabem aqui as reflexões contidas nas questões 209 e 210 de O Livro dos Espíritos, em que somos informados de que um mau Espírito pode pedir bons pais, na esperança de que seus conselhos o dirijam por uma senda melhor, e muitas vezes Deus o atende. E ainda que os pais não podem atrair para o corpo do filho apenas bons Espíritos, mas podem melhorar o Espírito da criança a que deram nascimento e que lhes foi confiada. Esse é o dever: filhos maus são uma prova para os pais. Eis a razão pela qual devemos levar nossas crianças para as Escolas de Evangelização.

Quando a adolescência chegar, terão melhores condições de se resolverem uma vez que, como vimos, o período adolescente é de profunda transição, carecendo de recursos éticos, morais, ambientais e de muitos entendimentos daqueles que abrigam em suas casas e corações Espíritos encarnados passando por essa fase.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita