Entrevista
por Guaraci de Lima Silveira

Ano 11 - N° 518 - 28 de Maio de 2017

Autor de Memória Espírita fala à revista

Henderson Marques Lopes (foto) é economista e professor aposentado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Atualmente é vice-presidente da Associação de Belas Artes Antônio Parreiras, que é uma instituição de ensino e incentivo às artes plásticas, com mais de oitenta anos de existência. Natural de Além Paraíba, cidade da Zona da Mata Mineira, reside em Juiz de Fora desde 1962. Nascido em família espírita, já exerceu o cargo de presidente do Centro Espírita Amor ao Próximo da cidade de Juiz de Fora. Atualmente é o seu vice-presidente e exerce igualmente atividades no Conselho Editorial da revista O Médium, editada pela AME-JF. Autor do livro Memória Espírita que retrata datas históricas e personagens espíritas, numa coletânea interessante, educativa e ilustrativa, ótima para pesquisadores e interessados no Movimento Espírita Brasileiro, Henderson conversou conosco: 

Sua vida é rica em trabalhos no Movimento Espírita. Quando tudo isso começou?

No final da década de 1950, quando, ainda jovem, frequentando a Mocidade Espírita de nossa cidade natal, passamos a ministrar aulas de evangelização infantojuvenil. Depois, já em Juiz de Fora, fomos eleito, em janeiro de 1963, diretor do então Departamento de Mocidade (DM) da AME-JF, hoje Departamento de Evangelização do Jovem (DEJ). Mais tarde, no início da década de 1970, passamos a integrar o quadro de trabalhadores da área da evangelização espírita infantil da AME-JF e do Departamento de Evangelização da Criança (DEC), do qual também fomos Diretor, com a re-ferida equipe desenvolvendo inúmeras ações, como a promoção de cursos, encontros etc. (em Juiz de Fora e em outras cidades), elaboração de  aulas, preparação de material didático e orientação mensal de evangelizadores das Escolas Espíritas de Evangelização das instituições de Juiz de Fora e Região. Nesse trabalho, permanecemos até o final do ano de 2007, após quase quarenta anos dedicados à evangelização infantojuvenil. 

Em sua opinião, qual a importância das Alianças Municipais Espíritas?

As AMEs têm importância fundamental no processo de união das instituições espíritas e da imprescindível unificação do Movimento Espírita. Unindo os centros espíritas, orientando-os – sem, entretanto, promover ingerência em sua necessária autonomia administrativa –, realizando cursos nas diversas áreas, encontros fraternos, etc., as AMEs colaboram, sem dúvida, para a denominada Unificação do Movimento Espírita, indo da base – cujo ponto de partida é o Centro Espírita – até alcançar a instituição federativa nacional.  

O movimento de unificação espírita deveria buscar quais parâmetros?

É imprescindível, em resumo, além de organização e planejamento, observar e aplicar efetivamente em todas as ações as palavras de nosso Mestre Jesus, quando Ele nos diz: “Amai-vos uns aos outros”.  

Como as instituições espíritas de Juiz de Fora e região recebem as orientações da AME/JF?

Em Juiz de Fora, pela nossa experiência dos últimos 50 anos, temos observado que as Diretorias da AME-JF têm sido formadas por confrades de diversas instituições, o que favorece a união, a integração, a fraternidade e a troca de experiências, o que é realmente saudável. Desse modo, cremos que as orientações são recebidas e absor-vidas num clima de harmonia e tranquilidade. Para isto, também cola-boram as reuniões bimestrais do CEM-Conselho Espírita Municipal da AME, onde fraternalmente se encontram os conselheiros (dois por instituição) para discussão e resolução de assuntos de interesse do Movimento Espírita municipal e regional (a AME-JF é, pelo esquema federativo estadual, sede da 7ª. Região de Minas Gerais  - Zona da Mata-Sul).  

Em seu livro “Memória Espírita” lançado em agosto de 2014, você se refere à importância da preservação da memória dos fatos e eventos espíritas. Poderia dizer-nos algo sobre isso?

Resumidamente, apenas repetindo o que lá escrevemos, consideramos como fundamental para a História do Espiritismo a preservação de sua “memória”, por meio da reunião, conservação, organização e divulgação dos dados produzidos pelo Movimento Espírita. Para isso, faz-se necessário que os dirigentes e trabalhadores espíritas se conscien-tizem sobre o que é produzido na sua instituição, organizando a do-cumentação e as fontes de pesquisa, base para os estudos históricos da evolução do Movimento. O próprio Kardec, com sua visão histórica, teve a preocupação de registrar fatos e impressões sobre o trabalho que realizava, como podemos verificar na “Revista Espírita” e em “Obras Póstumas”. Lembremo-nos também de que, não fossem os registros dos evangelistas, não conheceríamos ou não chegariam até nós os atos e os fatos da vida de nosso Mestre Jesus! 

Como é a estrutura do seu livro?

O livro “Memória espírita” registra fatos variados da História do Espiritismo, mês a mês, de 1º de janeiro a 31 de dezembro, desde os fenômenos de Hydesville até os dias atuais. Apresenta 240 biografias resumidas (que denominamos “minibiografias”), registros de eventos (congressos, encontros etc.), da-tas de publicação de livros, de criação de periódicos, de fundação de instituições espíritas, além de fatos variados do Movimento Espírita brasileiro e mundial. Os fatos e pessoas relacionadas ao Espiritismo em Juiz de Fora ocupam cerca de vinte e cinco por cento do material. O livro contém ainda dezenas de gravuras e fotos diversas. 

Como adquiri-lo?

O livro foi de nossa edição. O contato para aquisição e outras informações pode ser feito pelo
e-mai
l: hmarqueslopes@gmail.com, sendo que o livro será remetido com as despesas postais por nossa conta. É um trabalho de divulgação da História do Espiritismo que gostamos de realizar. 

Sentimos em você uma dedicação muito grande ao trabalho da AME/JF. Poderia  falar-nos um pouco sobre a revista O Médium, editada por ela?

Desde 1962, quando nos mudamos para  a  cidade  Juiz  de  Fora, procuramos participar dos  trabalhos desenvolvidos pela AME-JF, seja na área da evangelização infantojuvenil, seja na área de divulgação doutrinária. A revista foi fundada em 30 de julho de 1932 pelo jornalista Jesus de Oliveira (1891-1967), um dos pioneiros do jornalismo na cidade. O primeiro número foi deapenas quatro páginas, com a tira-gem de 500 exemplares. Ela cresceu com o passar do tempo, e desde 1955 pertence à AME-JF (à época denominada União Espírita de Juiz de Fora). A partir de meados da década de 1950, a revista teve como diretor/redator o irmão Kleber Halfeld (1928-2015), que a dirigiu durante mais de trinta anos. Depois vieram outros trabalhadores, imprimindo cada qual a sua visão na parte “técnica”, mas sempre em consonância com a orientação doutrinária estabelecida pela Diretoria da AME-JF, que responde pela edição da revista. Importante destacar que “O Médium” jamais abrigou, em suas páginas, polêmicas ou discussões estéreis, nunca se afastou dos princípios estabelecidos pela Doutrina Espírita. Consideramos isso fundamental para o êxito da revista, a qual, pouco a pouco, dentro em breve, estará chegando ao seu centenário! 

Quais as figuras mais relevantes da época da fundação do Movimento Espírita em Juiz de Fora?

O Movimento Espírita de Juiz de Fora teve início no final do século XIX, com a atuação de inúmeros confrades que se reuniam em suas casas para estudar a Doutrina e realizar reuniões mediúnicas bem orientadas. Inicialmente, foi criado um grupo de estudos da Doutrina, denominado “Fé, Esperança e Caridade.” Com origem nesse grupo, logo após, já em 1901, era fundado o primeiro Centro Espírita da cidade, o União, Humildade e Caridade, considerado o segundo centro de Minas Gerais. O nome a destacar é o de Joaquim Gouvêa Franco (português), que aqui chegou em 1898. Depois, em 1912, os também portugueses Maria Monteiro e seu esposo, João Monteiro, fundam o C.E. Fé e Caridade. Cabe mencionar, ainda, entre os pioneiros da primeira hora, o nome de Calíope Braga de Miranda (D. Zuzu), uma das senhoras fun-dadoras, em 1919, da Casa Espírita. Em 1927, é criado o C.E. D. Pedro II. Um grupo de espíritas, à frente João de Campos Monteiro Bastos, funda a Casa de Kardec (depois denominada União Espírita de Juiz de Fora, e, atualmente, desde 1959, Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora). Resumindo, pedindo desculpas pela ausência de algum nome, e são muitos que devemos a todos eles nosso preito de gratidão. 

Que dizer aos dirigentes atuais das instituições espíritas?

Que procurem, acima de tudo, dirigir suas instituições aplicando a lei de justiça, amor e caridade, como ensinou Jesus; que busquem ainda capacitar-se permanentemente nas técnicas administrativas, para o melhor e mais adequado desenvolvimento de suas atividades; que procurem, como ensinou Kardec (em “Obras Póstumas” ), a união (“laços de fraternidade”) entre as instituições espíritas, com vistas à troca de experiências e à necessária Unificação do Movimento Espírita.  

Os palestrantes espíritas podem ser inseridos no contexto do “Ide e Pregai”, proclamado por Jesus. O que dizer a eles?

Que continuem com a sublime tarefa de levar os ensinos de Jesus, à luz do Espiritismo, a todos quantos estejam à procura de uma palavra consoladora e esclarecedora sobre as verdades eternas, pois somos espíritos imortais e o nosso destino é a Perfeição, a Felicidade. A destacar, ainda, para observância pelos palestrantes espíritas (e também pelos dirigentes), as palavras do querido Benfeitor Bezerra de Menezes: “É indispensável manter o Espiritismo qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec: sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios.”   

Você cita em seu livro que Venâncio Café é o mentor do Movimento Espírita de Juiz de Fora, segundo revelação do Chico Xavier. Quem foi ele e quando aqui viveu?

O padre Venâncio Ribeiro de Aguiar Café nasceu em 1846, em São Miguel e Almas (hoje, Guanhães, no Nordeste de Minas). Perdeu o pai ainda criança, sendo criado e educado pela mãe. Mais tarde, estudou nos seminários de Diamantina e do Caraça, recebendo o Sacramento da Ordem em 1873. Doutorou-se em Roma e, voltando a Guanhães, fundou o Colégio São Miguel. Possuidor de eloquente oratória, em 1880 foi eleito deputado provincial pelo Partido Liberal (aliás, o mesmo partido do qual foi líder, no Rio de Janeiro, o Benfeitor Bezerra de Menezes); como político, atuou brilhantemente no Congresso Mineiro, em Ouro Preto. Em 1886 mudou-se para Juiz de Fora e em 1891 foi nomeado vigário da cidade. Renunciou ao bispado no Pará, para o qual fora nomeado, preferindo continuar como sacerdote na cidade de Juiz de Fora. Desencarnou em 1898, com apenas 51 anos. O querido médium Chico Xavier, em suas visitas à cidade de Juiz de Fora, no final da década de 1940 e início dos anos 1950, revelou, numa delas, que, conforme informação do Espírito Emmanuel, Venâncio Café é o mentor do Movimento Espírita de Juiz de Fora e Região, tal a sua envergadura espiritual.  

Como é sua visão sobre Juiz de Fora e o Movimento Espírita nacional?

Otimista, como deve ser a visão do espírita, segundo entendemos. Cada qual trabalhando no fortalecimento e desenvolvimento de sua instituição, à luz do Evangelho de Jesus e sob a orientação dos ensinos de Kardec, estará contribuindo para o progresso do Movimento Espírita nacional. 

Em sua opinião o Brasil é mesmo a Pátria do Evangelho e Coração do Mundo? Sem dúvida alguma. Cremos firmemente nisso. O Brasil já está desempenhando papel fundamental no processo de evolução espiritual da Humanidade, haja vista a sempre crescente propagação das ideias espíritas em todos os setores de atividades. A procura pelos centros espíritas tem aumentado consideravelmente, conforme podemos observar nos últimos tempos, com as pessoas ávidas em conhecer a Doutrina, que nos consola, clareia as nossas mentes e nos liberta do medo e da superstição a que estávamos acostumados no passado.  

Agradecemos e pedimos que nos deixe suas palavras finais.

Nós é que agradecemos a gentileza do Irmão, dando-nos a oportunidade de falar aos queridos amigos e confrades que nos leem. Continuemos todos unidos, pois, assim, fortalecidos no Amor do Cristo, cumpriremos a parte que nos toca – embora pequena, mas importante, cremos – no processo de colaborar para a mais rápida regeneração deste belo Planeta Terra que nos abriga no momento.  Paz de Jesus para todos!

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita