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por Ricardo Orestes Forni

Fecharam a porta do céu?

Antes de entrarmos propriamente a cogitar sobre a pergunta do artigo, vamos fazer algumas considerações.

Creio que, senão todos, a maioria dos leitores já viu um tigre em zoológico. É um animal solitário, talvez mal-humorado. O macho só se aproxima da fêmea na época reprodutiva. Alguém teria coragem de entrar na jaula de um animal desses que tivesse ficado trinta dias sem comer nada?

Da mesma forma acreditamos que todos já viram um leão e uma leoa enjaulados. Alguém teria coragem de entrar nessa prisão se esses animais estivessem um mês sem comer?

Vamos agora para o exemplo do urso. Quando fica em posição de ataque, atinge cerca de três metros de altura. De largura não sei, mas deve ser uma medida para mais de metro. Alguém teria coragem de ficar na frente dele se o animal estivesse em jejum prolongado?

Pois é. Agora vamos à pergunta acima: será que fecharam a porta do céu? Sim, porque já não se vê mais um cego ser curado, um surdo voltar a ouvir ou um mudo a falar, um leproso a quem tenha-se devolvido a saúde sem o uso da medicação adequada. Isso só para citar enfermidades conhecidas na época em que Jesus esteve em um corpo físico entre os homens. E então? Por que hoje em dia, após mais de dois mil anos de Cristianismo, não se vê esses acontecimentos que deixavam boquiabertos os homens daquela época?

É só lembrarmos que os cristãos entravam na arena onde os animais acima citados estavam famintos à espera deles para encontrarmos a resposta. Isso sem falar nas fogueiras, decapitações, caldeirões com óleo fervendo, esquartejamento e tudo o mais que a maldade humana é capaz de criar para supliciar o seu semelhante. Sim! Hoje não temos mais a fé dos primeiros trezentos anos da era cristã!

As portas do céu não se fecharam, foi nossa fé que ainda não atingiu o grão de mostarda, não produzindo a força de atração necessária ao socorro que existiu naquele tempo e que continua existindo.

Leiamos Emmanuel no livro Vinha de Luz, na lição intitulada Em que perseveras: “Asseveram muitos que o Céu estancou a fonte das dádivas, esquecendo-se de que a generalidade dos crentes entorpeceu a capacidade de receber.

Onde a coragem que revestia corações humildes, à frente dos leões do circo?  Onde a fé que punha afirmações imortais na boca ferida dos mártires anônimos? Onde os sinais públicos das vozes celestiais? onde os leprosos limpos e os cegos curados?

A Providência Divina é invariável em todos os tempos.

A atitude dos cristãos, na atualidade, porém, é muito diferente. Raríssimos perseveram na doutrina dos apóstolos, na comunhão com o Evangelho, no espírito de fraternidade, nos serviços de fé viva.

A Bondade do Senhor é constante e imperecível.

Reparemos, pois, em que direção somos perseverantes”.

Podemos concluir, portanto, que a porta do céu não se fechou. Continua aberta como sempre. Mas os braços que se elevam em direção a ela são braços ausentes do serviço na obra do bem ao próximo.

As vozes que se elevam para suplicar permanecem mudas diante daquele necessitado de uma palavra de bom ânimo.

Os olhos que buscam o Alto são cegos diante da necessidade alheia.

O coração que busca socorro é frio e indiferente para com a dor do outro.

A fé que enfrentava os tipos de sofrimentos terríveis daquela época, em que os cristãos eram caçados para iluminar o circo romano, dorme na indiferença do egoísmo.

Não somos capazes de entrar na jaula do animal faminto nos dias de hoje como não somos capazes de entrar na casa onde a dor fez morada.

Não enfrentamos as fogueiras de outrora, mas incendiamos a vida alheia alimentando as maledicências.

Não padecemos pregados a uma cruz, mas crucificamos o próximo na cruz de nossas exigências.

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão e no partir do pão e nas orações.” – (Atos, 2:42)

Em que perseveramos nós para que a porta do Céu não conceda os prodígios de outros tempos?

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita