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por Arnaldo Divo Rodrigues
de Camargo

Partida e chegada

Toda semana o nosso Jornal Correio de Capivari anuncia a partida de vários capivarianos de retorno à vida espiritual, na sua coluna falecimentos.

Imortalidade da alma – qual a sorte dos homens depois da sepultura?  

Segundo a doutrina niilista, sendo a matéria a única fonte do ser, a morte é considerada o fim de tudo.

De acordo com a doutrina panteísta, o Espírito, ao encarnar, é extraído do todo universal. Individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, com a morte, à massa comum.

De maneira geral, cristãos, islâmicos e judeus acreditam que após a morte há a ressurreição.

Já a doutrina espírita, também cristã, demonstra a continuação da vida no plano espiritual após a morte do corpo físico. E explica pela reencarnação que Deus abre novas possibilidades para o Espírito no futuro retornar em novo corpo, para continuar o processo de evolução. Aqueles que praticam o bem, evoluem mais rapidamente. Os que praticam o mal, recebem novas oportunidades de melhoria através das inúmeras reencarnações. Portanto, creem na imortalidade e na individualidade da alma e na existência de Deus, mas não como Criador de pessoas boas ou más. Deus criou os Espíritos simples e ignorantes, sem discernimento do bem e do mal. Quem constrói o céu e o inferno é o próprio homem em seu interior.

Gosto muito deste pensamento do poeta francês Victor Hugo (1802/1885): – Quando estiver no túmulo poderei dizer, como tantos outros: ‘Terminei minha jornada’ e não ‘terminei minha vida’. Minha jornada recomeçará no outro dia, de manhã. O túmulo não é um labirinto sem saída; é uma avenida, que se fecha no crepúsculo e volta a abrir na aurora.

Gosto muito dessa mensagem que é sempre comentada e não tem um autor identificado que compara a partida e a chegada para a Pátria espiritual.

Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de rara beleza.

O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.

Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: “Já se foi”. Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.

Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz “já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “Lá vem o veleiro”!!!

Assim é a morte.

Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível, dizemos: “Já se foi”.

Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. Na verdade são invisíveis e não ausentes.

O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas e afeições persistem na nova dimensão espiritual.

Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais se necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos “já se foi”, no Além, outro alguém dirá: “Já está chegando”. Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.

Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário ou incômodo.

A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas. Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada. Retorno ao que escreveu o poeta francês Victor Hugo: – O berço tem um ontem e o túmulo um amanhã.

Assim, um dia, todos nós partimos como seres imortais que somos, ao encontro d’Aquele que nos criou.

 

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora EME.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita