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Entrevista
Ano 1 - N° 9 - 13 de Junho de 2007
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Astolfo O. de Oliveira Filho:
"A infância é o período mais favorável a que eduquemos nossos filhos"

 

Um dos fundadores deste periódico, do qual é diretor de redação; editor do jornal O Imortal desde dezembro de 1983 e vice-presidente do Centro Espírita Nosso Lar, de Londrina (PR), Astolfo Olegário de Oliveira Filho nasceu em família espírita e atua, desde a juventude, nas tarefas de estudo e divulgação do Espiritismo. Autor do livro 20 Lições sobre Mediunidade, publicado em novembro de 2003 pela Editora Leopoldo Machado, é de sua autoria a maioria dos estudos espíritas constantes do site desta revista, os quais abrangem as obras de Kardec, André Luiz, Manoel Philomeno de Miranda, Léon Denis, Gabriel Delanne e muitos outros, além de temas variados como mediunidade, sexualidade, alcoolismo, suicídio, passe magnético, que integram também o referido site.

Nesta entrevista, ele nos fala sobre a evangelização dos nossos filhos e sua importância no mundo em que vivemos.

O Consolador - Por que devemos evangelizar nossos filhos?

Astolfo Olegário – Lemos logo na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo: "Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegou mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular, é uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura" (O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução, item I). Evangelizar uma pessoa, seja ela uma criança, seja ela um adulto, é indicar-lhe o mapa da felicidade, é dar-lhe condições de encontrar o reino de paz com que todos sonhamos.

- Em que momento deve a evangelização ser iniciada?

Astolfo Olegário - Na infância, esse período da existência corpórea que Emmanuel, num feliz momento de inspiração, definiu: "A juventude pode ser comparada a esperançosa saída de um barco para uma longa viagem. A velhice será a chegada ao porto. A infância é a preparação".

É durante a infância, ensina o Espiritismo, que o Espírito "é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo" (O Livro dos Espíritos, item 383).

Explicando melhor a questão, Emmanuel afirma: "O período infantil é o mais sério e o mais propício à assimilação dos princípios educativos. Até os sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para a nova existência. Ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas recordações do plano espiritual são, por isto, mais vivas, tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e estabelecer novo caminho. Passada a época infantil, atingida a maioridade, só o processo violento das provas rudes, no mundo, pode renovar o pensamento e a concepção das criaturas, porquanto a alma encarnada terá retomado o seu patrimônio nocivo do pretérito e reincidirá nas mesmas quedas, se lhe faltou a luz interior dos sagrados princípios educativos" ("O Consolador", pergunta 109).

- Onde a evangelização deve ser realizada?

Astolfo Olegário - No lar, que será sempre, de acordo com o Espiritismo, a melhor escola para a preparação das almas encarnadas. Ensina-nos Santo Agostinho (ESE, cap. 14, item 9): "Oh! espiritistas, percebei o grande papel da Humanidade; compreendei que, quando produzis um corpo, a alma que nele se encarna vem do espaço para progredir. Cumpri com os vossos deveres e empregai o vosso amor em aproximar essa alma de Deus. Essa a missão que vos foi conferida e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente".

O assunto não passou despercebido a Emmanuel, que explica: "As noções religiosas, com a exemplificação dos mais altos deveres da vida, constituem a base de toda educação, no sagrado instituto da família" ("O Consolador", pergunta 108).

É de Kardec o seguinte depoimento: "É notável verificar que as crianças educadas nos princípios espíritas adquirem uma capacidade de raciocinar precoce que as torna infinitamente mais fáceis de serem conduzidas. Nós as vimos em grande número, de todas as idades e dos dois sexos, nas mais diversas famílias onde fomos recebidos e pudemos fazer essa observação pessoalmente. Isso não as priva da natural alegria, nem da jovialidade. Todavia, não existe nelas essa turbulência, essa teimosia, esses caprichos que tornam tantas outras insuportáveis. Pelo contrário, revelam um fundo de docilidade, de ternura e respeito filiais que as leva a obedecer sem esforço e as torna responsáveis nos estudos" ("Viagem Espírita em 1862", pág. 30).

- Qual é o fundamento filosófico da evangelização da criança?

Astolfo Olegário - O assunto foi tratado magistralmente pelo professor Humberto Mariotti em artigo publicado na Revista Educação Espírita, a respeito da Teoria Aparencial da Criança, um tema que Kardec já havia examinado na obra fundamental do Espiritismo ao ensinar que a criança aparece no mundo envergando a roupagem da inocência.

A Teoria Aparencial da Criança mostra-nos que precisamos enfrentar a questão da educação dessas criaturas inocentes com maior realismo, porque, se elas são inocentes apenas na aparência e escondem sua realidade íntima nas formas físicas em desenvolvimento, manda a boa lógica que as tratemos com mais desembaraço. Partindo do fato aparencial, Herculano Pires diz-nos que temos de encarar o desenvolvimento infantil como um processo psicológico de afloramento, não só de disposições culturais, mas também de conteúdos. Lembra-nos o saudoso escritor paulista que por trás da tábula rasa, da mente desprovida de qualquer conhecimento – uma idéia que nos veio do empirismo inglês – sabemos que existem as profundezas da memória espiritual, da consciência subliminar de que tratou Frederic Myers. Humberto Mariotti deixou isso bem claro em seu artigo. "Por trás de cada criança está o Ser com todos os seus graus de evolução palingenésica, pois para a Educação Espírita a infância é apenas uma etapa fugaz e cambiante e não uma condição permanente, espiritualmente considerada."

- Que importância têm os estudos de Myers sobre a consciência subliminar?

Astolfo Olegário – Importância muito grande. Segundo a tese de Frederic Myers, mais válida hoje do que em sua época, temos a mente supraliminar e a mente subliminar. Essa divisão corresponde aos conceitos de consciente e inconsciente da Psicanálise. Essa mente que se revela como algo mais profundo que a mente de relação é a que podemos chamar mente de profundidade.

Nossa mente de relação, que estabelece nossa relação com o mundo e com os outros, repousa sobre uma espécie de patamar, abaixo do qual se encontra a nossa mente de profundidade. Foi por isso que Myers chamou a mente de relação de consciência supraliminar e a mente de profundidade de consciência subliminar. A primeira está sobre o limiar da consciência, a segunda está abaixo desse limiar. Quando sentimos um impulso inconsciente ou temos um pressentimento, houve uma invasão, segundo Myers, da mente de relação pelas correntes psíquicas do pensamento e da emoção da mente de profundidade. Há uma relação constante entre as duas formas mentais, que aumenta na proporção em que se desenvolve o ser.

A educação espírita não pode limitar-se à mente de relação, que só representa um momento do ser. Herculano Pires tratou disso com muita clareza, ao explicar que em cada existência terrena o ser desenvolve certas potencialidades, mas a lei de inércia o retém numa posição determinada pelos limites da cultura em que se desenvolveu. Com a morte corporal ele volta ao mundo espiritual e tem uma nova existência nesse mundo, onde suas percepções se ampliam permitindo-lhe compreender que a sua perfectibilidade não tem limites.

Voltando a nova encarnação, ele pode reencetar com mais eficiência o desenvolvimento de sua perfectibilidade, mas, se não receber na vida terrena os estímulos necessários, poderá sentir-se novamente preso à condição da vida anterior na Terra, estacionando numa repetição de estágio. É isso o que se chama círculo vicioso da reencarnação. A evangelização da criatura humana desde o berço tem por função evitar que ela venha a cair nesse círculo.

- Há exemplos concretos comprobatórios da tese de Frederic Myers?

Astolfo Olegário – Sim. Jane Martins Vilela, em sua coluna no jornal O Imortal, reportou-se certa vez à manifestação de um Espírito que na sessão mediúnica declarou o seguinte: "Eu vim buscar ajuda, mas eu acho que não mereço". "Errei demais, fiz maldade demais. Estive num navio negreiro, onde mantinha a ordem no local. Usava um chicote com pontas de chumbo e o descarregava sobre os negros. Eu achava que aquilo era o certo. Nem os considerava gente. Castigava demais, abusei no poder. Desencarnei e percebi meu erro. Depois reencarnei num subúrbio do Rio de Janeiro, esqueci minha vontade de melhorar. Tornei-me um marginal dos piores. Matei, incitei pessoas ao uso de drogas. Fui preso e fiquei muito tempo no presídio, até que morri baleado lá. Estive muito tempo sofrendo, até que vi a luz que me direcionou para esta Casa. Eu sei que errei, fracassei nessas existências. Agora eu estou com medo de reencarnar, porque aqui no mundo espiritual vejo que tenho que melhorar, mas é só eu ganhar um corpo de carne, reencarnar, e vou errar tudo outra vez."

Ao ser orientado pelo esclarecedor, o Espírito perguntou-lhe: "Por que não tive acesso a essas informações tão belas que você me traz?" "Nunca ninguém, enquanto vivi, me falou assim. Eu só ouvia que tinha que me vingar e fazer com os outros o que fizeram comigo. E me ensinaram a usar arma desde cedo."

- E na literatura espírita, você se lembra de algum caso em que essa tese se aplique?

Astolfo Olegário – Claro, eles se contam em grande número como o que André Luiz, em seu livro Ação e Reação, cap. 16, relata acerca de Adelino Correia, o médium devotado ao bem que, no entanto, denotava a condição de trabalhador em experiências difíceis. Adelino apresentava longa faixa de eczema na pele à mostra. Certa porção da cabeça, os ouvidos e muitos pontos da face exibiam placas vermelhas, sobre as quais se formavam diminutas vesículas de sangue, ao passo que as demais regiões da epiderme surgiam gretadas, evidenciando uma afecção cutânea largamente cronicificada. Além disso, acanhado e tristonho, Adelino indicava tormentos ocultos a lhe dominarem a mente, embora seus olhos, maravilhosamente lúcidos, evidenciassem a marca da humildade.

Adelino fora, no passado, Martim, que matara o próprio pai e agora expiava em dura provação o crime cometido. O pai e ele eram companheiros inseparáveis nos jogos, nos estudos, no serviço e na caça, até que, quando contavam, respectivamente, 43 e 21 anos de idade, o genitor resolveu casar-se com uma jovem de grande metrópole, Maria Emília, na época com 20 anos. Martim, amado pelo pai e atraído pela jovem madrasta, passou a experimentar torturantes conflitos sentimentais. Ele, que até então se julgava o melhor amigo do pai, passou a detestá-lo, não lhe tolerando a posse sobre a mulher que desejava. Foi por isso que, auxiliado por dois capatazes de sua confiança e com aprovação da madrasta, administrou uma poção entorpecente no pai, que estava acamado naquele dia, provocando em seguida um incêndio no qual sua vítima indefesa veio a falecer. Morto o pai, Martim apoderou-se-lhe dos haveres e tentou a felicidade junto com Maria Emília, mas o genitor desencarnado, a inflamar-se em cólera, envolveu-o em nuvens de fluidos inflamados, contra os quais o infeliz não possuía defesa...

Arrependido e devotado, na esfera espiritual, aos serviços mais duros, Martim conquistara com o tempo apreciáveis lauréis que lhe permitiram voltar à esfera humana para iniciar o pagamento da larga dívida em que se onerou. Atirado a imensas dificuldades materiais, desde cedo cresceu órfão de pai, mas, custodiado por benfeitores da colônia, foi conduzido a uma casa espírita, ainda muito jovem, onde a leitura dos princípios espíritas constituiu para ele recordações naturais dos ensinamentos assimilados na colônia espiritual de onde viera. Foi assim, a partir do recebimento dos ensinamentos espíritas, que ele despertou para uma vida nova.

Tanto num caso, o do Espírito fracassado e temeroso de novos tentames reencarnatórios, quanto na história de Adelino, observa-se a importância dos estímulos a que se refere Herculano Pires para que a vida de relação seja enriquecida pelos princípios apreendidos no passado e enfatizados por ocasião da chamada programação reencarnatória.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita